Nesse mundo em “2x”, estamos sempre correndo. É fácil se sentir atrasado e sobrecarregado com a enxurrada de novidades tecnológicas.
E a IA só acelera esse processo: primeiro vieram as LLMs, depois os agentes de IA, e quando menos esperamos, já estamos ouvindo falar de MCP Servers.
Mas afinal, o quanto dessa montanha de novidades é realmente importante?
O que é hype? E será que vale passar todo o tempo livre tentando acompanhar tudo?
Durante minha trajetória na tecnologia, já me vi (e ainda me vejo) nesse dilema (FOMO).
Neste texto, quero compartilhar como aprendi a lidar com isso e acompanhar o ritmo da tecnologia sem surtar.
A IA acelerando a evolução e o nosso jeito de aprender
A cada semana surgem novas promessas: “a IA vai substituir pessoas”, “vai multiplicar a produtividade”… e, em parte, é verdade.
Mas é importante se perguntar: até onde a IA deve fazer por você?
Com a velocidade que ela impõe, pode ser tentador “combater fogo com fogo”. Mas dessa forma quem está aprendendo? É você ou a IA?
Durante o Workshop do Instituto de Inteligência Artificial (LNCC, 2025) , Patrick Valduriez trouxe uma reflexão poderosa:
Em que ponto a IA deixa de ser copiloto e passa a ser piloto?
E o que isso muda na forma como aprendemos e decidimos?
A IA é uma aliada incrível, mas ainda é uma ferramenta e cabe a você usá-la com propósito.
Durante os estudos, use-a para entender a solução, não apenas para obter a solução. Assim, você aprende de fato, e não só “acerta”.
Vale lembrar: as respostas de uma LLM são limitadas ao conhecimento com o qual foi treinada, e nem sempre estão corretas. Uma LLM não pensa, ela calcula a probabilidade da próxima palavra (token) ser a que esperamos. Existe sempre uma zona escura, onde talvez nem saiba responder (ainda).
E é aí que entra a verdadeira curiosidade humana.
O que você domina, o que conhece e o que ainda não conhece
Antes de mais nada, vale esclarecer:
- O que você domina: é o conhecimento que usa no dia a dia, fala sobre com segurança e aplica com naturalidade.
- O que você conhece, mas não domina: sabe que existe, entende o conceito, mas não saberia aplicar de imediato.
- O que você não conhece: está fora da sua bolha, e justamente por não conhecer, não sabe que não sabe.
Essa preocupação em “estar em dia” não é nova.
Há alguns anos, levantei essa questão com meu amigo e mentor MSc. Augusto José Moreira da Fonseca, e ele me disse algo que nunca esqueci:
“Você não precisa aprender tudo. Mas conheça o máximo do que existe e para que serve, adicionando ao seu cinto de utilidades.
Assim, quando o problema aparecer, você saberá que ferramenta usar e aí, sim, vai aprender a fundo.”
Na prática
Imagine que todo o conhecimento em tecnologia seja representado por um triângulo.
A parte verde — pequena — é o que dominamos.
Ela cresce com tempo e prática, mas exige energia e constância. Se for algo que não usamos, esquecemos rapidamente.
Por isso, a energia deve estar voltada a expandir a parte amarela: o que conhecemos, mas ainda não dominamos.
Trazer luz ao desconhecido, entender para que serve e quando serve cada coisa, e assim montar o seu “cinto de utilidades”.
Regra dos 30 minutos
Separe 30 minutos por dia só para mapear o que está acontecendo:
leia títulos de blogs (O’Reilly Radar, Azure Blog, AWS Blog, dev.to, etc.), veja vídeos de referência, siga repositórios do GitHub de tecnologias e empresas que você acompanha (Microsoft, Vercel, Meta…).
Se algo chamar atenção, leia ou assista com foco nos porquês e quandos.
Entenda o contexto e o problema que aquela tecnologia ou técnica resolve.
💡 Nesse momento, você filtra o que tem real aplicabilidade pra você.
É legal entender como criar uma linguagem do zero, mas talvez não seja prioridade ou não tenha tanta aplicabilidade se você é um dev web júnior.
Assim, você expande a parte “o que conhece, mas não domina”, sem se perder no mar de novidades.
Para quem acredita que 'santo de casa não faz milagres', Mark Richards, autor de Fundamentals of Software Architecture dentre outros, explica esse mesmo conceito de forma mais detalhada em sua série Developer to Architect — Lesson 3: Gaining Technical Breadth.
É importante entender que essa estratégia não significa que não precisa se aprofundar em nenhum tópico. Mas sim que dessa forma, é possível dedicar tempo e energia de forma estratégica nos estudos e ciente do que existe, caso precise.
Carta para iniciantes na área
Quando comecei na tecnologia, me assustei com a quantidade de coisas novas, parecia impossível acompanhar.
E adivinha? É impossível mesmo. 😄
Mas tudo bem. Você não precisa ser especialista em tudo.
Uma das principais características do ser humano é a curiosidade e a capacidade de aprender.
Assim como capacidades físicas, exige exercício para chegar a sua melhor performance.
Se você faz musculação por exemplo, entende que precisa treinar frequentemente e também dar um tempo de descanso. Não é diferente com a nossa capacidade de aprender.
Comece pelos fundamentos, eles quase nunca mudam.
Os princípios da Orientação a Objetos, por exemplo, são praticamente os mesmos desde os anos 1960.
Aprenda uma linguagem e framework, e já terá meio caminho andado para outras linguagens e frameworks.
Logo perceberá que muito do conhecimento é transferível.
Eu comecei com PHP e jQuery.
Meu primeiro trabalho foi com Laravel e Angular.
Depois, migrei para .NET, e percebi que os conceitos se repetem: Eloquent no Laravel, Entity Framework Core no .NET, SQLAlchemy no Python, entre outras coisas.
A ideia é a mesma, só muda a sintaxe e alguns detalhes.
Utilize sim IA para estudar, mas use consciente.
⚠️ Se você é um desenvolvedor e pede para um agente criar para você a implementação de alguma funcionalidade, entenda, você ainda é responsável pelo código gerado e tem a obrigação profissional de responder por ele. O mesmo se aplica a outros papéis. Entenda o que foi feito e o porquê.
Como estudante autodidata, acaba caindo por sua própria responsabilidade a condução até o conhecimento, que antes seria responsabilidade de um mentor.
Dê tempo para você processar a informação, descanse.
Arquitetos, programadores, profissionais de tecnologia em geral exercem uma atividade intelectual. Não é quantidade de cliques ou tempo em frente de tela que define sua produtividade.
Quem nunca teve aquela ideia que resolve o problema enquanto lava uma louça, faz uma atividade fora ou mesmo dormindo?!
E talvez o conselho mais valioso: escreva, compartilhe, explique para alguém.
Ao ensinar, você descobre novas dúvidas, e consolida o aprendizado de verdade.
Fontes
Obs: texto revisado por IA 🤖😁🦾


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