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Levi Gomes
Levi Gomes

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(1/8) Fundamentos, Objetivos e Arquitetura da Infraestrutura de Rede

1. Contexto e Motivação

A administração de redes em Linux permanece como um dos pilares mais sólidos tanto para estudantes de ciência da computação quanto para empresas que buscam autonomia na própria infraestrutura. Mesmo com a popularização de serviços gerenciados e nuvens públicas, entender como uma rede opera por baixo dos panos continua sendo uma habilidade diferencial: facilita o diagnóstico, reduz custos, fortalece a segurança e forma profissionais mais completos.

Esta série tem o objetivo de construir, passo a passo, uma infraestrutura de rede funcional usando apenas Linux — não como um tutorial solto de comandos, mas como uma explicação estruturada, onde cada decisão técnica está amarrada a uma justificativa conceitual e a um padrão arquitetural adotado no mundo real.


2. Objetivos da série

A proposta central é dupla:

  1. Ensinar redes “de verdade”, e não só o mínimo para funcionar.
    Cada etapa — endereçamento, roteamento, NAT, DNS, DHCP, firewall — será explorada tanto como tecnologia quanto como parte de uma arquitetura coerente.

  2. Relacionar a prática com boas práticas profissionais.

A série será útil para estudantes que querem entender profundamente por que as coisas funcionam, profissionais que precisam estruturar serviços internos de forma robusta e equipes pequenas que buscam implantar redes internas previsíveis e seguras.

Assim, cada configuração será acompanhada de explicações sobre isolamento de redes, padronização de faixas, segurança mínima aceitável, práticas de DMZ, logging e testes reais.


3. O que será construído

Vamos propor e implementar uma arquitetura típica de empresas pequenas ou ambientes de laboratório — suficiente para ilustrar decisões reais, mas simples o bastante para ser montada em qualquer computador usando máquinas virtuais.

A série completa abordará:

  • IPv4 e IPv6
  • roteamento entre sub-redes
  • NAT e exposição controlada de serviços
  • DNS interno
  • DHCP
  • firewall e políticas de isolamento
  • testes integrados, troubleshooting e validação da infraestrutura

Cada tema será tratado como um bloco independente, mas que se conecta aos demais para formar a infraestrutura final.


4. Planejando a infraestrutura fictícia

Antes de configurar qualquer serviço, definimos um cenário representativo de um ambiente corporativo pequeno com três zonas:

  • DMZ — onde ficam serviços expostos parcialmente ao público (web, e-mail, APIs).
  • LAN interna — onde trabalham usuários, aplicações internas e serviços administrativos.
  • Rede de convidados — rede isolada, sem acesso à LAN, usada por dispositivos temporários.

Essa separação segue um padrão amplamente utilizado: “dividir para controlar”.
Ao compartimentar funções de rede, diminuímos superfícies de ataque, facilitamos diagnóstico e deixamos regras de firewall mais legíveis.


5. Ambiente do laboratório

Toda a infraestrutura será construída sobre Linux, usando ferramentas nativas e amplamente utilizadas em ambientes profissionais.

Ferramentas usadas ao longo da série:

  • iproute2 — gerenciamento moderno de interfaces, rotas, ARP e tabelas.
  • bind9 — servidor DNS autoritativo e recursivo.
  • tcpdump — inspeção de pacotes para testes e debugging.
  • iptables/nftables — filtragem e NAT.
  • isc-dhcp-server — servidor DHCP simples e confiável.

A maioria dos comandos e configs funcionará da mesma forma em Ubuntu Server, Debian e derivados, que são bons alvos para laboratório.


6. Arquitetura da rede fictícia

Essa arquitetura é simples, mas permite explorar múltiplas sub-redes, roteamento interno, NAT só no ponto correto, DNS com zonas internas e firewall contextualizado com a função de cada rede.


7. Faixas de rede definidas

Para evitar sobreposição e manter estrutura clara, usaremos:

  • DMZ: 10.10.0.0/24
  • LAN interna: 192.168.0.0/16
  • Convidados: 172.30.10.0/24
  • IPv6: fd00:a1b2::/64

A escolha cobre os três blocos privados do IPv4 (A, B e C) e uma faixa local IPv6 com notação ULAs, que são adequadas para laboratórios e redes internas persistentes.


8. Organização dos arquivos de configuração

A ideia aqui é manter tudo limpo e fácil de entender. O arquivo /etc/network/interfaces vai ser nosso ponto de partida: é onde deixamos definidas as interfaces, seus endereços e as rotas que entram automaticamente quando a máquina sobe. Nada espalhado, nada perdido em scripts obscuros.

Os serviços que exigem configurações próprias — como DNS e DHCP — ficam separados, cada um no seu canto. Isso ajuda a visualizar melhor o papel de cada peça da rede sem transformar um único arquivo em um bloco confuso.

E, ao longo dos artigos, sempre que um conceito aparecer, ele virá acompanhado do comando que o materializa. A leitura fica natural: você entende a ideia, vê como ela se aplica e segue adiante sem tropeçar em camadas desnecessárias.


9. Conclusão e próximos passos

Este artigo definiu o cenário, os objetivos e os padrões que vamos seguir ao longo da série.
A partir do próximo artigo, começamos pela base de qualquer rede: IPv4 e IPv6, incluindo máscaras, CIDR, gateways, endereços link-local, diferenciação entre endereços locais e globais, e testes essenciais.

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