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Marcos Felipe
Marcos Felipe

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Do presencial ao remoto

Photo by Patrick Perkins on Unsplash

O modelo de trabalho remoto vem crescendo cada vez mais, seja por empresas que tenha apenas esse modelo, ou empresas que oferecem os 2 modelos de trabalho. Além disso, devido aos acontecimentos recentes, muitas empresas que tinham um modelo de trabalho presencial estão migrando para o remoto, mesmo que seja experimental ou temporário.

Se você está passando por essa mudança, mesmo que seja temporário ou trocando de emprego, é importante saber que cada pessoa reage de uma maneira diferente. Tem pessoas que na mudança vão se sentir produtivas, confiantes e satisfeitas e outras já podem se sentir improdutivas, aterrorizadas ou insatisfeitas.

A ideia deste artigo é apresentar algumas dicas baseado na minha experiência e aprendizado que podem ser interessantes para você nessa migração. Caso você esteja se sentindo perdido, esteja com um pouco de medo do novo modelo de trabalho ou está apenas procurando outros pontos de vista, talvez eu possa te ajudar. Mesmo com essas dicas é importante ressaltar que não existe um caminho único e mágico a ser seguido, cada pessoa se comporta de uma maneira, cada empresa tem processos de trabalho diferentes, por isso analisar a situação é mais importante do que procurar soluções de ouro.

Quando falo em analisar a situação, quero dizer especificamente em você analisar a si mesmo e entender como você trabalha. Observe como você trabalhava presencial, quais eram suas maiores dores e felicidades e tente imaginar quais características você deve se importar (tanto para evitar quanto para manter). Essa analise pessoal pode ser um pouco difícil no começo, mas é para isso que esse artigo foi escrito, para mostrar alguns pontos interessantes que devemos levar em conta.

Rotina

A maioria dos artigos que você encontra quando pesquisa “dicas para trabalho remoto”, dizem que você deve definir uma rotina. Bom isso pode ser um pouco de verdade, mas esses tipos de soluções prontas muitas vezes não explicam a razão para se utilizar essa abordagem, e se não tem o motivo, como você sabe se isso serve para você?

Ter uma rotina na grande maioria dos casos será algo extremamente necessário, pois o seu horário de trabalho não influencia apenas na empresa mas também nas suas atividades pessoais. Essa definição de horário de trabalho pode te ajudar a definir como será a sua manhã, ou te ajudar a evitar trabalhar excessivamente. Definir o quão restrito será essa rotina também vai depender muito da sua empresa e de você. Tem empresas que funcionam em vários fuso-horários e conseguem manter uma comunicação assíncrona onde permite que cada funcionário se auto-gerencie, outras já oferecem um horário um pouco flexível e outras já determinam o horário a ser cumprido. Pode ser que mesmo com a empresa um pouco flexível ela exija que você informe uma faixa de horário que você vai estar disponível para comunicação, e mesmo que a empresa seja totalmente flexível, talvez você funcione melhor com rotinas bem definidas.

Se você está começando em uma empresa nova, primeiro tente entender como ela já funciona, mas se é uma empresa que está apenas migrando do presencial para o remoto, é bem provável que a rotina seja bem parecida, pois quanto menor o impacto mais fácil é a adaptação dos funcionários e da empresa.

Quando falamos em rotina, queremos dizer aquilo acontece sempre, então faz mais sentido começarmos definindo a nossa rotina com aquilo que se repete. Se a sua empresa já tem os horários definidos, seja de reuniões, rituais de scrum ou horários a ser cumprido, é bem provável que a sua rotina se adapte aos horários já definidos.

Como já sabemos, precisamos entender as dores e as felicidades que existiam no modelo presencial. Para muitos ao começar com o trabalho remoto a primeira coisa que pensam é “vou acordar 5 minutos antes de começar a trabalhar”, mas você sabe o que isso impacta em você? Se você é uma pessoa que precisa de um tempo para acordar para poder começar a produzir algo, pode ser que você se sinta menos produtivo pela manhã ao seguir essa ideia. Isso não quer dizer que você precisa ser radical e seguir exatamente a mesma rotina, afinal de contas um dos pontos mais positivos do trabalho remoto é a qualidade de vida. Se com o modelo presencial você levava 3 horas para chegar no trabalho, isso não quer dizer que você precisa acordar 3 horas antes no modelo de trabalho remoto, talvez acordar meia-hora antes tenha o efeito que você precisa.

Durante essa caminhada do trabalho remoto, é quase inevitável que você irá encontrar dicas ou alguém irá te dizer coisas como: “tenha um local de trabalho específico” ou “troque de roupa para começar a trabalhar”. Essas dicas são importantes pois podem te ajudar a evitar dores de cabeça que outras pessoas já tiveram, porém como já falamos, escondem o real motivo delas existirem.

Para algumas pessoas trocar de roupa para começar a trabalhar pode ser necessário, pois pode passar o sentimento de estar em um escritório, mas para outros isso é extremamente desnecessário. Se você não precisa estar com uma roupa específica durante uma video-conferência (ou não tem uma video-conferência) e não tem essa necessidade de experiência de escritório, por que seguir essa dica? Trabalhar remoto está ligado mais ao seu profissionalismo do que com a roupa que você utiliza.

Ter um escritório (entenda escritório como local específico de trabalho), pode ser útil para quem precisa se sentir “desligado” ao sair do ambiente, ou precisa de privacidade. Quando trabalhamos no modelo presencial, na maioria dos casos a empresa já definiu onde você irá trabalhar, qual cadeira você vai utilizar, a sala já pode estar equipada com tudo que você precisa (ar condicionado, álcool em gel, etc.), porém quando você vai para o modelo remoto, todas essas questões tem que ser decididas por você, seja diretamente ou indiretamente. Você pode optar por trabalhar em co-workings, mas ainda sim é uma escolha sua baseado nesses pontos (e em outros também). É preciso saber quais são as necessidades que você tem para poder trabalhar sem incômodos. Quase todo mundo no início começa trabalhando da mesa da cozinha, no sofá na sala ou na cama no quarto, se dessa maneira você não tem dores nas costas, interrupções e consegue desempenhar um bom trabalho, sem problemas.

Por isso o auto-conhecimento é extramente importante, e se essas respostas ainda não estão respondidas por você, o único jeito é ir tentando aos poucos, mas sempre se observando.

Produtividade

Acredito que produtividade seja o ponto mais impactante quando trabalhamos com essa migração. A maioria das notícias que lemos sobre trabalho remoto são voltadas em como os profissionais se tornam produtivos em trabalho remoto. Sabendo desse detalhe muitas empresas podem acreditar que terão mais entregas ao adotar esse modelo, ou até mesmo você pode se assustar quando perceber que no começo não está produtivo igual antes.

No começo é totalmente normal se sentir menos produtivo. A migração entre esses modelos é algo muito impactante, agora a comunicação com o seu time é diferente, você não consegue mais chegar na mesa do lado e chamar pelo colega para te ajudar em um problema, ter um auto-gerenciamento agora é mais necessário, as interrupções agora são outras e obviamente tudo isso impacta na sua produtividade (ou na sua percepção de produtividade).

Distrações, na maioria dos casos, são inevitáveis, tanto no modelo presencial quanto no remoto. A questão é entender como esses pontos que impactam na sua produtividade podem ser reduzidos. Se você é muito interrompido pela sua família enquanto trabalha em casa, um acordo é extremamente necessário. Se os elementos que estão no seu ambiente de trabalho chamam a sua atenção constantemente, tente mudar o local de trabalho.

Por mais que a queda de produtividade seja uma constante, ela não vai se resolver magicamente. É necessário enfrentar os problemas que impactam essa queda de produtividade. Quando falo em enfrentar os problemas é tentar evitar que eles aconteçam e não tentar ser produtivo mesmo com os problemas ainda existindo. O artigo “10 lições que aprendi sobre trabalho remoto em 4 anos com um time distribuído” escrito pela Victoria Haidamus, diz que “Horas trabalhadas não são métricas de sucesso”. Não é porque você foi interrompido muito pela sua família e atrasou a entrega de uma atividade importante que você deve trabalhar 12 horas por dia, desse jeito você está apenas evitando o problema, ao invés de resolve-lo. É preciso muito cuidado no começo para não cair no falso dilema de que é preciso trabalhar mais que o horário definido para ser produtivo no remoto.

Comunicação

Até mesmo empresas que sempre trabalharam remotas em algum momento enfrentaram (ou ainda enfrentam) o problema de comunicação. A comunicação no modelo remoto é totalmente assíncrona, diferente de estar presencial com o time onde você pode interromper (e atrapalhar) o colega de trabalho para tirar uma dúvida. Aprender a lidar com esse tipo de comunicação é algo extremamente difícil. Tem pessoas que precisam de um contato mais próximo e tem outras pessoas que já conseguem trabalhar mais sozinhas. Cada tipo de pessoa vai ser impactada de uma maneira.

Por ser uma comunicação assíncrona, muitas vezes ela acontece por texto, o que pode dificultar a explicação em certos casos. Tem pessoas que tem facilidade em se comunicar com texto (seja escrevendo ou lendo), outras já não, e tudo bem também. Se você é uma pessoa que tem dificuldades em se comunicar com texto, ou entende que a outra pessoa com quem precisa se comunicar vai entender melhor de outra forma, talvez seja inevitável chama-lá para uma chamada. Por mais que na maioria das vezes fazer as chamadas podem facilitar essa barreira da comunicação assíncrona, ainda sim é necessário respeitar essa característica. Não é chegar ligando já para a pessoa e esperar que ela atenda. Cada pessoa tem uma rotina diferente, pode ser que ela esteja online mas está na cozinha bebendo água. Por isso é necessário respeitar a rotina de cada um.

Ao lidar com esse modelo de comunicação, o nosso trabalho também deve se adaptar. Caso aconteça muito da equipe ficar “bloqueada” esperando a resposta de alguém, talvez isso seja mais um problema de processo do que de comunicação. Você pode simplesmente pegar outra atividade enquanto espera a resposta para poder continuar a sua. São nessas situações que o auto-gerenciamento são necessário, você precisa saber se gerenciar para poder lidar com essas características que são inevitáveis.

A falta de comunicação no dia-a-dia também pode ser um impacto para você. Se você saiu de um modelo presencial para ir trabalhar em casa e é uma pessoa que precisa de um contato mais próximo com as pessoas (seja para jogar conversa fora ou tirar dúvidas), pode ser que você seja bastante impactado. Sentir falta de se comunicar com pessoas durante o dia devido a uma mudança tão rápida pode ser algo bem comum. Um estudo feito pela A.T. Kearney diz que o número de trabalhadores remotos cresceu 115% entre 2008 e 2018, e que são justamente esses colaboradores os mais propensos a desistir do trabalho por causa da solidão. A sua adaptação da rotina pode mudar conforme esses sentimentos vão vindo, pode ser que agora você comece a fazer mais atividades com seus amigos fora do horário de trabalho para começar a ver pessoas.

Os impactos vão acontecer, seja de comunicação, produtividade ou alteração de rotina, mas cabe você à lidar com eles e entender se esse modelo faz sentido para você. Quando comecei a trabalhar remoto eu me senti muito improdutivo e solitário pois sentia falta da comunicação diária com as pessoas, com o passar do tempo fui aprendendo que a improdutividade minha estava ligada mais a falta de percepção das coisas que eu estava fazendo, já a solidão era um pensamento limitado que quando começado a questionar foi possível concluir que eu continuava mantendo contato com algumas pessoas, ele era menor com certeza, mas ainda sim existia. Mesmo com esses problemas apontados não quer dizer que o trabalho remoto é ruim, muito pelo contrário, hoje eu acredito que dificilmente eu trocaria esse modelo de trabalho. Com remoto também temos muitas vantagens como: qualidade de vida, redução de custo, liberdade de local de trabalho (não que isso ocorra sempre comigo), flexibilidade, entre outras coisas. Por isso cabe a você ter o autoconhecimento e colocar na sua balança para entender qual o lado que vale mais a pena para você.

Espero que isso te ajude de alguma forma.

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