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Kevin Toshihiro Uehara
Kevin Toshihiro Uehara

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Um artigo falando sobre um engenheiro de software com ansiedade

Olá, pessoas! Tudo bem com vocês? Tudo certinho? Espero que estejam bem!

Finalmente um artigo em português mas que vou poder me expressar e falar um pouco sobre como convivo com uma pessoa no meu ombro, chamado ansiedade.

Este post não tem muito a ver com tecnologia, framework, arquitetura, frontend etc... como sempre vivo falando. Mas no fim, vai acabar possuindo relação.

O objetivo esse artigo não é ser um texto coach dizendo que sempre estou bem, ou trabalhar 24/7 é o que me motiva, ou que amo intensamente trabalhar, ou falar sobre meritocracia, ou me vitimizar.

Na verdade nem sei dizer realmente, qual é o objetivo desse texto. Mas gostaria de compartilhar com vocês algumas experiências que tive durante o tempo como desenvolvedor, o que o tempo me ensinou, crises que acabei passando e algumas leituras que caso, você se veja ou esteja passando por alguma situação que relatei, possa te ajudar.

Resumo da minha jornada até aqui

Lembro de desde criança minha rotina sempre foi meio maluca. Logo na oitava série (acho que hoje é chamado de nono ano) eu fazia junto um cursinho de tarde (que agradeço demais meus pais sempre estarem me apoiando nos estudos). Pois meu sonho era passar em um colégio técnico. E meu sonho era passar no Colégio Técnico de Campinas (Cotuca).

Meu pai também é desenvolvedor e coordenador, então desde criança convivi com um pouco com a tecnologia. Mas que sempre me brilhava os olhos pois achava algo curioso. Meu pai foi e sempre será a minha inspiração na área de tecnologia, pois ele me moldou, ensinou o básico e me trouxe a esse mundo.

E assim aconteceu minha primeira frustração. Mesmo EU me cobrando sempre, fazendo cursinho no período da tarde, acabei não passando no Cotuca (chamado de vestibulinho, pois há uma prova para entrar) e o curso que eu queria, 'informártica' era um dos mais concorridos. Pois era o ténico junto com o ensino médio.

Acabei entrando no Colégio Culto à Ciência, no ensino médio. Já pontuando, que foi um dos lugares mais importantes na minha vida e foi onde conheci os maiores amigos, e pessoas que são extramamente importantes na minha vida hoje.

Enfim, durante o primeiro ano estudava no período da manhã (2014). Até que houve a decisão que a partir do segundo ano, o colégio seria de período integral (2015). Mas enfim acabei também passando no Cotuca, porém apenas no técnico, no período noturno (que durava 2 anos). Resumindo, durante o segundo e terceiro ano, estudei o ensino médio das 8 da manhã até umas 16:30. E logo em seguida as 18:00 tinha que estar me preparando para ir para o técnico das 19:00 até 23:00.
Doido a rotina, não?

Não reclamo, pois sei de muitas pessoas que trabalham ou possuem uma rotina tão pesada quanto e muitas vezes conciliar com a família.

Para um adolescente, acabou me levando ao meu primeiro diagnóstico durante esse período. A depressão. Houve um momento em que houve tanta coisa para fazer e conciliar que simplesmente tive um burnout durante a escola. Até o momento, de não conseguir sair da cama. Me sentindo uma completa casca vazia. Fiz tratamento e consegui controlar as crises.

Ao término do ensino médio e técnico, já tive a oportunidade de me tornar estagiário em uma empresa, CPqD. Após um ano (acredito que era 2018). E logo em seguida ser efetivado!! Então, decidi fazer cursinho para prestar o vestibular. Novamente acabei entrando na rotina maluca, agora trabalhando e estudando.

Enfim acabei passando na Unicamp, no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (2019). Foi uma baita alegria para mim!
Só que o campus desse curso não era em Campinas, mas em Limeira.

Após 3 anos na empresa que entrei como estagiário, acabei entrando em outra empresa. A Sympla, lugar esse que me encontrei como front-end e decidi que queria me aprofundar na área. Encontrei pessoas incríveis, ia para um escritório com um horário flexível e vi o mundo da tecnologia de forma diferente. Além da ser minha primeira experiência trabalhando com produto.

E novamente, minha rotina era trabalhar e logo em seguida às 17:00 em ponto pegar uma van para ir para Limeira e chegar em casa por volta das 00:30-1:00 da manhã.

Senti que novamente as crises estavam voltando e decidi realizar o tratamento psiquiátrico que havia parado (mesmo sem tempo rs). Até que chegamos no período mais horrível de todos. A Covid (2019-2020).

Acredito que não foi apenas eu, mas o sentimento de trabalhar em casa, não sair, não ter contanto com ninguém (sinto que era o certo) acabou afetando a saúde mental de milhares de pessoas.

Durante esse período as aulas viraram remotas e eu trabalhava home office. O que tornou minha rotina um pouco mais "tranquila" já que sempre estava em casa. Mas a saúde mental ainda continuava ruim.

De anos para cá passei por várias empresas, desde a Wavy (atualmente Sinch), CVC Corp, CI&T e atualmente na empresa que mais me sinto bem e acolhido pelo meu time: IFood.

Até o presente momento que estou escrevendo esse artigo, acredito que estou há 1 ano e 3 meses no ifood. Tive e tenho experiência incríveis e desafios enormes. Quando entrei era o único frontend de dois times, mas a recepção e companherismo do time sempre me ajudou a ter segurança e confiança.

Gostaria de agradecer ao meu time Location e principalmente minha líder e manager Juliane Mazucki. Pois com o apoio dela e a confiança que ela depositou em mim e sempre me ajudar, foi o que me motivou e continua motivando.

Tenho pouco tempo de empresa, mas posso afirmar que esse 1 ano e pouco, parece que se passaram pelo menos uns 5 anos. Várias entregas e o crescimento e reconhecimento do time. Criação de novos produtos, tríade de produto/design/engenharia no mesma direção tornaram um time reconhecido e incrível.

Mas também houve momentos bem tensos. Todas as empresasa possuem metas a bater. Entregas que precisamos fazer. Ser o único front do time acabava me deixando um pouco ansioso, pois além disso eu estava cross em dois times.

Não estou em nenhum momento reclamando ou falando mal da rotina de entregas. Mas estou falando de "MIM". A pessoas que sempre me cobrou, julgava, acreditava que talvez não ia conseguir fazer ou lidar com entregas. EU. Eu era o problema de tudo.

Havia uma voz na minha cabeça que gritava que eu não iria conseguir, a voz da síndrome do impostor. A voz que diz que e se não der? Vai ter que trabalhar até mais tarde para terminar a tarefa, senão vai ser julgado! A voz que ecoava na minha cabeça não parava.

Até um dia ia ao pronto socorro, pois não estava me sentindo bem (sozinho) e ser diagnosticado com: síndrome do pânico.

Alguns sintomas que eu sentia durante os meus dias eram: falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, palpitação, pressão no peito e garganta. E principalmente: tremor. Tremor nas mãos, que me faziam ter vergonha de sair em público, pois não conseguia segurar uma caneca sem tremer, ou tirar uma selfie porque não conseguia focar pois as mãos tremiam.

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Continuo fazendo tratamento para essa doença, porém atualmente me sinto bem melhor. Sempre tive problemas com ansiedade e insônia, além de ser diagnosticado com dermatite atópica desde criança (problema de pele e alergias).
Mas em resumo hoje me sinto bem melhor, graças aos medicamentos e de vez em quando os tratamentos com terapias.

E assim, terminho minha jornada como engenheiro de software e como a rotina, e o meu eu, acabaram me afetando psicologicamente.

Tempo

Uma das poucas coisas que tenho medo e estou tentando aprendendo a lidar: o tempo. O tempo, um cara sem piedade, que pode tirar e dar ao mesmo "tempo". A ansiedade de não saber o que vai acontecer amanhã, daqui 5 horas, daqui 10 minutos.

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Existe um poema que a cultura pop sempre gosta de citar: Ozymandias. Desde Breaking Bad, How I meet your mother, Watchmen etc..

O tema principal do poema é sobre o tempo e poder. Segue da seguinte forma:

Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis:
Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.

O poema fala de um grandioso e poderoso rei, chamado Ozymandias que um dia teve seu tempo glorioso. Mas o tempo levou tudo e nada sobrou, apenas suas ruínas.

Estranho não? Este poema sempre me faz pensar na que a vida é estável, tudo muda. O tempo não para e nunca vai parar para você e nem para mim. O agora, o presente, é o único momento é importante. Apreciar os pequenos momentos do agora e evitar pensar toda hora no futuro e no que "pode" acontecer, nos faz ficar presos em um ciclo. Não aproveitar o presente. E logo após, ficar remoendo por não ter aproveitado mais.
Foi o que sempre sinto e por exemplo, o que sinto de alguns momentos do passado.

Acredito que o Tempo é um tema interessante para quem está passando por uma ansiedade. Evitar pensar no futuro, e experienciar o agora. Deixar de pensar no que pode acontecer de errado as vezes é inevitável. Mas lembre-se de que o agora pode ser mais importante do que algo que pode nunca acontecer em um futuro.

Dicas de filmes para esse assunto: Assistam Interstelar e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Sociedade do cansaço

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Um livro que li recentemente do autor Byung-Chul Han de mesmo nome desse tópico, me fez repensar muita coisa, principalmente da vida que levo no trabaho. Segue o texto de orelha do livro:

Os efeitos colaterais do discurso motivacional, O mercado de palestras e livros motivacionais está crescendo desde o início do século XXI e não mostra sinais de desaquecimento. Religiões tradicionais estão perdendo adeptos para novas igrejas que trocam o discurso do pecado pelo encorajamento e autoajuda. As instituições políticas e empresariais mudaram o sistema de punição, hierarquia e combate ao concorrente pelas positividades do estímulo, eficiência e reconhecimento social pela superação das próprias limitações. Byung-Chul Han mostra que a sociedade disciplinar e repressora do século XX descrita por Michel Foucault perde espaço para uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal. As pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados - tornando elas mesmas vigilantes e carrascas de suas ações. Em uma época onde poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa: nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. Essa onda do 'eu consigo' e do 'yes, we can' tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout. Este livro transcende o campo filosófico e pode ajudar educadores, psicólogos e gestores a entender os novos problemas do século XXI.

Este livro me trouxe alguns pensamentos de como eu estava me cobrando, principalmente no trabalho. Aquela voz interna, novmente, dizendo "você precisa fazer e entregar!!!". Acabava que fazendo trabalhar mais do que deveria, sendo que o próprio time dizia para eu ir com mais calma durante as sprints (ciclo do Scrum). A auto cobrança acabava me gerando burnout e só aumentava o ciclo de ansiedade que eu tinha.
Então recomendo muito a leitura desse livro.

As coisas que você só vê quando desacelera: Como manter a calma em um mundo frenético

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Último livro que li recentemente, do autor: Haemin Sunim. Ele traz algumas dicas e experiência para lidar com a ansiedade em um mundo frenético. Apesar do livro aparentar ser um pouco grande, foi uma leitura leve e rápida. Visto que o maior tema do livro é trazer dicas de como "viver". O própria texto de apresentação do livro já nos traz o que iremos encontrar na obra:

De tempos em tempos, surge um livro que, com sua maneira original de iluminar importantes temas espirituais, se torna um fenômeno tão grande em seu país de origem que acaba chamando a atenção e encantando leitores de todo o mundo.

Escrito pelo mestre zen-budista sul-coreano Haemin Sunim, As coisas que você só vê quando desacelera é um desses raros e tão necessários livros para quem deseja tranquilizar os pensamentos e cultivar a calma e a autocompaixão.

Ilustrado com extrema delicadeza, ele nos ajuda a entender nossos relacionamentos, nosso trabalho, nossas aspirações e nossa espiritualidade sob um novo prisma, revelando como a prática da atenção plena pode transformar nosso modo de ser e de lidar com tudo o que fazemos.

Você vai descobrir que a forma como percebemos o mundo é um reflexo do que se passa em nossa mente. Quando nossa mente está alegre e compassiva, o mundo também está. Quando ela está repleta de pensamentos negativos, o mundo parece sombrio. E quando nossa mente descansa, o mundo faz o mesmo.

Algumas dicas desse livro que deixei anotado:

O primeiro:

Quando sai de casa para ir ao trabalho,
você se pergunta:
"Será que terei que passar a vida inteira assim?"
Tente mudar sua postura:
acorde um pouco mais cedo
e sente-se em sil6encio, como se estivesse metidando.
Inspire fundo e devagar,
e se pergunte como o seu trabalho ajuda outras spessoas,
não importa quão insignificante ou indireta essa ajuda
possa parecer
Quando se concentra mais nos outros,
você pode se reconectar com o significado e o propósito
do seu trabalho

O segundo:

Mesmo que você tenha apeans um sonho simples,
não guarde-o para si. Fale para os outros sobre ele.
Quando você tiver dito a dez pessoas, ele já estará
mais perto de see realizar

O terceiro:

para continuar trabalhando por um longo tempo,
não trate o que você faz apenas como trabalho.
Enxergue-o como uma fonte de alegria e crescimento.
O caminho para a felicidade não é apenas encontrar
um bom emprego,
mas também aprender a gostar do que
você é pago para fazer

Tem vários outros que anotei. Mas esses me refletindo. Esse livro não foi feito para se ler rápido. Mas ler e refletir sobre cada assunto ou texto. Foi uma experiência bem agradável e leve.

O Fim?

Como falei esse artigo não tem nenhum objetivo a não ser contar minhas experiências, como lidei (estou lidando) e passar algumas dicas e referências que podem te ajudar, caso esteja passando por um momento conturbado ou apenas tenha curiosidade.

Faça coisas que te agregem e deixem você feliz, desliguem você do mundo. Hobbies. Para mim, a academia vêm sendo uma grande forma de passar o tempo após o trabaho e me desligar e focar em outra coisa. Escrever artigos e compartilhar conhecimento sobre tecnologia, mesmo que possa ter a ver com trabalho, é algo que também vem me deixando feliz e distraído.

Também lembre-se de que o seu problema não é o mesmo que o do outro. Simpatia é diferente de Empatia. Ser uma pessoa simpática com outra nem sempre se refere a deixar a confortar a outra pessoa. Empatia, é se colocar no lugar da outra, entender sua dor ou que está sentindo e tentar ajudar e tentar confortá-la sem invadir seu espaço.

Vídeo explicando isso: https://www.youtube.com/watch?v=_7BTwvVBrwE

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Não sei o que vai acontecer amanhã, novamente, o tema do tempo. Mas o meu de agora está feliz de estar escrevendo esse texto falando um pouco sobre mim. Talvez outras pessoas possam se identificar.
Meu papel aqui é só trazer como lidei com tudo isso, mas como as coisas no fim estão dando certo. E é sobre isso.

Lembrem-se que vocês não estão sozinhos.
Fiquem bem sempre!

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