“Não é a tecnologia que trava o time é a ausência de uma gestão estruturada.”
Nos últimos anos, vi de perto o impacto da má gestão técnica: times extremamente talentosos, com stacks modernas e processos de entrega sofisticados, paralisados por falta de clareza, alinhamento e foco. Foi nesse contexto que percebi como a gestão de projetos deixou de ser apenas uma função organizacional e passou a ser um pilar técnico.
A engenharia precisa de autonomia, mas também precisa de direção. Não adianta termos um time que domina o React, o Kubernetes ou o GitHub Copilot se os ciclos são confusos, as prioridades mudam a cada reunião e as entregas perdem consistência.
Empresas como o Nubank entenderam isso cedo. Mesmo utilizando Clojure uma linguagem funcional pouco comum conseguiram escalar por apostar em ciclos curtos e squads autônomos. O segredo? Gestão enxuta e bem definida.
O Spotify seguiu um caminho semelhante, adaptando o Agile à sua realidade com o modelo de Squads, Tribes e Guilds. O resultado foi uma cultura forte de autonomia com responsabilidade, onde cada squad tem liberdade para operar com o método mais adequado (Scrum, Kanban ou híbrido).
Na Zalando, gigante europeia do e-commerce, o Kanban vem sendo a escolha para times de suporte e infraestrutura que lidam com mudanças constantes. Lá, limitar o WIP (trabalho em progresso) e visualizar bloqueios em tempo real fez mais sentido do que sprints fechados.
No Brasil, startups como a Hepta vêm testando o Shape Up método criado pela Basecamp como forma de equilibrar foco profundo e entregas com autonomia. Em vez de backlog infinito e reuniões diárias, os ciclos são fechados em seis semanas com problemas bem definidos e espaço real para que os times proponham soluções.
Do lado das ferramentas, Jira e Azure Boards ainda dominam empresas maiores que exigem rastreabilidade. Mas ferramentas como o Linear têm conquistado empresas como Vercel e Ramp por priorizar performance e simplicidade no fluxo de trabalho.
Mas tudo isso só faz sentido se transformar em cultura de engenharia.
Métricas que contam a história
No meu dia a dia como Tech Lead, um dos maiores aprendizados foi entender que gestão técnica é menos sobre tarefas e mais sobre ritmo. É aí que entram as métricas.
Lead Time: tempo entre a criação de uma tarefa e sua entrega.
Cycle Time: tempo entre o início real do desenvolvimento e sua finalização.
Throughput: número de entregas num determinado período.
Rework Rate: percentual de trabalho refeito ou com bugs críticos.
Esses indicadores dizem muito sobre um time. Eles revelam onde estão os gargalos, como está a cadência de entregas e o nível de previsibilidade. E com isso, tomamos decisões com base em fatos não em achismos.
Projetos bem gerenciados não seguem fórmulas prontas. Eles evoluem com base em contexto, maturidade e feedback constante.
Cultura e pessoas no centro
Gestão técnica também é sobre pessoas. Quando um Product Owner (PO) tem clareza de escopo e trabalha próximo do time técnico, os conflitos caem drasticamente. E mais: quando há confiança mútua, a autonomia vira alavanca não desculpa para desorganização.
Vi transformações incríveis acontecerem quando criamos espaços seguros para feedbacks reais, quando demos visibilidade aos dados e quando deixamos o ego de lado para ouvir quem está na ponta codando.
Esse é o ponto: a tecnologia não falha a gestão falha. Times ruins não derrubam produtos, mas uma cultura que desvaloriza gestão e pessoas, sim.
E no fim das contas, ser Tech Lead é menos sobre saber tudo e mais sobre criar o ambiente onde o time possa dar o seu melhor.
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