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Priscila Oliveira
Priscila Oliveira

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Como escrever uma documentação técnica que realmente funciona

Se tem uma coisa que muita gente desenvolvedora ainda negligencia, é a documentação técnica.
Na correria de entregar feature atrás de feature, a doc acaba virando “a última prioridade”. Só que, quando alguém novo entra no time ou quando você mesma precisa revisitar um trecho de código meses depois, a falta de documentação pesa.

O que eu fiz aqui foi reunir o que vários autores e guias renomados trazem sobre o tema e condensar num só artigo. A ideia é simples: mostrar como escrever documentação que realmente ajuda e que não fica esquecida no repositório.

O que é uma boa documentação técnica?

Ilustração dos 3Cs da boa documentação: três círculos brancos sobre fundo gradiente roxo, cada um contendo a letra C, representando Clareza, Concisão e Consistência

Não é um manual gigante cheio de burocracia.
Documentação boa precisa seguir três princípios básicos, conhecidos como os 3Cs (do MDN Blog):

  • Clareza: usar linguagem simples, frases curtas e um conceito por vez.
  • Concisão: cortar redundâncias, evitar enrolação.
  • Consistência: manter termos e formatação iguais do começo ao fim.

Seguindo isso, você já garante que a doc é legível e não afasta quem lê.


Por que documentar?

Ilustração conceitual sobre a importância da documentação. Relógio central com pontos de conexão ao redor representando o futuro você, a equipe e a evolução do projeto. Fundo gradiente rosa

O guia da UC Berkeley traz um ponto importante: documentação não é só para os outros.
É também para você mesma no futuro.

Os motivos são muitos:

  • você vai precisar desse código em seis meses e não vai lembrar de tudo;
  • outras pessoas podem usar e melhorar o seu trabalho;
  • times inteiros conseguem colaborar de forma mais eficiente;
  • a ciência (e a engenharia) avançam mais quando há transparência e reprodutibilidade.

Estrutura: do simples ao avançado

Diagrama de estrutura progressiva da documentação com 5 barras horizontais decrescentes, mostrando a progressão: O que é, Por que existe, Como usar, Exemplos práticos e Detalhes avançados. Fundo gradiente azul.

O MDN reforça que a doc precisa seguir um fluxo lógico:

  1. Começar pelo o que é.
  2. Explicar por que existe.
  3. Mostrar como usar.
  4. Só depois entrar em detalhes mais avançados.

Isso evita que a pessoa leitora se perca e garante que o aprendizado seja progressivo.

O ClickUp chama a atenção para outro ponto: sempre pense no público-alvo. Não é a mesma coisa escrever para devs sêniors, para o time de produto ou para usuários finais. Ajuste o tom.


Exemplos são essenciais

Ilustração de bloco de código com destaque para seção de exemplo prático. Mostra linhas de código abstratas e uma área destacada com código real. Ícones de código e API. Fundo gradiente verde

O Apidog insiste em algo que faz toda diferença: traga exemplos práticos.
Não só de código, mas também de cenários de uso.

Se você está explicando um hook, mostre como importá-lo e usá-lo em um componente.
Se é uma API, traga requests e responses reais.
Isso dá confiança para quem lê e acelera a adoção.


Acessibilidade não é opcional

Ícone de acessibilidade universal ao centro, cercado por checklist de boas práticas: alt text em imagens, links descritivos, linguagem inclusiva e leitores de tela. Fundo gradiente rosa-amarelo

O artigo da Zup e o MDN batem na mesma tecla: docs precisam ser inclusivas.

Isso significa:

  • sempre adicionar alt text em imagens;
  • usar links descritivos (“veja nosso guia de estilo” e não “clique aqui”);
  • adotar linguagem inclusiva;
  • pensar em quem usa leitores de tela.

Manutenção: doc viva, não morta

Diagrama circular representando o ciclo de manutenção da documentação, com 4 pontos interconectados: PR, Review, Update e Sprint, simbolizando documentação viva. Fundo gradiente azul-roxo

Outro ponto recorrente em todos os materiais, e bem destacado no Guia Dev, é que documentação não pode ser estática.

Ela precisa ser parte do fluxo de desenvolvimento.
Algumas práticas que ajudam:

  • revisar a doc em cada PR;
  • manter a versão do código vinculada à versão da doc;
  • ter responsáveis claros pela atualização;
  • revisar periodicamente (a cada sprint, por exemplo).

Estrutura mínima recomendada

Depois de cruzar os artigos do DX Platform, da Lari Maza e do ClickUp, dá para resumir uma estrutura que funciona bem para a maioria dos casos:

  1. Descrição – o que é e por que existe.
  2. Localização – path no repo, feature relacionada.
  3. Escopo e objetivos – o que o leitor vai aprender ou conseguir.
  4. Dependências – libs internas e externas.
  5. Estrutura/API – props, métodos, parâmetros, retorno.
  6. Exemplos de uso – código e cenário real.
  7. Testes – como rodar, mocks, fixtures.
  8. Troubleshooting/FAQ – erros comuns e soluções.
  9. Acessibilidade – checklist básico.
  10. Métricas/Observabilidade – logs, analytics, Sentry, etc.
  11. Versionamento e manutenção – versão, data da última atualização, responsável.
  12. Referências – links para Figma, RFCs, APIs externas, docs de negócio.

Conclusão

Ilustração de troféu simbolizando documentação como investimento. Lista os benefícios: Produtividade, Menos retrabalho, Melhor experiência. Mensagem: 'Não precisa ser perfeito, precisa ser útil'. Fundo gradiente multicolorido.

Documentar bem não é burocracia. É investimento em produtividade, em reduzir retrabalho e em melhorar a experiência de quem usa e mantém o software.

Não precisa ser perfeito, mas precisa ser útil.
Se você garantir clareza, concisão, consistência, exemplos práticos e manutenção contínua, já vai estar muito à frente da média.


Referências

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