Passado os primeiros 10 anos de carreira me peguei refletindo sobre que tipo de profissional sou hoje e qual tipo serei nos próximos 10 anos. Acho que tenho buscado me tornar um especialista em ser generalista. Me especializando em aprender e conseguir resolver problemas reais com as novas ferramentas adquiridas. Mas o curioso é que olhando as discussões em redes sociais vejo um certo receio sobre ser generalista e que se assemelha a ser um pato. A ideia de que um pato, faz tudo: anda, nada e voa. Porém não faz nenhuma dessas coisas direito.
É uma frase que carrega meias verdades, mas para fins didáticos vamos analisar sob outros aspectos, primeiro ponto é qual o objetivo de cada atividade dessa? Andar pode ser uma atividade somente com objetivo de deslocar do ponto A ao ponto B e talvez o andar desengonçado do pato ainda sim atinja o objetivo de forma satisfatória. Se sua vida dependesse disso, talvez apelaria para uma habilidade mais desenvolvida.
Com isso quero dizer que não necessariamente é algo ruim você desenvolver várias habilidades sem se aprofundar muito nelas, desde que consiga atingir os objetivos propostos.
Levo muito a ideia da proporção de Pareto, onde necessito de 20% de um conhecimento para resolver 80% dos problemas que envolvem aquele conhecimento para minha vida pessoal e profissional. Sempre gostei de estudar e aprender coisas novas e uma perspectiva de me manter no mesmo nicho de conhecimento, a vida toda, nunca me atraiu muito. O fato de ser curioso, de querer resolver problemas me ajudou a construir esse perfil generalista. E esse perfil me ajuda muito a poder olhar para outras áreas de conhecimento, próximas da minha, mas que se fosse trilhar um caminho de especialidade não teria tempo hábil para procurar compreender e estudar um pouco além da área que estaria focado.
Lógico que tenho um conjunto de áreas mais afins, mas passeio pelo maior número de informações sem me preocupar se estou fugindo ou não da trilha principal. Não faço isso a esmo, existe uma lógica para ter alguma efetividade no estudo, irei abordar isso em outro post. Mas a ideia aqui seria não restringir minhas opções e poder atuar de forma horizontalizada.
Isso não significa que ser generalista é melhor ou pior que ser especialista. Significa apenas que é uma opção e que pode fazer sentido para sua carreira. Acredito que a grande maioria das nossas decisões não são binárias, cada uma delas vai depender de um contexto, de um momento de vida e também não são cravadas em mármore, para nunca mais serem modificadas. É possível transitar entre esses modelos.
E quais são as vantagens de ser um generalista? Com base na minha experiência, posso destacar algumas, como (a mais óbvia) capacidade de atuar em diversas áreas e, assim, adquirir um conhecimento diversificado. Além disso, ser um generalista é uma vantagem para aqueles que, como eu, não gostam de ficar presos na mesma rotina por muito tempo, pois permite explorar diferentes desafios e oportunidades. Isso, por sua vez, contribui para o desenvolvimento de habilidades polivalentes.
Outra maneira de encarar essa questão é focar na criação de um impacto real em sua carreira, com base no ponto de vista de negócios, em vez de se concentrar apenas em habilidades e conhecimentos específicos. Isso significa que você pode direcionar sua trajetória profissional com base no valor que pode agregar, em vez de estar “limitado” a uma única área de especialização.
Um exemplo pessoal que posso compartilhar é a minha experiência como desenvolvedor. Inicialmente, foquei meus estudos em desenvolvimento, mas ao longo do tempo, meu interesse se voltou para DevOps e infraestrutura. Investi tempo estudando e experimentando em ambientes locais, e quando surgiu a oportunidade, comecei a lidar com as demandas de infraestrutura e a solucionar problemas persistentes em minha área de atuação. Esse processo de exploração e aprendizado me permitiu não apenas desenvolver minhas habilidades, mas também capacitar outras pessoas a enfrentarem desafios semelhantes. Essa jornada trouxe um valor significativo à minha carreira, pois desbravar novos caminhos, aprender com os erros e criar soluções onde antes não existiam resultou em um crescimento substancial. Portanto, ser um generalista pode abrir portas para oportunidades inesperadas e contribuir para o seu sucesso profissional de maneiras que você talvez não tenha previsto.
Posso ainda falar de experiências semelhantes mesmo dentro da linha de desenvolvimento, atuando com mobile, web, desktop, mas o ponto é que existem diversos caminhos para se experimentar e por vezes, vivenciar o caminho pode ser a melhor forma de saber se gosta ou não daquele tipo de desafio.
Invariavelmente, com o tempo, você irá ganhar algum nível de profundidade nos assuntos que passar mais tempo de convívio. Olha só, outra vantagem, agora além de ter conhecimentos horizontais de uma variedade de temas agora tem um nível de especialização em algum assunto. Lógico, que ao se comparar com alguém que se especializou somente no assunto, o nível de profundidade não é equiparável, mas novamente, na sua carreira, você realmente precisa dessa profundidade de conhecimento? Você quer isso? Ou o nível de especialização alcançado basta para resolver os problemas e continuar evoluindo?
O objetivo desse texto não era trazer nada conclusivo, apenas trazer uma perspectiva de que a sua carreira: é sua. E existem muitos caminhos que são possíveis.
Aviso: se você, que lê esse texto nesse momento, está iniciando na carreira talvez essa não seja a abordagem ideal. Quando iniciei, também foquei esforços mais direcionados, mas a partir do momento em que já me sentia mais confortável com meu ponto focal naquele momento, passava a me guiar pela curiosidade, pelo desejo de aprender outras coisas e de ficar animado ao descobrir como as tecnologias funcionam em diferentes aspectos.
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Também tenho o mesmo perfil, generalista. Essa sempre foi minha forma de conhecer o mundo, sempre quis saber algo sobre muitas coisas e foi o que me fez gostar tanto de tecnologia. Há uns dias reli o livro dos cinco anéis de Miyamoto Musashi e nele há uma frase que resume bem esse modelo de saber as coisas: "Para saber dez mil coisa, saiba uma primeiro". Assim, é importante que se tenha contato com muitas ferramentas, frameworks, processos, linguagens, mas tudo começa em saber pelo menos uma dessas coisas e se possível, saber bem.
Muito interessante seu post e o recado final é a cereja do bolo.
Abraço.