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Guilherme Siquinelli
Guilherme Siquinelli

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Você é autodidata?

Antes de qualquer coisa, vamos quebrar um mito aqui.

Pessoas autodidatas não são pessoas que lêem uma única vez sobre algum assunto, absorvem, entendem e aprendem tudo o que leu pra sempre, como alguém que tivesse memória fotográfica, não. Pessoas autodidatas não são gênios.

Pessoas autodidatas são pessoas teimosas, insistentes, perseverantes e por último e mais importante, são pessoas que não acham que errar é um problema.

Elas têm o erro como o primeiro passo para solução, descobrir que está fazendo algo errado, é descobrir que está fazendo algo que ela julgava estar da forma correta, da forma errada. Aceitar o erro não é uma tarefa difícil para ela, mas sim uma oportunidade de fazer da forma certa.

O segundo passo é identificar onde está o erro ou o quê está sendo feito errado e mais uma vez, isso nem de longe é motivo pra se aborrecer, pelo contrário, quando uma pessoa autodidata encontra onde está o erro, isso é motivo de alegria, como alguém que encontra a pista perfeita num jogo de palavras cruzadas.

O terceiro passo é entender o problema, o motivo pelo qual a forma que estava sendo feita não funcionava, e então tentar de alguma outra forma que faça mais sentido para atingir o objetivo do que se está fazendo.

O que é, então, ser autodidata?

Ser autodidata é fazer ciência com as suas ações, experimentando com a ajuda da razão, a lógica misturada a tentativa e erro até que chegue o momento em que os erros não apareçam mais naquela situação.

Quando alguém se sujeita a não ser autodidata, (sim, usei o termo sujeita, pois automaticamente ela está sujeita a algo que ela não controla) ela está sujeita a limitação do que lhe é entregue como verdade. Mas e quando algo que ela aprendeu apresenta inconsistências, apresentando resultados inesperados e nos piores casos, resultados indesejados? Qual a solução? buscar quem ensinou, reclamar e pedir pra ensinar da forma correta para que não apresente mais erros? não é bem assim que as coisas funcionam no mundo real...

E antes que eu me esqueça, é importante colocar alguns pingos nos i 's... Não estou dizendo que pessoas autodidatas devem aprender apenas com seus próprios erros, abandonando todo conhecimento externo... não, jamais, isso seria loucura!
Muito pelo contrário, pessoas autodidata também procuram por pessoas com maior domínio em determinados assuntos com a finalidade de absorver ensinamentos que lhe serão entregues, este método na maior parte das vezes tende a ser menos inconsistente inicialmente, devido ao conhecimento que é transmitido de indivíduo para indivíduo ter sido sujeito a testes por pessoas e situações diferentes e em diferentes contextos.

O Ponto aqui é única e exclusivamente sobre não se limitar, sobre ser crítico, curioso, saber experimentar, aprimorar seu raciocínio lógico e outro detalhe de extrema importância, sobre praticar! A prática é a maior de todas as professoras, é quando ela entra em cena que os mitos caem por terra, vale citar um comentário que uma amiga, Ana Elisa, me disse há um tempo atrás, muito pertinente.

Na teoria, teoria e prática são a mesma coisa. Na prática, não.

– Ana Elisa

É na prática que as coisas não funcionam e você precisa resolver o problema, é na prática que você tenta até acertar. É na prática que o problema é resolvido.

Autodidata e cursos

Pessoas autodidatas não fazem cursos? Sim, fazem, não há motivos para não fazê-los, desde que seja acessível a seu contexto.

Lev Vygotsky, psicólogo bielo-russo influenciou o que depois de sua morte se tornou a corrente pedagógica chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Para ele, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor - ou seja, a pessoa modifica o ambiente e o ambiente modifica a pessoa.

Exemplo

Uma criança nasce com as condições biológicas de falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade

– Teresa Rego

Ainda segundo o psicólogo, toda relação de uma pessoa com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos - como, por exemplo, as da linguagem - que trazem consigo conceitos consolidados da cultura à qual a pessoa está inserida.

Todo aprendizado é necessariamente mediado, seja por uma pessoa dando aula, um livro ou artigo que outra pessoa escreveu e até ferramentas utilizadas no processo de aprendizagem. Isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo e determinante. Piaget disse que cabe a instituição facilitar o processo que só pode ser conduzido pela própria pessoa, ao contrário, Vygotsky diz que é importante o primeiro contato de uma criança com novas atividades, habilidades ou informações terem a participação de alguém, e então, a criança "se apropria" dele, tornando-o voluntário e independente.

Cursos são excelentes locais que nos dão um empurrão a mais. Outro ótimo ponto chave que não podemos nos esquecer é o network construído durante a interação com outras pessoas, que é muito valioso, arrisco dizer que seja muitas vezes fator decisivo pro caminho que vem pela frente.

Escolha a dedo onde irá se inscrever, avalie se o conteúdo programático se encaixa com seu objetivo e se os profissionais envolvidos são competentes.

Existe uma receita de bolo?

Alguns meses atrás, em uma conversa de mentoria, listei de forma rápida alguns itens que no momento entendia serem válidos, sempre que houvesse alguma dúvida, para serem lidos na tentativa de identificar se estamos no rumo ideal, que são estes:

  1. Aprenda aprender e onde aprender.
  2. Aprenda consultar e onde consultar.
  3. Aprenda registrar e onde registrar.
  4. Aprenda documentar, entenda que seu colega amanhã pode ser você ontem.
  5. Pense a longo prazo sempre e faça da melhor forma, ah... a melhor forma é relativa contexto e recursos disponíveis naquele dado momento.
  6. Aprenda automatizar tarefas repetitivas.
  7. Não tente, consiga. Pense no passado para encontrar o futuro.
  8. Argumente como se estivesse certa(o) mas ouça como se estivesse errada(o).
  9. Quando souber, fale mais do que ouve e quando não souber, ouça mais do que fale, mas saiba quando sabe e saiba quando não sabe.
  10. Questione, você pode estar certa(o).
  11. Peça conselhos a quem discorda de você..

Técnicas de aprendizado

Uma das características do autodidata é ter boas referências de estudo e consulta, isso é extremamente relevante quando estamos falando de encontrar a resposta que buscamos de forma eficiente e assertiva.

Ficar pesquisando no Google todas as vezes que lhe surge uma dúvida não é a forma mais eficiente, você pode criar um catálogo, usando o favoritos do seu navegador por exemplo. Contendo boas referências sobre determinados assuntos, e quando algum destes aparecer como dúvida, você já sabe onde vai encontrar a resposta!

Posso dar um exemplo que entendo ser um tanto óbvio, contudo tenho visto que não é tão óbvio assim. Como sou engenheiro web, frequentemente aparece alguma dúvida sobre o uso de algum atributo ou outro, o HTML é enorme, e quando a dúvida é muito específica acaba sendo difícil encontrar uma resposta com uma solução assertiva de forma rápida vinda de uma fonte confiável, e também, porque eu perderia meu precioso tempo de vida, procurando outra fonte confiável se eu já sei o endereço da documentação oficial!? Quando conhecemos alguma fonte certeira, vá direto nela!

Mais importante que "decorar" tudo que você lê, é saber onde você vai encontrar as melhores respostas de forma ágil. Melhor ainda é se você optar por escrever um artigo, um post, enfim, publicar algo sobre o assunto, ou melhor ainda: Submeta uma palestra para comunidade, passando tudo que aprendeu para outras pessoas! Apesar disso aparentar algo inalcançável para alguns ou caridosa para outros, no final das contas, acaba sendo para benefício próprio. É uma das minhas técnicas de estudo, não só minha, mas de muita gente no ecossistema de desenvolvimento de software.

Existem diversas técnicas de estudo, uma bem conhecida é a criada pelo físico renomado e que infelizmente já não está mais entre nós, Richard Feynman.

Técnica Feynman

Existem técnicas para se aprender com eficiência, uma delas que se encaixa perfeitamente no modelo de submissão de palestras para comunidade é a técnica de Richard Feynman.

Essa técnica é dividida em quatro etapas:

  1. Escolha um conceito;
  2. Ensine ou finja ensinar a uma criança;
  3. Identifique falhas na compreensão;
  4. Revise e simplifique.

A teoria dele é que existem dois tipos de sabedoria:
Uma delas é focada em saber apenas o nome, e a outra é focada em entender.
Assim, em vez de apenas memorizar datas, nomes e conceitos, ele orienta a ter de fato uma compreensão profunda sobre o tema.

Passo a passo da técnica:

  1. Escolha um conceito ou assunto
    A proposta é aprender e vale para todos os assuntos. Dessa forma, escolha um tema que desejar, pode ser uma lei, uma fórmula matemática, uma escola literária, um tipo de meditação ou qualquer outro conceito. Quanto mais específico, melhor.

    Liste o nome do conceito no cabeçalho de uma folha e abaixo dele escreva tudo o que você sabe sobre ele. Ao longo da técnica, você provavelmente irá aprender mais coisas sobre o conceito, anote também na folha.

  2. Ensine para uma criança
    A segunda etapa consiste em ensinar ou simular a explicação do conceito para uma criança. Você pode fazer isso de forma escrita ou oral, mas é importante transmitir essas informações de forma clara e simples.

    Evite: terminologias complexas e jargões;
    Seja: breve e criativo.

    Certamente você encontrou lacunas no seu conhecimento e teve coisas que não soube explicar. Aqui é o ponto onde o aprendizado acontece, e você deve se perguntar: “o que deixei passar?” e “o que eu ainda não sei?”

  3. Identifique falhas na compreensão
    Feito isso, anote as falhas na compreensão e volte para a pesquisa. Utilize suas anotações iniciais, recorra ao google, consulte livros, apostilas, slides, etc... Estude!

  4. Revise e simplifique
    A última fase consiste em revisar todo o conteúdo e simplificar sua linguagem e organização. Após isso, leia em voz alta o que foi escrito e veja se há linearidade e coerência na sua explicação.

Originalmente, Feynman aplicou a sua técnica para explicar os fundamentos da física de partículas, algo que é extremamente difícil. Esse seu trabalho ajudou outros cientistas a rastrear os movimentos das partículas a partir de ilustrações e equações visuais.

Professor Pier

Outra lenda que tem excelentes dicas sobre como aprender, é o Pierluigi Piazzi ou Professor Pier.

Este foi o primeiro vídeo que assisti dele, me lembro que fiquei abismado com as palavras dele fazendo meu tico e teco darem um empurrão um ao outro, acreditando ainda mais que o futuro é autodidata, ainda mais com a ajuda desse mar de informações espalhadas na rede que chamamos de Internet. Temos muito a agradecer ao Sir. Tim Berners-Lee, por essa imensurável contribuição ao nosso mundo.

Mas e você, é autodidata?

Comente aí embaixo qual sua melhor técnica de estudo para que ajude outras pessoas a tentarem de outra forma, afinal, cada um deve encontrar qual seu melhor método de aprender.

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