DEV Community

Cover image for Programação por amor ou por dinheiro?
moke (Leandro Gonçalves)
moke (Leandro Gonçalves)

Posted on

Programação por amor ou por dinheiro?

No final de 2022, a usuária do TikTok @akaliueda fez um vídeo cuja descrição diz

"Se engana quem acha que vc precisa ser apaixonado por programação pra ter uma carreira em TI".

O vídeo viralizou.

Link do vídeo no TikTok: https://www.tiktok.com/@akaliueda/video/7171280174011518214

A Polêmica

No vídeo Akari diz que é programadora, mas que não gosta de programar. Ela conta sobre como pensou em desistir do curso de programação por ouvir outras pessoas falando que gostavam de programar em seu tempo livre; como ela não tinha o mesmo sentimento achava que o curso não era para ela.

Resolveu então fazer o vídeo para mostrar o seu exemplo: programar não porque gosta mas porque paga muito bem. Conclui então fazendo um manifesto contra a ideia de que é preciso amar o trabalho - "trabalhe com aquilo que dá dinheiro e que resolve a sua vida, para que você possa fazer o que ama fora do horário de trabalho".

Como geralmente acontece na internet, opiniões fortes geram respostas com opiniões fortes. Algumas até desrespeitosas, diga-se de passagem, geralmente vindas de pessoas (na sua maioria homens) que não sabem fazer um contraditório sem um ad-hominem.

Até o momento o vídeo possui 31700 likes e 857 comentários no TikTok. No Twitter a repercussão continuou e até aumentou de tamanho.

Trabalho ou prazer?

Não há nada de errado em encarar um trabalho apenas como algo que garante o sustento no final do mês. Milhares de pessoas se sujeitam a trabalhos duros e inglórios todos os dias e que nem por isso são menos nobres. Ô fazem não por amor, mas porque isto que lhes permite sobreviver.

Porém, há quem veja a escolha da profissão por dinheiro como uma desonra ao ofício: "essas pessoas estão ocupando lugares que poderiam estar sendo utilizados por quem realmente ama a profissão".

Românticos de um lado, pragmáticos de outro.

Nesse embate não existe apenas uma forma de viver, uma trajetória a seguir. É possível trabalhar pelo dinheiro, é possível amar o que faz, não são excludentes e nem precisam ser. Ter ambos porém é um privilégio que muitos não possuem.

Precisamos programar fora do horário de trabalho?

Você pode ser alguém que faz o que lhe pedem com qualidade, entrega as coisas dentro do prazo, mas que ao fim do expediente quer fazer qualquer coisa menos programar.

Não tem nada de errado nisso. Mesmo.

Entretanto como qualquer profissão técnica quanto mais você estuda e pratica mais experiência você adquire, melhor você fica. Isso vai ter reflexo na sua carreira e pode ter um grande impacto no quanto você vai ganhar ao final.

Não gosto de programar, será que estou na carreira certa?

A carreira é vasta e existem muitas funções onde ter noção de programação é importante, mas não uma necessidade do dia-a-dia. Para perceber todas as possibilidades que a carreira oferece é aconselhável conversar com pessoas de diferentes funções sobre como é a rotina de trabalho delas. Importante também dar tempo ao tempo para que você possa experimentar coisas diferentes na área.

Ainda assim, pode ser que ao final de tudo isso você perceba que realmente não é a carreira que vai lhe fazer feliz. Neste caso só cabe a você decidir se o dinheiro e a qualidade de vida bastam, ou se você quer buscar aquilo que vá realmente trazer um sentimento de realização.

Não tenha medo de experimentar. Mudar de carreira ou experimentar novas funções não são um caminho sem volta.

Trabalho e Felicidade

Depois desse vídeo houve muitos relatos de pessoas dizendo que não existem trabalhos que as façam feliz. Isso me deixa um pouco triste por essas pessoas, mas não estamos na pele delas, não cabe a ninguém julgar.

Posso falar sobre a minha relação com o trabalho e com a felicidade.

Eu trabalho com programação desde 2004. A profissão para mim sempre foi mix de tarefas chatas com outras desafiadoras e recompensadoras. Há dias em que não consigo encontrar motivação para o que tenho que fazer. Outros no entanto, são muito gratificantes.

Esses momentos ocorrem quando supero minhas próprias expectativas e vejo soluções que saíram da minha cabeça causando um impacto positivo para os clientes e para as pessoas que trabalham comigo. Ou quando sinto que estou no domínio da situação e sei bem o que tenho que fazer. Ou quando consigo ajudar um colega e recebo um "muito obrigado" sincero.

Não é amor à empresa, isso é besteira. É um sentimento de ser útil, de ter o meu valor e de ser recompensado por isso. É um sentimento bom. Também é um sentimento bom quando conseguimos utilizar com qualidade nossas habilidades adquiridas durante muitas horas em que ficamos estudando algo enquanto podíamos estar fazendo qualquer outra coisa mais prazerosa. É o sentimento de esforço recompensado que geralmente costuma trazer frutos lá na frente.

Estudar e querer crescer na profissão teve um efeito colateral na minha vida: me levou à diferentes países, me fez conhecer pessoas maravilhosas e ter experiências engrandecedoras. Não amo tudo na minha profissão, mas amo muitas coisas e tudo que elas ainda me proporcionam.

Trabalho e Infelicidade

Ocorre de estarmos contaminados pelo ambiente de vez em quando. Não estar feliz com o trabalho não é necessariamente um problema com sua carreira.

Pode ser uma questão de adequação: não gostar das tarefas que executamos porque estamos trabalhando com uma tecnologia que não gostamos, ou estamos fazendo uma função que não nos sentimos bem fazendo, ou não temos uma boa relação com o chefe, ou com os colegas, ou não estamos mais felizes com a empresa.

Tudo isso pode fazer com que o trabalho pareça um suplício. Mudar de ares pode ser milagroso às vezes.

Conclusão

Não importa se você escolheu uma trajetória onde a felicidade que você busca está no fim. Mas vai ser bem mais agradável se ela estiver no meio também.

Busque o que lhe faz feliz no trabalho e maximize isso.

Cover image by Magnet.me on Unsplash

Top comments (0)