História
Com sua primeira versão lançada em 1995 por James Gosling pela Sun Microsystems a linguagem Java se popularizou muito pois usava uma síntaxe que tentava se assemelhar com C/C++ porém sem algumas das dificuldades que uma linguagem de nível mais baixo trás consigo. Ela trouxe uma abordagem diferente das linguagens que eram convencionadas à época com o lançamento da JVM (Java Virtual Machine), um ambiente virtual onde o código é executado e a possíbilidade de executar o código em múltiplas plataformas não mais havendo a necessidade de compilar versões específicas, não que seja algo exclusivo do Java o próprio Erlang já fazia isso em 1986 com a sua virtual Machine, JAM e posteriormente com a BEAM, com isso o Java adotou o slogan "Write once, run anywhere" (Escreva uma vez, rode em qualquer lugar). Outro ponto muito importante foi a adoção de um paradigma orientado a objetos (POO), pois era muito mais comum e utilizado o paradigma procedural apesar do C++ já possuir a possibilidade de utilizar o paradigma orientado a objetos, isso trouxe mais flexibilidade e dinâmismo ao código e por fim o terceiro ponto que considero que foi uma grande vantagem foi a utilização de um Garbage Collector, que consiste em um mecânismo que faz o controle de memória do código, era um problema muito comum na linguagem C onde o desenvolvedor precisa lidar com alocação e liberação de memória no código, o que nem sempre é fácil ou trivial de se fazer e que acabava causando "vazamentos" de memória em aplicações. Tudo isso fez com que o Java se tornasse muito popular para desenvolvimento de aplicações que rodassem embarcadas em outras aplicações, os applets, desenvolvimento desktop, mobile e web.
Em 2005 a Oracle adquiriu a Sun por US$7.4 bilhões e prometeu continuar desenvolvendo e melhorando a linguagem, algo que era uma cobrança recorrente da comunidade pois lançamentos de melhorias demoravam muito. Até o momento desse artigo o Java está na versão 11LTS com previsão da versão 17LTS em 14 de setembro de 2021.
Instalação
Para instalar basta seguir essas orientações de acordo com o seu sistema operacional:
Iniciando um projeto
Nesses exemplos eu irei usar a IDE IntelliJ para criar o projeto e rodar os exemplos, a escolha é pela facilidade que essa IDE oferece de configuração e o suporte para o Java.
Poderíamos também criar os arquivos .java e compilá-los diretamente por linha de comando com o javac porém o intuito é fazer da forma mais parecida com o que é feito no dia a dia de um desenvolvedor.
Primeiramente é necessário instalar o IntelliJ, após abrí-lo clique em New Project como na imagem abaixo:
Após isso irá aparecer várias opções mas por enquanto basta deixar selecionado a opção Java e clicar em Next.
Na próxima tela selecione a opção Create project from template e a opção Command Line App ficará disponível para clicar, isso já criará um programa Java executável.
E por fim é necessário nomear o projeto, definir a pasta onde será salvo e o nome do pacote base. Os dois primeiros são simples de entender mas o terceiro é necessário pois todo programa Java é organizado em pacotes onde o código fica e este nome deve ser único por aplicação então foi convencionado de que o nome do pacote deveria ser o a URL da empresa ao contrário nesse caso ficou assim: br.com.company.
E após isso basta clicar em Finish o projeto será criado.
Entendendo o primeiro projeto
Quando um projeto novo é criado automaticamente é criado a classe Main.java com o seguinte código:
package br.com.company;
public class Main {
public static void main(String[] args) {
}
}
Essa é a sintaxe básica de um programa Java pois todo programa executável em Java necessita ter um método de entrada chamado main que seja public static void, entenderemos melhor o que isso significa adiante, e que receba um array de String, também entenderemos mais adiante o que isso significa, mas saiba que sem isso o programa não consegue ser executado pois no momento da execução de um programa o Java tenta localizar um método que siga esse modelo para iniciar.
Note também que na primeira linha do código aparece o nome do pacote.
Variáveis
Variáveis são posições de memória que são capazes de reter e representar expressões, elas existem em tempo de execução de um programa e tem nomes que são escolhidos pelo desenvolvedor para as identificar.
Esclarecendo melhor a explicação acima, uma variável nada mais é do que algo onde podemos colocar um valor e depois podemos trocar por outro, no exemplo abaixo fica um pouco mais claro:
int numero = 1;
numero = 2;
No trecho acima foi criado uma variável com nome "numero", por debaixo dos panos o Java irá reservar um espaço em memória para guardar o valor que foi definido, primeiramente com o número 1 e em seguida foi adicionado outro valor para a variável "numero" com o valor 2. Nesse momento outro espaço de memória é criado e nele é guardado o valor 2. Isso só é possível pois estamos usando uma variável e como o seu nome dá a entender o seu valor pode ser mudado.
Perceba também que antes da a variável "numero" tem a palavra int, isso acontece pois o Java é uma linguagem fortemente tipada, isso significa que tudo deve possuir um identificador de qual tipo é, nesse caso int representa os números inteiros, existem outros tipos e os veremos mais adiante.
Para criar uma variável é necessário informar o seu tipo, um nome e um valor:
tipo nome valor
int numero = 2;
Porém a partir do Java 11 foi adicionado inferência de tipo, que significa que não precisamos dizer qual é o tipo de uma variável que a própria linguagem irá saber o seu tipo:
var numero = 2;
Basta adicionar a palavra reservada var que ele implicitamente irá entender que estamos trabalhando com um tipo numérico.
Porém o Java continua sendo fortemente tipado o que significa que uma variável não pode ser definida de um tipo e depois receber outro:
//Exemplo de código que não funciona
int numero = 1;
numero = "a";
Esse código não será compilado pela linguagem e receberemos uma mensagem de erro.
var numero = 1;
numero = "a";
Esse código também não será compilado e também receberemos uma mensagem de erro pois mesmo sem dizer qual o tipo da variável "numero" quando atribuímos o valor "1" para ela o próprio compilador já sabe que implicitamente essa variável é de um tipo numérico e sendo assim não poderia receber outro valor que não fosse um tipo numérico.
Constantes
Nem sempre teremos valores que são mutáveis e as vezes a intenção é que não seja possível que esse valor se altere. Por exemplo imaginando que exista um programa que faça contas matemáticas e utilize o número π (PI) para calcular a circunferência de um círculo:
double pi = 3.14159265359;
double circunferencia = pi * diametro = 2 * pi * raio;
Agora suponha que por algum descuido alguém mude o valor da variável pi, todos os lugares que usarem essa variável serão afetadas e o resultado estará errado o que pode causar inúmeros problemas como no exemplo abaixo:
double pi = 3.14159265359;
pi = 2;
double circunferencia = pi * diametro = 2 * pi * raio;
Para solucionar esse tipo de situação existem as constantes que são como variáveis porém o seu valor é definido uma única vez e não pode ser alterado. No Java não existe uma declaração explícita para uma constante como existem em outras linguagem, veja abaixo o exemplo de uma constante com JavaScript:
const pi = 3.14159265359;
No exemplo acima a palavra reservada const já indica que aquele valor não pode ser mudado, mas como estamos falando de Java vamos entender como ele lida com isso já que não possui uma palavra reservada para constantes.
No Java existem palavras reservadas que são usadas pela linguagem para alguns fins, entre elas existem duas que iremos destacar, a palavra reservada final e a palavra reservada static. A palavra reservada final é usada quando queremos que algo não possa ser modificado, seja uma variável, método ou classe (mais pra frente será explicado melhor) o que já parece ser um caminho pois com a palavra final uma variável declarada não poderá ser modificada. A palavra reservada static serve para indicar que algo pertence ao seu tipo e não a sua instância, eu sei que essa definição é meio confusa de entender ainda mais por que ainda não foi apresentado classes e instâncias, mas pense que isso significa que esse "algo", variável, classe ou método pode ser usado em outros pontos do programa sem que aja a necessidade de algumas burocracias que a linguagem exige. Colocando isso em prática uma constante ficaria assim:
static final double PI = 3.14159265359;
double circunferencia = PI * diametro = 2 * PI * raio;
Por convenção toda constante é escrita em letras maiúsculas e agora se por algum motivo alguém tentar alterar o valor da constante PI o compilador irá exibir uma mensagem de erro:
//Exemplo de código que não compila
static final double PI = 3.14159265359;
PI = 2;
double circunferencia = PI * diametro = 2 * PI * raio;
No exemplo acima criamos a constante PI porém no dia a dia podemos fazer uso da constante Math.PI do pacote java.lang.Math.
Tipos primitivos
Como dito anteriormente a linguagem Java é um linguagem fortemente tipada, isso significa que tudo, variáveis, constantes, métodos e classes são um tipo de dado. Existem dois tipos fundamentais no Java, os tipos primitivos e os tipos não primitivos. Aqui iremos ver o que são os dois e qual a controvérsia que existe sobre os tipos primitivos.
Um tipo primitivo é um valor diretamente guardado em memória, não é um objeto e sim o valor em si.
Parece ser contraditório já que a abordagem da linguagem é ser orientada a objetos e haver tipos primitivos, que são valores armazenados diretamente na memória, porém essa foi uma estratégia adotada pela equipe de desenvolvimento do Java, vamos entender quais são os tipos primitivos e quais valores podemos atribuir a eles:
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
Tipo | Primitivo | Menor | Maior | Valor Padrão | Tamanho | Exemplo
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
| byte | -128 | 127 | 0 | 8 bits | byte b = (byte) 1;
Inteiro | short | -32768 | 32767 | 0 | 16 bits | short s = (short) 1;
| int | -2.147.483.648 | 2.147.483.647 | 0 | 32 bits | int i = 1;
| long | -9.223.372.036.854.770.000 | 9.223.372.036.854.770.000 | 0 | 64 bits | long l = 1l;
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
Ponto Flutuante | float | -1,4024E-37 | 3.40282347E+38 | 0 | 32 bits | float f = 1.1f;
| double | -4,94E-307 | 1.79769313486231570E+308 | 0 | 64 bits | double d = 1.1; ou double d = 1.1d;
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
Caractere | char | 0 | 65535 | \0 | 16bits | char c = 'a'; ou char c = 194;
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
Booleano | boolean | false | true | false | 1 bit | boolean b = true;
----------------------|-----------|------------------------------|------------------------------|--------------|-----------|------------------------------------
Tipos não primitivos
Os tipos não primitivos são as classes e com isso é possível usar o paradigma de orientação a objetos, como herança, sobrecarga, sobrescrita e encapsulamento.
O Java possui várias classes que podemos usar e no exemplo abaixo iremos ver a classe String que representa um conjunto de caractéres e é usado para textos:
String texto = "Olá Mundo";
Como se trata de uma classe quando criamos uma variável do tipo String é criado um objeto e ganhamos ações (métodos) que podemos usar para trabalhar com textos, exemplo:
String texto = "Olá Mundo";
System.out.println(texto.toUpperCase());
System.out.println(texto.toLowerCase());
E se executarmos esse código a saída será:
OLÁ MUNDO
olá mundo
Foi usado o método println(string) da classe System que é método usado para exibir (printar) um texto no console.
Operadores aritméticos
Operadores aritméticos são usados quando é necessário executar operações matemáticas com variáveis e valores.
----------------------|-----------|------------------------------------|---------------------------------
Operação | Operador | Exemplo | Descrição
----------------------|-----------|------------------------------------|---------------------------------
Adição | + | x + y | Adição de valores
Subtração | - | x - y | Subtração de valores
Multiplicação | * | x * y | Multiplicação de valores
Divisão | / | x / y | Divisão de valores
Módulo | % | x % y | Retorna o resto de uma divisão
Incremento | ++ | x++ ou ++x | Incrementa o valor em 1
Decremento | __ | x-- ou --x | Decrementa o valor em 1
----------------------|-----------|------------------------------------|---------------------------------
Operador de atribuição
Nos exemplos anteriores já foi usado o operador de atribuição e como o próprio nome já diz ele é um operador usado para atribuir algum valor, o operador mais comum de atribuição é o = (igual) onde uma variável recebe um valor mas existem outros operadores e iremos ver os mais usados;
----------|---------------------|------------------------------------------------------------------------------
Operador | Exemplo | Descrição
----------|---------------------|------------------------------------------------------------------------------
= | x = 5 | Atribui o valor 5 para variável x
+= | x+= 5 ou x = x + 5 | Adiciona o valor 5 para a variável x
-= | x-= 5 ou x = x - 5 | Subtrai o valor 5 para a variável x
*= | x*= 5 ou x = x * 5 | Multiplica o valor de x em 5 vezes
/= | x/= 5 ou x = x / 5 | Divide o valor de x pelo número 5 e guarda o resultado na variável x
%= | x%= 5 ou x = x % 5 | Divide o valor de x pelo número 5 e guarda o resto da divisão na variável x
----------|---------------------|------------------------------------------------------------------------------
Um adendo aqui é que a temos o que é chamado de açúcar sintáxico em alguns operadores onde podemos escrever de forma mais resumida a expressão, onde x+= 5 tem o mesmo resultado que x = x + 5, as duas expressões fazem a mesma coisa mas a primeira é mais sucinta de escrever.
Operadores de comparação
Os operadores de comparação são utilizados para comparar valores e são muito usados em condicionais que serão mostradas mais adiante:
----------|----------------|----------|------------------------------------------------------------
Operador | Nome | Exemplo | Descrição
----------|----------------|----------|------------------------------------------------------------
== | Igualdade | x == y | Compara se o valor de x é igual ao valor de y
!= | Não igualdade | x != y | Operador usado para afirmar que dois valores não são iguais
> | Maior que | x > y | Compara se o valor de x é maior que o valor de y
< | Menor que | x < y | Compara se o valor de x é menor que o valor de y
>= | Maior igual | x >= y | Compara se o valor de x é maior ou igual que o valor de y
<= | Menor igual | x <= y | Compara se o valor de x é menor ou igual que o valor de y
----------|----------------|----------|------------------------------------------------------------
Existem outros operadores, porém foram demonstrados os mais usados no dia-a-dia.
Operadores Lógicos
Antes de entender os operadores lógicos vale a pena comentar sobre a tabela verdade, que é um dispositivo utilizado no estudo da lógica matemática. Com o uso desta tabela é possível definir o valor lógico de uma proposição, isto é, saber quando uma sentença é verdadeira ou falsa.
----------|----------------|-----------------|--------------------------------------------------------------------
Conectivo | Símbolo | Operação lógica | Valor lógico
----------|----------------|-----------------|--------------------------------------------------------------------
não | ~ | negação | Terá valor falso quando a proposição for verdadeira ou vice-versa
e | ^ | conjunção | Será verdadeira quando todas as proposições forem verdadeiras
ou | v | disjunção | Será verdadeira se pelo menos uma das proposições for verdadeira
----------|----------------|-----------------|--------------------------------------------------------------------
Para ilustrar melhor vamos ao seguinte exemplo:
1 < 2 ^ 2 > 1
A seguinte expressão pode ser lida: O número 1 é menor do que 2 E o número 2 é maior do que 1 o que torna essa expressão como VERDADEIRA.
Uma forma de simplificar a tabela verdade seria desse modo:
--|---|-----|--------- ---|-----
p | q | p^q | p v q p | ~p
--|---|-----|--------- ---|----
V | V | V | V V | F
V | F | F | V F | V
F | V | F | V
F | F | F | F
--|---|---------------
Agora trazendo isso para a linguagem Java, o que muda são os símbolos mas a lógica permanece a mesma e ao invés de termos o resultado dessas expressões como verdadeira ou falsa é usado true ou false e esse tipo de variável é do tipo boolean, um adendo que vale ressaltar é que essa lógica se chama Lógica Booleana em homenagem a George Boole que introduziu o tema em 1847.
Porém no Java não são usados os símbolos ~, ^, v para expressões booleanas, com exceção do operador ^ que é usado para outro operador lógico que não veremos aqui mas que para fins de conhecimento é o XOR ou chamado de OU Exclusivo; então para negação é usado o símbolo ! (exclamação), para conjunção é usado o símbolo & (E comercial) e para disjunção é usado o simbolo | (pipe) como no exemplo abaixo:
boolean verdadeiroConjuncao = (1 < 2) & (2 > 1);
boolean falsoConjuncao = (1 == 2) & (2 > 1);
boolean verdadeiroDisjuncao = (1 > 2) | (1 < 2);
boolean falsoDisjuncao = (1 > 2) | (2 > 3);
boolean negacao = !(1 == 1);
Conclusão
Começamos hoje uma série de artigos introdutórios ao Java, foi passado um pouco da história e conceitos básicos da linguagem no próximo artigo será apresentado o tema condicionais e laços de repetição.
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