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Juan Rodrigo de Oliveira Pinheiro
Juan Rodrigo de Oliveira Pinheiro

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Transição de carreira: os sacrifícios da escolha

Já que os textos até então têm sido bem claros, mostrando a parcialidade de cada pensamento, o texto de hoje será parcial (como todo o texto que existe) porém a tentativa será que seja o mínimo sobre o seu autor.

Então vamos falar sobre uma pessoa que está em transição de carreira. Ele se chama João Pereira. Como toda criança millennial que cresceu em um ambiente rico em cultura internacional, ouvindo LPs de Bob Dylan, Jimmy Cliff e Lionel Richie. Foi natural para João aprender inglês como segunda língua. Tornou-se professor com muito amor e com muito mais que inglês para ensinar, pois o ambiente de sala de aula é uma oportunidade de serviço ao próximo. João acredita que oferecendo o pouco que tem em seu coração (humano, errôneo porém bom) em forma de classes de inglês é uma forma de seguir exemplo dos que já passaram. O exemplo daqueles que acreditaram que servindo aos pequenos, a Deus o fazem.

João, no ano de 2022, como qualquer pessoa, sentiu a dor do luto. Perdeu seu pai para a disfunção renal. E tendo sido uma grande batalha tentando barganhar com a morte mais alguns anos de vida de seu pai, não pode fazer muito contra o fluxo natural da vida; ele perdeu seu pai apesar de inúmeros esforços feitos durante meses.

Ele, em setembro de 2022, viu a situação como a chamada para tomar responsabilidade de tornar-se algo parecido com seu pai, o provedor do lar. Casado e com sua mãe viúva, João viu nós primos programadores o sucesso que poderia ter. Ele decidiu entrar no mundo da programação. Construiu seu primeiro algoritmo em Portugol onde a pequena aplicação o saudava com um ‘tudo bem com você, João?’ logo após a mesma aplicação perguntar seu nome e depositar as quatro letras de seu nome em uma variável.

Dali em diante João iniciou sua jornada como desenvolvedor web. Aprendeu os fundamentos da programação em JavaScript sem perceber que isso lhe abriria portas para aprender muito mais em outras linguagens. Enquanto trabalhava do outro lado da cidade, ensinando língua inglesa de forma lúdica para bebês, João fez o que pode como pode para arrancar do desafio, o sucesso de aprender a programar. Com o passar do tempo João viu que aperfeiçoar qualquer técnica exige paciência e soube que deveria se apegar aos fundamentos de um programador, pois os frameworks e as linguagens mudam constantemente.

João sabe de seu potencial, principalmente como professor. Levando em conta tudo o que a profissão de educador oferecer e traz de benefícios (pequenos olhinhos admirados e atentos), João percebeu que apesar de linda e maravilhosa que é sua profissão, ele precisa sacrificar estes privilégios. Não só por si, mas por seu ecossistema; por sua família.

João tinha uma jornada de trabalho que exigia um transporte de 2h até seu trabalho é mais 2h para voltar. João então decidiu reduzir sua carga horária numa escola mais próxima de sua casa, e ganhando bem menos também. Nisso, João se viu equilibrado. Trabalhava pra ganhar algo no fim do mês, inspirava jovens do fundamental e ensino médio além de estudar programação com seus maiores esforços. Não detém nada absurdo ou incrível em seus repositórios do github, mas faz o que pode.

João, hoje exatamente, me disse que perdeu o emprego como professor perto de sua casa. Pela última vez pode sacrificar um dia de aula para investir tempo e energia na programação (pelo menos nesta escola).

Pode parecer uma história que queira gerar pena nos receptores dessa mensagem. Porém é a história de vários “Joãos” e “Marias”. Transicionar de carreira não é fácil. Exige sacrifícios muitas vezes cansativos é que permeiam o coração de um professor de medo. Coração este já indignado com o pouco caso que se faz com essa profissão sagrada. Uma pessoa educadora move o mundo, tentando responder perguntas e gerar soluções para o dia a dia de todos ao redor. Sem pessoas educadores não existiria dialética.

Nesta reflexão abstraímos que o sacrifício é intrínseco àqueles que se dispõem a mudar de carreira. Não se pode reclamar, foi a batalha que João escolheu. João me disse hoje que espera que todos esses sacrifícios não sejam vãos. Para João é triste deixar de receber um sorriso de uma criança aluna para receber várias respostas negativas de processos seletivos no mundo da programação.

A trajetória é longa, o caminho é desafiador, os obstáculos cansam, porém João segue firme fazendo seu melhor. João nunca vai desistir. É o que ele me diz todos os dias.

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