Se tem uma coisa que muita gente desenvolvedora ainda negligencia, é a documentação técnica.
Na correria de entregar feature atrás de feature, a doc acaba virando “a última prioridade”. Só que, quando alguém novo entra no time ou quando você mesma precisa revisitar um trecho de código meses depois, a falta de documentação pesa.
O que eu fiz aqui foi reunir o que vários autores e guias renomados trazem sobre o tema e condensar num só artigo. A ideia é simples: mostrar como escrever documentação que realmente ajuda e que não fica esquecida no repositório.
O que é uma boa documentação técnica?
Não é um manual gigante cheio de burocracia.
Documentação boa precisa seguir três princípios básicos, conhecidos como os 3Cs (do MDN Blog):
- Clareza: usar linguagem simples, frases curtas e um conceito por vez.
- Concisão: cortar redundâncias, evitar enrolação.
- Consistência: manter termos e formatação iguais do começo ao fim.
Seguindo isso, você já garante que a doc é legível e não afasta quem lê.
Por que documentar?
O guia da UC Berkeley traz um ponto importante: documentação não é só para os outros.
É também para você mesma no futuro.
Os motivos são muitos:
- você vai precisar desse código em seis meses e não vai lembrar de tudo;
- outras pessoas podem usar e melhorar o seu trabalho;
- times inteiros conseguem colaborar de forma mais eficiente;
- a ciência (e a engenharia) avançam mais quando há transparência e reprodutibilidade.
Estrutura: do simples ao avançado
O MDN reforça que a doc precisa seguir um fluxo lógico:
- Começar pelo o que é.
- Explicar por que existe.
- Mostrar como usar.
- Só depois entrar em detalhes mais avançados.
Isso evita que a pessoa leitora se perca e garante que o aprendizado seja progressivo.
O ClickUp chama a atenção para outro ponto: sempre pense no público-alvo. Não é a mesma coisa escrever para devs sêniors, para o time de produto ou para usuários finais. Ajuste o tom.
Exemplos são essenciais
O Apidog insiste em algo que faz toda diferença: traga exemplos práticos.
Não só de código, mas também de cenários de uso.
Se você está explicando um hook, mostre como importá-lo e usá-lo em um componente.
Se é uma API, traga requests e responses reais.
Isso dá confiança para quem lê e acelera a adoção.
Acessibilidade não é opcional
O artigo da Zup e o MDN batem na mesma tecla: docs precisam ser inclusivas.
Isso significa:
- sempre adicionar alt text em imagens;
- usar links descritivos (“veja nosso guia de estilo” e não “clique aqui”);
- adotar linguagem inclusiva;
- pensar em quem usa leitores de tela.
Manutenção: doc viva, não morta
Outro ponto recorrente em todos os materiais, e bem destacado no Guia Dev, é que documentação não pode ser estática.
Ela precisa ser parte do fluxo de desenvolvimento.
Algumas práticas que ajudam:
- revisar a doc em cada PR;
- manter a versão do código vinculada à versão da doc;
- ter responsáveis claros pela atualização;
- revisar periodicamente (a cada sprint, por exemplo).
Estrutura mínima recomendada
Depois de cruzar os artigos do DX Platform, da Lari Maza e do ClickUp, dá para resumir uma estrutura que funciona bem para a maioria dos casos:
- Descrição – o que é e por que existe.
- Localização – path no repo, feature relacionada.
- Escopo e objetivos – o que o leitor vai aprender ou conseguir.
- Dependências – libs internas e externas.
- Estrutura/API – props, métodos, parâmetros, retorno.
- Exemplos de uso – código e cenário real.
- Testes – como rodar, mocks, fixtures.
- Troubleshooting/FAQ – erros comuns e soluções.
- Acessibilidade – checklist básico.
- Métricas/Observabilidade – logs, analytics, Sentry, etc.
- Versionamento e manutenção – versão, data da última atualização, responsável.
- Referências – links para Figma, RFCs, APIs externas, docs de negócio.
Conclusão
Documentar bem não é burocracia. É investimento em produtividade, em reduzir retrabalho e em melhorar a experiência de quem usa e mantém o software.
Não precisa ser perfeito, mas precisa ser útil.
Se você garantir clareza, concisão, consistência, exemplos práticos e manutenção contínua, já vai estar muito à frente da média.
Referências
- UC Berkeley – How to Write Good Documentation
- MDN Blog – Creating effective technical documentation
- Lari Maza – How to Write Good Documentation
- DX Platform – Tech Documentation
- Apidog – Como escrever documentação técnica
- Guia Dev – Documentação Técnica
- Zup – Documentação técnica
- ClickUp – Como escrever documentação técnica
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