Conquistar meu primeiro estágio foi um divisor de águas na minha carreira como Analista Desenvolvedor. Neste artigo, compartilho a jornada intensa e transformadora que me levou a essa oportunidade que mudou o rumo da minha vida profissional. Vou detalhar os desafios e as estratégias que me permitiram entrar na área de tecnologia, desde os primeiros passos até a realização de um sonho que parecia distante.
Além disso, vou explorar como essa experiência foi fundamental para moldar minha trajetória, proporcionando não apenas o conhecimento técnico necessário, mas também a confiança para enfrentar novos desafios. Meu objetivo é mostrar a importância desse estágio inicial e como ele abriu portas que eu sequer imaginava serem possíveis.
Vendedor de livros
Ao concluir o ensino médio, me vi diante de duas escolhas: continuar trabalhando como designer de bordados em uma fábrica de confecções e moda, ou iniciar uma faculdade. Naquele momento, eu era o típico jovem rebelde, cheio de sonhos e incertezas, como um autor inspirado demais para escolher apenas uma história. Foi então que conheci um pastor, um homem que mudou minha trajetória ao me apresentar um projeto da igreja que enviava jovens por todo o Brasil para vender livros e financiar a faculdade dos seus sonhos.
Mas como eu poderia embarcar nesse projeto se nem ao menos sabia o que queria cursar? Primeiro pensei em administração, depois teologia. Após muitas conversas com minha companheira, decidi me aventurar. E que desafio foi! Parti para uma cidade desconhecida, Guarabira, na Paraíba, sem saber ao certo onde ficava a república que me abrigaria. Na rodoviária, subi em um moto táxi e percorri as ruas com um endereço mal escrito em mãos, até que avistei outros jovens com as camisetas do projeto. Foi aí que percebi que, apesar do medo e da confusão, eu tinha encontrado meu lugar. Passei dois longos anos mudando de cidade em cidade, vendendo livros e economizando para realizar o sonho de cursar teologia. Esse período foi um teste de resiliência e persistência que transformou minha vida. Em outro artigo, contarei com detalhes a saga desse jovem vendedor de livros, mas por ora, deixo registrado: quando voltei para minha cidade natal, a ficha finalmente caiu.
Desempregado
Eu me encontrava sem emprego, com um sonho de faculdade que já não brilhava mais como antes. A perspectiva de voltar a um trabalho que me deixava insatisfeito e sem futuro parecia cada vez mais iminente. Foi então que surgiu uma nova oportunidade: um curso técnico em informática. Ao ver o panfleto, fui tomado por uma lembrança de infância. Desde os 7 anos, sempre gostei de mexer em computadores e fiz vários cursos básicos na área. Decidi, então, me inscrever e iniciar essa nova jornada.
No curso, como muitos, fui seduzido pela promessa de um estágio garantido e um mercado aquecido para os formados naquela instituição. No entanto, a realidade foi outra. As portas começaram a se fechar, e a desilusão trouxe noites mal dormidas. Mas, ao refletir sobre minha experiência como vendedor de livros, percebi que, além de habilidades de escrita e cálculo, eu tinha desenvolvido uma competência valiosa: a habilidade de relacionamento interpessoal. Foi nesse momento que comecei a fazer networking, embora na época eu nem soubesse o que essa palavra significava.
Tudo começou com os colegas de sala. Propus projetos para ganhar dinheiro sempre que adquiríamos novos conhecimentos em uma matéria. Um dos projetos foi refazer a estrutura de redes do prédio do curso como parte da disciplina de redes. Esse trabalho chamou a atenção de professores e funcionários, que começaram a nos enviar "vagas de TI" dentro e fora da instituição. Mas, apesar das oportunidades, eu sentia que ainda não estava onde queria. Meu desejo era programar. Assim como um designer cria roupas ou estampas, ou um bordador dá vida aos fios, eu queria ser um artesão de códigos.
Sentando na frente
Então, surgiu uma disciplina que mudaria minha trajetória: Gerenciamento de Sistemas Operacionais, ou algo assim. O professor Givaldo Junior, uma figura que logo se tornaria um mentor, estava começando a lecionar, mas já tinha uma vasta experiência no mercado, liderando equipes e talentos. Percebi rapidamente a oportunidade que tinha diante de mim e decidi me aproximar. Passei a chegar mais cedo às aulas e a sentar na frente, determinado a absorver ao máximo todo o conhecimento que ele compartilhava. Em uma dessas aulas, ele mencionou casualmente: "Onde trabalho, vai abrir uma vaga de estagiário."
Isso acendeu um brilho nos meus olhos. Convenci meus colegas de turma que aquela vaga deveria ser disputada entre nós, antes mesmo de ser aberta ao público. Precisávamos mostrar ao professor que éramos as pessoas certas para aquela oportunidade. E deu certo! Eu e alguns amigos fomos selecionados para a segunda etapa do processo seletivo: uma prova.
Lá estávamos nós, em uma sala cheia de candidatos, prontos para enfrentar o desafio. Tínhamos que falar sobre nós mesmos e responder algumas perguntas. Era minha primeira experiência real em um processo seletivo para uma grande empresa do meu estado, e a pressão era palpável. Felizmente, passei com sucesso no teste prático, mas a etapa seguinte me deixava com borboletas no estômago: as entrevistas.
Conseguindo a vaga
Quando meu nome apareceu entre os finalistas, senti uma onda de alívio e satisfação. Meu professor, que também seria meu futuro coordenador, falou sobre mim para a recrutadora do RH, destacando nossas interações e o que ele tinha observado em sala de aula. Quando ela mencionou isso durante nossa conversa, senti uma calma inesperada. Eu tinha sido visto, reconhecido, e isso me deu confiança para continuar no processo.
Após uma breve conversa, ela me informou que eu teria uma entrevista com o coordenador do setor. Sorri, sabendo que essa conversa seria mais tranquila, pois já conhecia bem meu entrevistador. A entrevista foi excelente; ele queria saber mais sobre quem eu era fora da sala de aula. Ele já tinha visto meu desempenho acadêmico e meus projetos pessoais - desde tentativas de criar um site para uma padaria até sistemas de PDV para lojas. Ele sabia que eu sempre estava envolvido em algo, buscando criar e inovar com meus colegas.
Quando finalmente recebi o tão esperado "sim" para a vaga, compreendi algo fundamental: em qualquer lugar que eu estivesse, eu poderia mostrar o quão dedicado e apaixonado sou pelo que faço. Cada pergunta feita em sala, cada noite mal dormida estudando, cada pedido de ajuda aos professores nos meus projetos pessoais, tudo contribuiu para construir um "outdoor" sobre quem eu sou como profissional.
Essa experiência me ensinou que as oportunidades podem surgir nos lugares mais inesperados. Por isso, é crucial estar sempre à vista, agir como se cada dia fosse uma entrevista de emprego, e sempre dar o seu melhor. Coloque seus sonhos como base para seu comportamento, sua proatividade, e para tudo que é necessário na construção do seu caráter.
Uma porta
Assim que entrei no estágio como assistente de suporte, mergulhei de cabeça no ambiente da empresa. Eu queria ser mais do que apenas um estagiário; queria ser o aluno do curso técnico que o professor havia visto como um diferencial, agora em ação dentro da organização. Fui proativo, buscava conhecimento além das minhas funções, e, quando questionado, respondia com confiança: "Um dia estarei nessa posição, e quero saber como devo atuar." Essa mentalidade me levou a alcançar algo inédito no setor: fui o primeiro estagiário a ser efetivado na empresa.
Uma coisa que levo comigo até hoje é a facilidade em me relacionar bem com as pessoas, mesmo diante de desafios internos. A proatividade, aliada à responsabilidade, nunca foi um esforço exagerado para aquele jovem vendedor de livros que, agora, se via em um escritório, sem o sol queimando sua cabeça, sem a necessidade de vender um livro pela manhã para poder comer à noite. As dificuldades que enfrentei não foram alavancas poéticas, como muitos gostam de romantizar. Elas foram o resultado das minhas escolhas, ferramentas que usei para construir o meu futuro.
Não é a dificuldade que garante o seu empenho, mas sim a sua força de vontade. Por isso, não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje. Não adie para a próxima aula, para o fim de semana, ou para a hora em que encontrar o professor na sala dos docentes. Aja agora, pois cada momento é único, e a qualquer instante pode surgir a oportunidade que mudará sua vida.
Conclusão
Graças a esse estágio, consegui cursar uma faculdade, financiando meus estudos com o salário que ganhava, e ainda utilizei o dinheiro economizado da venda de livros para comprar um apartamento e começar a construir uma família. Fui efetivado, promovido, e promovido novamente. Foram cinco anos em uma empresa que me treinou, me ofereceu cursos, e moldou a pessoa e o profissional que sou hoje. Aprendi a escrever melhor, a falar com mais clareza, a mudar quando necessário, e a manter firmeza quando o ideal se apresentava.
Foi esse estágio que me inseriu no universo da tecnologia e me fez enxergar um futuro que antes parecia distante para um jovem rebelde que mal conseguia imaginar o que o aguardava. Hoje, sou Analista Desenvolvedor, pós-graduado em Gestão de TI, trabalho para uma empresa multinacional presente em toda a América Latina, e fundei uma startup ao lado dos amigos e colegas de turma, que hoje possui produtos no mercado e atrai investimentos.
Agradeço imensamente a esse estágio, que virou minha vida de cabeça para baixo e me trouxe até aqui. Minha dica é: não tenha medo de começar pelo suporte ou em uma função correlata àquela que você almeja. Tente, se jogue, faça-se notar, mostre que você é capaz de realizar qualquer coisa que desejar. As portas irão se abrir, mesmo que não seja no seu tempo. Saia do seu quarto de vez em quando para um evento de tecnologia, crie um site e doe para uma padaria local, tenha um trabalho para mostrar - seja um outdoor!
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Isso foi tipo um documentário de superação e vitória 👏👏👏
Agradeço o feedback e já anseio novos posts!