Como começar um produto do zero

Criar um produto do zero pode ser uma experiência tão desafiadora quanto gratificante. Ao longo da minha jornada como desenvolvedor, enfrentei muitas decisões e obstáculos para transformar ideias em produtos reais. Ao longo do caminho, aprendi o que funcionou para mim e, neste artigo, quero compartilhar essas lições.

Não existe uma fórmula mágica para o sucesso, mas algumas práticas e abordagens podem ajudar a guiar o processo. Vou falar sobre como identificar um problema, validar ideias, planejar o desenvolvimento e, eventualmente, lançar um produto no mercado. Este guia é baseado na minha própria experiência e, embora nem tudo funcione para todos, espero que ele possa ser um ponto de partida útil para quem deseja começar seu próprio produto do zero.

Identificação do Problema

Identificar um problema real pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, você pode acabar enxergando problemas em tudo apenas para justificar a criação de um produto, o que pode levar ao desperdício de tempo e energia em soluções que já nascem falhas. Por outro lado, a ideia de um novo produto pode surgir de forma espontânea - como se você estivesse andando na rua e pensasse em criar um aplicativo que mapeie todas as ruas do mundo, permitindo que as pessoas se orientem melhor. Para encontrar o equilíbrio, a dica de ouro é: um problema real deve afetar mais pessoas, e não apenas você, seus amigos ou o seu círculo imediato.

Vamos exemplificar o que é um problema de fato: imagine que você tem um gato chamado Miau, que precisa se curvar muito para comer, o que começa a causar problemas na coluna dele. Você tenta resolver isso elevando o recipiente de comida, mas logo percebe que o mesmo acontece quando ele bebe água. Agora você identificou uma reincidência, e, curiosamente, sua namorada enfrenta o mesmo problema com o pet dela.

Quando um incômodo se torna recorrente e afeta coletivamente um grupo - seja uma empresa, um grupo de indivíduos ou até mesmo um conjunto de aplicações - , então estamos diante de um problema real que merece atenção. É nesse ponto que você deve dedicar seu foco e tempo, refletindo sobre a causa do problema e a melhor maneira de resolvê-lo.

Definição da Proposta de Valor

Ao identificar um problema segundo a ITIL, você deve seguir alguns passos para escolher a melhor solução. Esses passos incluem: identificação do problema, registro do problema, classificação e priorização, investigação e diagnóstico, definição de uma solução de contorno, identificação de uma solução definitiva, implementação da solução, revisão e fechamento do problema, e monitoramento e melhoria contínua.

Parece uma lista interminável, não é mesmo? Eu aprendi isso trabalhando como Assistente de Suporte em uma empresa onde gerenciávamos incidentes. Embora o processo geralmente funcionasse, ele podia ser longo e cansativo. Foi assim que decidi simplificar esses conceitos para aplicá-los ao desenvolvimento de produtos.

De forma resumida, o processo pode ser dividido em algumas etapas:

1. Identificação do Problema: Reconhecer algo que causa incidentes recorrentes e afeta mais pessoas além de você.
2. Diagnóstico: Entender as causas reais do problema, e não apenas os sintomas aparentes. Por exemplo, se o pensamento sobre a causa do problema fosse "o gato é grande demais para a vasilha, vou adotar um mais baixo", não faria sentido algum continuar com essa via de pensamento.
3. Análise de Soluções: Identificar pelo menos duas soluções possíveis. A primeira geralmente é mais intuitiva e menos elaborada. Esforce-se para pensar em uma segunda ou até terceira opção.
4. Implementação: Colocar as soluções em prática. Crie um MVP (Produto Mínimo Viável) e teste se a ideia faz sentido e se há potencial na visão dos usuários. Comece com pequenas ações, como colocar um suporte embaixo da vasilha antes de criar um molde completamente novo.

Ao seguir esses passos, você pode aplicar os princípios da ITIL de maneira mais prática e eficaz em diferentes contextos, inclusive na criação de produtos.

Validação da Ideia

Chegamos a um ponto crucial: gastar pouco tempo desenvolvendo um MVP. Com base na minha experiência, um mês é o tempo ideal. Em projetos anteriores, vi várias iniciativas fracassarem simplesmente porque o desenvolvimento do MVP levou muito tempo. Quando você trabalha em um ambiente ágil, com Sprints, ou com uma diretoria que espera resultados rápidos, você percebe como as coisas podem ser feitas de forma mais eficiente do que se imaginava.

Portanto, foque em construir o MVP no menor tempo possível. Você precisa validar rapidamente se a sua solução faz sentido, se pode ser implementada com as tecnologias que você conhece e, acima de tudo, se o seu público-alvo realmente aceitará a sua solução. Lembre-se do exemplo do gato que prefere brincar com a caixa da embalagem ao invés da cama cara que você acabou de comprar.

Planejamento e Definição de Requisitos

Quando você começa a colocar a mão na massa, é essencial ter um planejamento mínimo. Não é necessário implementar um processo ágil de desenvolvimento perfeito ou criar um sistema de tarefas tão detalhado que faça inveja aos maiores grupos de tecnologia. O importante é ter uma direção clara e saber qual caminho seguir.

Não adianta ter um MVP se ele não aborda os aspectos fundamentais da solução que você está tentando desenvolver. É recomendável conversar com pessoas que enfrentam o mesmo problema e entender como elas estão lidando com isso, quais soluções alternativas estão aplicando no dia a dia. Use essas informações para levantar e definir os requisitos essenciais.

Depois, coloque todos esses requisitos em um papel e avalie o tempo disponível. Por exemplo, se você tem 5 requisitos e apenas 15 dias para trabalhar, e o primeiro requisito vai consumir 5 dias, você precisará priorizar. Um conceito útil para isso é observar quais requisitos são mais mencionados durante as entrevistas. Requisitos que se repetem frequentemente são claramente importantes e atendem às expectativas dos usuários.

No exemplo acima, você pode ver que o desenvolvedor optou por alocar os 15 dias de desenvolvimento do MVP para os requisitos mais votados e que se encaixavam no prazo disponível. Embora os dois últimos requisitos fossem atraentes, o desenvolvimento deles excederia o prazo em 2 dias.

A seguir, temos um cenário mais simples: a maioria dos usuários deseja recursos que estão além do que é viável entregar no prazo estipulado. Nesse caso, a escolha do MVP se concentra no que pode ser realisticamente entregue dentro do tempo disponível.

Desenvolvimento e Implementação

Baseado na minha experiência, recomendo que você comece escolhendo cuidadosamente a tecnologia para construir seu produto. Não é necessário ser um especialista na linguagem ou no framework escolhido, pois cada projeto é uma oportunidade para aprender e crescer.

Após definir a tecnologia, utilize uma ferramenta de organização e centralização de informações sobre o projeto. Seja Notion, GitHub Projects, Google Drive ou qualquer outra ferramenta, o importante é ter uma fonte de consulta acessível, especialmente quando você estiver colaborando com outras pessoas. Dividir o projeto com alguém, seja um amigo, colega de faculdade ou alguém da sua rede, pode ser muito valioso. Essa colaboração pode ser um diferencial importante para o sucesso do seu projeto.

Uma dica adicional é divulgar seu projeto desde cedo, criando uma base de fãs, curiosos ou até investidores. Isso ajudará a construir um portfólio real e demonstrar suas habilidades como criador de produtos, além de mostrar que você vai além de apenas escrever código.

Lançamento e Feedback

Por muito tempo, eu acreditava que para lançar um produto seria necessário organizar um grande evento, com salgados, bolo e petiscos. No entanto, o que realmente funcionou para mim foi criar expectativas no meu público. Em vez de focar em eventos, concentrei-me em divulgar o processo de desenvolvimento, compartilhando feedbacks dos testadores, capturas de tela e ilustrações detalhadas do produto em funcionamento.

Alimente a curiosidade e o desejo do seu público. Ao manter as pessoas engajadas e ansiosas pelo lançamento, você simplesmente precisará liberar o acesso ao seu produto. A partir daí, as pessoas procurarão, perguntarão e, ainda melhor, falarão sobre ele por você.

Conclusão

Lançar um produto do zero é um desafio repleto de aprendizados e ajustes constantes. Ao refletir sobre a minha jornada, ficou claro que o sucesso não vem de uma fórmula mágica, mas sim de práticas sólidas e do entendimento contínuo do que realmente funciona para o seu público. A identificação de um problema real, a definição clara da proposta de valor, a validação rápida da ideia e um planejamento estratégico são elementos-chave que podem guiar seu caminho.

Escolher a tecnologia certa, organizar o desenvolvimento e manter uma comunicação constante com o público são etapas fundamentais para transformar uma ideia em um produto tangível e bem-sucedido. Lembre-se de que o lançamento não precisa de grandes eventos; ao invés disso, crie expectativa e engaje seu público ao longo do processo.

Cada projeto é uma oportunidade de aprender e melhorar. Ao aplicar essas práticas e aprender com cada etapa, você estará melhor preparado para enfrentar os desafios e alcançar o sucesso em suas futuras empreitadas. Espero que estas dicas, baseadas na minha própria experiência, ajudem você a iniciar sua jornada de desenvolvimento de produtos com mais confiança e clareza. Boa sorte e sucesso no seu caminho!