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Lucas Gaspar
Lucas Gaspar

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Arquitetura Monolítica

1 INTRODUÇÃO

A arquitetura monolítica é um dos modelos mais antigos e utilizados no desenvolvimento de software. Durante muito tempo, praticamente todos os sistemas foram criados seguindo esse padrão, principalmente pela limitação de tecnologias distribuídas e pela praticidade de reunir tudo em um único programa. Nesse modelo, toda a aplicação, interface, lógica de negócio e banco de dados é organizada em uma só unidade de execução(projeto). Isso facilita muito no começo, porque simplifica a implantação, os testes e até o entendimento do sistema. No entanto, quando o software cresce, começam a aparecer alguns problemas, principalmente relacionados à manutenção, escalabilidade e resiliência (FOWLER, 2015).

2 ARQUITETURA MONOLÍTICA

De acordo com Richards e Ford (2020), a arquitetura monolítica possui como principal característica o acoplamento entre seus módulos. Isso significa que as partes do sistema não funcionam de forma totalmente independente, mas sim como engrenagens de uma mesma máquina. Essa forma de construção torna a comunicação interna mais rápida e simples, mas, ao mesmo tempo, cria dificuldades quando surge a necessidade de mudar apenas uma parte sem impactar as demais. Martin Fowler (2015) reforça que, mesmo com limitações, muitas vezes faz sentido começar com um monólito, pois arquiteturas distribuídas como microserviços podem trazer um peso desnecessário em estágios iniciais do projeto.

Um exemplo de defesa dessa abordagem é dado por David Heinemeier Hansson (2016), criador do Ruby on Rails. Ele utiliza o termo 'Majestic Monolith' para se referir a sistemas grandes, mas organizados, que continuam trazendo resultados sem a necessidade de divisão em dezenas de serviços menores. Essa visão mostra que o monólito não precisa ser sinônimo de bagunça, mas pode ser uma escolha estratégica quando bem projetado.

3 VANTAGENS DO MODELO MONOLÍTICO

Na prática, grandes empresas mantêm sistemas monolíticos funcionando em escala global. O GitHub, por exemplo, ainda utiliza um monólito em Ruby on Rails, com milhões de linhas de código e milhares de desenvolvedores trabalhando ao mesmo tempo, além de realizar implantações diárias (GITHUB ENGINEERING, 2024). Outro exemplo é o Shopify, que segue a linha do 'monólito modular', em que a aplicação continua sendo um único sistema, mas organizado em componentes menores com regras claras de dependência (SHOPIFY ENGINEERING, 2020). Já o Basecamp defende abertamente manter sua aplicação como um monólito para reduzir custos de complexidade e manter a produtividade da equipe (HANSSON, 2016).

Além de exemplos globais, vale destacar que muitos sistemas menores, como ERPs de pequenas empresas, softwares para academias(Next Fit Sistemas) e escolas, e sistemas de controle interno em organizações, também seguem a arquitetura monolítica. Isso acontece porque a simplicidade desse modelo atende bem às necessidades iniciais e mantém os custos baixos, principalmente em contextos onde não há equipes grandes de tecnologia ou exigências de escalabilidade massiva.

4 LIMITAÇÕES E DESAFIOS

Por outro lado, as desvantagens ficam evidentes à medida que o sistema cresce. Um dos maiores problemas é a resiliência: como todos os módulos estão no mesmo processo, uma falha em um ponto pode derrubar o sistema inteiro (IBM, 2024). Outra limitação é a implantação: mesmo para pequenas mudanças, é necessário recompilar e redistribuir toda a aplicação, o que aumenta o risco de falhas em produção (AWS, 2023). Também existem dificuldades de escalabilidade, pois muitas vezes o sistema precisa ser replicado por inteiro, aumentando os custos de infraestrutura (VERNON; JASKUŁA, 2021).

Segundo Bucchiarone et al. (2018), várias empresas que começaram com monólitos acabam migrando para microserviços quando o crescimento exige mais independência entre equipes e partes do sistema. Essa migração, porém, não é simples: envolve reestruturação do código, reorganização da equipe e novas práticas de operação. Por isso, muitos especialistas recomendam um caminho intermediário, que é o 'monólito modular', para reduzir os riscos dessa transição e manter a evolução mais controlada.

5 EXEMPLOS PRÁTICOS E APLICAÇÕES

Casos como GitHub, Shopify e Basecamp são os mais conhecidos, mas não são os únicos. Muitas startups começam suas operações com sistemas monolíticos pela facilidade de desenvolvimento e pela necessidade de colocar o produto no mercado rapidamente. Um exemplo claro é a Next Fit Sistema, onde cerca de 70% de sua arquitetura é feita em monólito. O que hoje está em microsserviços são detalhes, como o sistema de notificações. Além disso, em setores como educação, saúde e pequenas indústrias, ainda é muito comum encontrar sistemas de gestão funcionando como monólitos. Isso mostra que essa arquitetura não está restrita apenas ao passado, mas segue atual em várias áreas.

6 CONCLUSÃO

A arquitetura monolítica foi, por muito tempo, o padrão natural de desenvolvimento de sistemas e, mesmo com o avanço das arquiteturas distribuídas, ainda permanece como uma opção válida em muitos contextos. Sua principal força está na simplicidade: é mais fácil de começar, mais barato de manter no início e mais simples de implantar. Por isso, ainda é muito usada tanto em grandes empresas, como o GitHub e o Shopify, quanto em pequenos sistemas corporativos e educacionais.

No entanto, os problemas de resiliência, escalabilidade e manutenção a longo prazo não podem ser ignorados. Quando a aplicação cresce muito, o monólito pode se tornar um gargalo e exigir mudanças de arquitetura. O ponto central é que o monólito não deve ser visto como algo ultrapassado ou errado, mas como uma escolha que precisa ser adequada ao tamanho do projeto e aos objetivos da organização. Em resumo, é uma solução que pode ser tanto estratégica quanto limitadora, dependendo do contexto em que é aplicada.

7 REFERÊNCIAS

AWS. Monolithic vs. Microservices: Key Differences. AWS, 2023. Disponível em: https://aws.amazon.com.
BUCCHIARONE, A. et al. From Monolithic to Microservices: An Experience Report from the Banking Domain. IEEE Software, v. 35, n. 3, 2018.
FOWLER, M. Monolith First. MartinFowler.com, 2015. Disponível em: https://martinfowler.com/bliki/MonolithFirst.html.
GITHUB ENGINEERING. Building GitHub with Ruby and Rails. GitHub Blog, 2024.
HANSSON, D. H. The Majestic Monolith. Basecamp Blog, 2016.
IBM. Monolithic vs. Microservices. IBM Cloud, 2024. Disponível em: https://www.ibm.com.
RICHARDS, M.; FORD, N. Fundamentals of Software Architecture. O’Reilly Media, 2020.
SHOPIFY ENGINEERING. Under Deconstruction: The State of Shopify’s Monolith. Shopify Blog, 2020.
VERNON, V.; JASKUŁA, T. Strategic Monoliths and Microservices. Addison-Wesley, 2021.

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