No desenvolvimento de software moderno, uma das decisões mais críticas é como estruturar o acesso a dados. O padrão Repository emergiu como uma das soluções mais elegantes para este desafio, criando uma camada de abstração entre sua lógica de negócios e os mecanismos de armazenamento. Neste artigo, vamos explorar:
- O que é o padrão Repository e por que ele foi criado;
- Como ele se diferencia de outras abordagens;
- Seu relacionamento com outros padrões como Unit of Work;
- Quando usar (e quando não usar) esta abordagem;
Nos primórdios do desenvolvimento de aplicações, o acesso a dados era frequentemente implementado de forma direta e desestruturada. Os desenvolvedores escreviam queries SQL diretamente nos controllers, resultando em:
- Alto acoplamento: A lógica de negócios ficava intimamente ligada ao esquema do banco de dados;
- Dificuldade de teste: Era complexo isolar componentes para testes unitários;
- Falta de padronização: Diferentes partes do sistema acessavam dados de formas distintas;
- Complexidade na manutenção: Mudanças no esquema do banco exigiam alterações em múltiplos pontos do código;
// Exemplo do problema: acesso direto a dados no controller
public class ProdutoController : Controller
{
public IActionResult Listar()
{
using (var connection = new SqlConnection(connectionString))
{
var produtos = connection.Query<Product>("SELECT * FROM Products");
return View(produtos);
}
}
}
O padrão Repository foi formalizado como parte do Domain-Driven Design (DDD) por Eric Evans em seu livro seminal de 2004. A ideia central era:
"Fornecer uma abstração de coleção em memória para objetos de domínio, escondendo os detalhes de como e onde esses objetos são persistidos."
Esta abordagem trouxe vários benefícios:
- Separação de preocupações: A lógica de negócios não precisa saber como os dados são armazenados;
- Testabilidade: Podemos facilmente mockar o Repository para testes unitários;
- Flexibilidade: A fonte de dados pode ser trocada sem afetar o domínio;
- Consistência: Todas as operações de dados seguem o mesmo padrão;
O padrão Repository ocupa um espaço único no ecossistema de acesso a dados, diferenciando-se significativamente de outras abordagens comuns. Para entender seu valor, vamos contrastá-lo com três alternativas principais:
Repository vs Acesso Direto ao Banco
Antes da popularização dos ORMs, era comum ver aplicações acessando bancos de dados diretamente:
// Abordagem tradicional sem Repository
public List<Cliente> GetClientesPremium()
{
using (var connection = new SqlConnection(connectionString))
{
return connection.Query<Cliente>(
"SELECT * FROM Clientes WHERE Premium = 1").ToList();
}
}
Problemas:
- SQL hardcoded em toda a aplicação;
- Difícil manutenção quando o esquema muda;
- Quase impossível de testar unitariamente;
O Repository resolve isso encapsulando todas as operações de dados em uma única camada.
Repository vs ORM Direto (Entity Framework Core)
Muitos desenvolvedores questionam: "Por que usar Repository se o EF Core já é uma abstração?"
// Uso direto do DbContext (sem Repository)
public class ProdutoService
{
private readonly AppDbContext _context;
public ProdutoService(AppDbContext context)
{
_context = context;
}
public List<Produto> GetProdutosEmEstoque()
{
return _context.Produtos.Where(p => p.Estoque > 0).ToList();
}
}
Diferenças chave:
- Nível de abstração: Repository esconde completamente o ORM usado;
- Flexibilidade: Facilita trocar EF por Dapper ou outro ORM;
- Contrato explícito: Interface do Repository define claramente as operações disponíveis;
Repository vs Micro ORMs (Dapper)
Enquanto Dapper é excelente para performance, ele não oferece:
- Abstração de operações CRUD;
- Gerenciamento de estado;
- Fácil substituição por outra tecnologia;
O Repository adiciona essa camada organizacional.
O Repository raramente trabalha sozinho. Ele faz parte de um ecossistema de padrões:
Repository + Unit of Work
A combinação mais clássica e poderosa:
Vantagens:
- Controle transacional centralizado;
- Coordenação entre múltiplos repositories;
- Padronização de operações de persistência;
Repository + Specification Pattern
Para queries complexas:
public interface ISpecification<T>
{
Expression<Func<T, bool>> Criteria { get; }
List<Expression<Func<T, object>>> Includes { get; }
}
public class ProdutosEmEstoqueSpec : ISpecification<Produto>
{
public Expression<Func<Produto, bool>> Criteria => p => p.Estoque > 0;
public List<Expression<Func<Produto, object>>> Includes => new() { p => p.Categoria };
}
Repository + CQRS
Em arquiteturas mais avançadas:
[Command Side] → [Repository] → [Banco de Dados]
[Query Side] → [Queries Diretas] → [Cache/Read Model]
Casos Ideais para Repository
Para ajudar a decidir quando o padrão Repository é a escolha certa, veja este fluxograma de decisão:
O padrão Repository, quando aplicado corretamente, oferece:
✔ Separação clara de responsabilidades;
✔ Flexibilidade tecnológica;
✔ Testabilidade aprimorada;
✔ Manutenibilidade a longo prazo;
Porém, como qualquer padrão, não é uma solução universal. A chave está em:
- Avaliar as necessidades reais do projeto;
- Implementar de forma moderada;
- Manter o foco no domínio;
Em projetos .NET modernos, uma abordagem equilibrada pode ser:
- Usar Repository para operações de escrita/comando;
- Usar abordagens mais diretas (Dapper, queries) para leitura;
Referências Úteis
📌 Repository Pattern (Microsoft Docs)
📌 Repository Pattern (Martin Fowler)
E você? Como tem utilizado o padrão Repository em seus projetos? Compartilhe suas experiências nos comentários!
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