Na cidade ou no campo, plataformas on-line e sistemas integrados de gestão estão entre apostas das instituições
Por Bruno Rosa — Rio
31/07/2023 04h30
Com a chegada do 5G e da inteligência artificial aos negócios, as cooperativas vêm buscando a digitalização de seus processos. Softwares, sistemas integrados de internet em alta velocidade e tecnologias com dados em tempo real para aumentar a produtividade são apenas alguns dos recursos que estão sendo utilizados Brasil afora.
A Graffiti Transfers & Tours, cooperativa de serviços de transporte executivo e de turismo na cidade do Rio, investiu no desenvolvimento de um aplicativo de reservas de transfer que atende pessoas físicas e empresas. Em um ano, o app já responde por 10% do total das reservas
— A adoção de ferramentas digitais na rotina organizacional oferece uma ampla gama de benefícios que impulsionam a escala do negócio, ao mesmo tempo em que possibilita economia a longo prazo — diz Miqueias Zacarias, presidente da cooperativa.
O aplicativo, batizado de Chauffeur Graffiti (do francês, motorista), está disponível apenas no Rio por enquanto, mas em breve vai ser implementado em outras cidades, como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Na capital carioca, são 40 cooperados.
Vinicius Mesquita, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) no Rio de Janeiro, avalia que as cooperativas vêm ampliando a busca por sistemas para aumentar a competitividade:
— Em todos os setores, as cooperativas têm investido em tecnologias para seus processos produtivos. Temos assistido também ao nascimento de cooperativas que têm seus negócios integralmente baseados no digital. No Rio, as cooperativas de táxi têm trabalhado praticamente online, pois tiveram de enfrentar a concorrência dos aplicativos e se adaptaram para sobreviver.
A CoopeTaxi é um exemplo. O aplicativo da cooperativa é mais uma ferramenta para atrair usuários, que podem pedir um carro pelo celular.
— Nossa ideia é ampliar nosso número de clientes. Já temos cerca de 30 profissionais. Nossa plataforma já representa 15% das corridas — diz Antonio Shuler Amaral, presidente da CoopeTaxi.
A inovação também está presente no campo. Como na Cooperativa dos Agricultores Familiares do Baixo Sul (Coopafbasul), que atua na cadeia produtiva do cacau em amêndoas, guaraná em grãos, cravo, pupunha, seringueira, urucum e piaçava na Bahia.
— Investimos em plataformas de assistência técnica, calibragem do solo, certificações, rastreabilidade e infraestrutura para beneficiamento do produto visando à qualidade final. Essas tecnologias podem ajudar a melhorar a eficiência, a produtividade e a rentabilidade da agricultura familiar, contribuindo para a sustentabilidade e o crescimento desse setor — diz Gileno Araújo dos Santos, diretor-executivo da Coopafbasul.
Proteção de dados
Ele explica que o investimento foi necessário com a chegada ao mercado internacional. A cooperativa vende seus produtos para países como França, Estados Unidos e Egito. E está em negociação para chegar à China e Indonésia. A cada ano, ela investe 20% do fundo de reserva em tecnologia. Em 2023, o percentual chegará a 30%.
Outro exemplo vem do Sul. A Cotrijal está presente em 53 municípios gaúchos, com 79 unidades de recebimento de grãos, além de unidade de beneficiamento de sementes, fábrica de rações, supermercados e um atacado. São ao todo 16 mil associados. Para Marcelo Ivan Schwalbert, superintendente administrativo-financeiro e coordenador do time de inovação da Cotrijal, investir em tecnologia é caminho sem volta no setor.
São várias iniciativas. Ele cita a criação do Portal do Produtor, no qual os cooperados podem acessar todos os dados de suas propriedades, como índices de produtividade, informações sobre grãos e insumos, previsão do tempo e histórico do clima. Há também a Supercampo, plataforma de comércio virtual que atende mais de 80 mil cooperados no Brasil, um projeto da Cotrijal e outras 11 cooperativas.
— Além disso, em tempos de LGPD (a Lei Geral de Proteção de Dados), é fundamental que cooperativas tenham como foco questões de governança e segurança de dados, para proteger tanto a instituição quanto seus associados — afirma Schwalbert.
Nas cooperativas de TI, demanda é crescente
Com a demanda por soluções de tecnologia em alta, cooperativas especializadas em oferecer plataformas de conectividade e softwares crescem no Brasil. É o caso da LibreCode, com sede em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e formada por 16 profissionais especializados em diferentes áreas de Tecnologia da Informação (TI).
— Temos percebido considerável aumento na procura. Essa demanda vem avançando de forma significativa a cada ano, refletindo o desejo de pessoas e empresas em buscar inovação e eficiência através da adoção de soluções tecnológicas desenvolvidas por cooperativas, que trazem impacto social positivo em suas atividades e segurança de dados. Esse aumento tem contribuído para o substancial crescimento do nosso faturamento anual — diz a presidente da cooperativa, Daiane Alves.
Ela cita a maior procura por plataformas voltadas para a gestão integrada, como sistemas para gestão de escritório na nuvem, ferramentas de colaboração, programas de videoconferência, além de aplicativos para gestão de documentos, assinatura digital e projetos. Para Daiane, a inovação tecnológica é essencial para acompanhar as demandas do mercado:
— Essas soluções oferecem maior agilidade nas operações e facilitam a comunicação e compartilhamento de informações entre os membros da cooperativa. Empresas com foco em tecnologia no planejamento estratégico tendem a ter um crescimento mais expressivo, pois conseguem otimizar seus processos e tomar decisões estratégicas com base em dados.
Agilidade nos processos
A Ticoop Brasil, com sede em Curitiba, no Paraná, também verifica uma procura crescente. Formada por profissionais em Tecnologia da Informação, a co-operativa, diz seu presidente Tiago Enrique dos Santos Rodrigues e Silva, já atua em todo o país. Para ele, o aumento da competitividade no mercado obriga as cooperativas a serem mais eficientes e a produzirem mais com menos recursos.
— As cooperativas têm encontrado na tecnologia grande apoio para impulsionar o crescimento dos negócios e fortalecer a presença no mercado. Para qualquer ramo de atividade, o uso de algoritmos, de dados e inteligência artificial permite identificar padrões, tendências e prever cenários. Com informações precisas, os gestores podem tomar decisões mais fundamentadas e implementar ações corretivas de forma ágil. A transformação digital das empresas passa por um processo de mudança de cultura e de adaptação. A transformação é urgente.
Silva lembra que, hoje, a procura está direcionada para novas tecnologias:
— Hoje a visão estratégica das empresas está voltada para a adoção de ferramentas e soluções tecnológicas adequadas ao seu ramo de negócio para enfrentar desafios e aproveitar as oportunidades.
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