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Lucas Santos
Lucas Santos

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Básicos da Negociação Salarial para Devs no Brasil

Recentemente achei um artigo muito interessante sobre negociação salarial para pessoas desenvolvedoras. Todas as dicas são extremamente importantes e quase todas são muito válidas, para devs fora do Brasil. Infelizmente nossa realidade social aqui na terra das palmeiras onde canta o sabiá é um pouco diferente.

Baseado nisso, e em alguns pedidos que recebi via Twitter, resolvi escrever um artigo explicando um pouco do que minha própria experiência diz sobre negociação salarial para desenvolvedores e desenvolvedoras.

Primeiramente vamos a uma introdução.

Por que negociar seu salário?

Poucas pessoas tem essa visão, mas um emprego, qualquer que seja, nada mais é do que um contrato entre o contratante e o contratado. Neste contrato, o contratado, que no nosso caso é você, está concordando em ceder tempo, força de trabalho e poder intelectual em troca de um pagamento e/ou benefícios. Portanto, como em qualquer contrato, grande parte da sua vantagem está em poder negociar os termos do mesmo.

Portanto, estar trocando de emprego nada mais é do que uma negociação por quem pode oferecer os melhores termos e as melhores condições para ambos os lados. Nos tópicos a seguir, vamos tratar de situações mais reais, todos sabemos que não é fácil negociar e é necessário ter um certo tato com palavras para isso, mas não é impossível e tampouco seletivo, todos podem faze-lo.

Situações de negociação

Antes de entrar diretamente nas dicas e truques para ficar atento, vamos a algumas situações comuns no dia-a-dia onde sempre ficamos meio sem reações ou então não temos ideia de como começar.

Vou trocar de emprego, devo aumentar meu salário?

Via de regra a resposta é simples: sim! Porém nem sempre isso é válido. Em casos gerais, devemos sim sair de um emprego e procurar outro que está pagando mais, mas quanto a mais? Isso é bastante relativo, o artigo que citei anteriormente diz que o ideal é procurar 10% a mais do salário e tentar negociar mais 10% em cima disso, eu já sou um pouco mais radical, mire sempre no dobro ou perto disso. Isto porque vislumbrar uma possibilidade de dobrar o seu pagamento pode te fazer enxergar melhor algumas possibilidades de negociação, obviamente as chances de você dobrar o valor são baixas, mas sempre viva pelo lema: O não você já tem.

Quase todas as pessoas dão importância maior ao salário na hora de escolher um emprego, porém esta não é a única informação a ser levada em contra quando estamos pleiteando por um emprego. Muitas vezes empregos com salários altos e muitos benefícios vão exigir muito mais tempo de você de forma que você mesmo(a) não vai ter tempo suficiente para usufruir do que estão te pagando. Portanto é importante saber pesar quando escolher um salário alto em detrimento de qualidade de vida. Sempre opte pela qualidade de vida.

Muitas vezes uma empresa te oferece um salário menor, porém uma capacidade de crescimento maior, com mais cargos, maiores planos de carreira, neste caso pode ser interessante pensar na estratégia de "dar um passo para trás para pular dois para frente", tente não pensar a curto prazo.

Me pagam menos do que meu emprego anterior

Isto deve ser levado com cautela. Quando estamos falando de salários, muitas vezes pensamos muito a curto prazo – até de forma imediatista – porém, em uma negociação deste tipo o ideal é sempre pensar de médio a longo prazo. Não pense como você vai estar com este salário no próximo mês, mas sim nos próximos 6 meses, mas tenha cuidado, faça isso apenas quando você tiver certeza de que seu empregador pode te dar condições de crescimento e aumento de salário.

As vezes o fator de compensação vem em benefícios ao invés de dinheiro. Se um emprego pode te dar um benefício que seja equivalente em termos de ganhos ao valor do salário, pode ser que valha a pena ganhar um pouco menos em detrimento disso.

P.F ou P.J?

Isto ainda não é muito unânime no Brasil, algumas empresas ainda contratam profissionais PF, enquanto outras empresas somente contratam profissionais PJ. A diferença aqui está em sua capacidade de gerir e controlar suas próprias finanças. Isso também vai um pouco de gosto, eu, particularmente, sou mais a favor do regime PJ do que do CLT, mas isso pode variar de pessoa para pessoa.

Muitas pessoas preferem o regime PJ pelo fato de que não há um vínculo empregatício com a empresa contratante, porém neste caso seu poder de negociação deve ser muito maior, pois toda a sua garantia está no contrato que você conseguir negociar, então preste atenção a alguns pontos quando for negociar um contrato PJ:

  • A empresa oferece Vales Refeição ou Transporte?
    • Estes valores são descontados?
  • A empresa oferece férias remuneradas?
    • Quais são os termos das férias?
  • Há descanso nos finais de semana?
  • Qual é o tempo mínimo de vigência do contrato?
  • É necessário cumprir aviso prévio?
  • Horários de entrada e saída

Estas são apenas algumas das coisas que devemos procurar em um contrato. Lembre-se que, o contrato PJ é o seu único aliado, ele é tudo que você para se proteger de abusos, o mesmo vale para seu contratante.

Fora os termos do contrato, um regime PJ é bastante libertador, porque você não fica refém dos impostos do governo ou de descontos esotéricos, porém, esta é uma faca de dois gumes, se você não tem uma educação financeira que te permita um crescimento de renda saudável, você pode acabar mais endividado do que entrou, uma vez que você será o único responsável por criar sua reserva de emergência (de curto e longo prazo), FGTS, 13º, previdência e outras coisas, lembre-se, pense sempre a longo prazo. Hoje você ainda pode trabalhar, mas e daqui a 50 anos?

Além dessas informações, há valores nos quais não vale a pena se sujeitar a um regime PJ, em valores de salário baixos – de até 3 ou 4 mil reais –, o regime CLT pode parecer um vilão porém ele beneficia mais o contratado. Para valores acima dessas faixas, pode-se pensar em um regime PJ com mais tranquilidade, pois os valores de descontos são mais altos quando temos esses montantes.

Negociando a frequência de pagamento

No Brasil, diferentemente de outros países, recebemos e somos medidos de forma mensal – na maioria dos casos pelo menos – enquanto em países como os Estados Unidos, o valor salarial é calculado por semanas ou até por horas, e o colaborador recebe seu pagamento semanalmente.

Aqui temos alguns regimes onde o contratado recebe em uma única parcela no final ou início do mês o valor do salário, mas também temos o pagamento parcelado em dois, com o funcionário recebendo geralmente nos dias 15 e 30 de cada mês. Não faz uma grande diferença na verdade, eu prefiro receber em uma tacada só porque só preciso planejar para uma entrada de dinheiro e prefiro fazer desta forma, outras pessoas preferem receber em duas partes e dividir o mês em dois momentos. Além disso é possível receber o valor do dia 15 e aplicá-lo, criando um rendimento maior do salário ao longo dos meses.

Técnicas de negociação

Pode ser sorte, mas também existem algumas técnicas de negociação muito interessantes, algumas já citadas no artigo que mencionei, outras que aprendi ao longo do tempo. Vamos passar por todas elas:

Nunca seja o primeiro

O artigo que citei já começa com uma frase dizendo que: "Em uma negociação, se você fala primeiro, você perde". De certa forma isso é verdade, quem der a letra primeiro vai estar mais vulnerável, porém é possível usar isso a seu favor, já que quem falar primeiro também vai definir a base sobre a qual a negociação como um todo vai ocorrer. Existe uma diferença em ser uma pessoa afobada e condutora.

Uma pessoa afobada irá vomitar um monte de informações sobre o que espera do trabalho, o que faz, quanto ganha, o que está ruim, o que está bom e tudo mais. Não que isso seja errado, honestidade e transparência são chave para a negociação de salários e empregos, porém é melhor não falar muito e dar informações sob demanda do que despejar tudo de uma vez. Desta forma a empresa contratante precisa abrir mão de mais vantagens para te conhecer melhor, portanto você acaba conhecendo mais sobre ela também.

Uma pessoa condutora irá conduzir a negociação da forma que achar mais adequada, liberando pedaços de informações pertinentes aqui e ali, fazendo com que a empresa revele informações antes de poder revelar as suas próprias.

Pensamento a longo prazo

Procurar um emprego não é algo que costumamos fazer todos os meses. Portanto o pensamento quando estamos negociando um deve ser igualmente longo. Não se atenha ao presente, nada precisa ser dito ali, na hora, no momento. Muitas vezes a empresa está te animando tanto que você fica em uma euforia de aceitar e ir trabalhar logo de cara, mas calma! Pare, pense, se te questionarem: "Qual é sua pretensão salarial?", responda com confiança um valor base pelo qual você não aceitaria menos (vamos falar mais sobre isso a seguir) e some a ele pelo menos 50% a mais como margem de negociação, muitas vezes você acha que o valor é alto, mas já aconteceu comigo – mais de uma vez, inclusive – de o valor que a empresa estava preparada a pagar era muito maior.

Você também pode pensar de outra forma, aqui o artigo e a realidade brasileira divergem bastante, geralmente uma entrevista vai te pedir um valor base imediato. Dar um valor base tudo bem, o problema é dar um valor final. Tente sempre responder de forma que você deixe a negociação em aberto para o futuro, e tenha certeza de pedir mais do que o seu valor base dito anteriormente. Por isso que é importante elevar o nível, de forma sensata, desta forma você pode descobrir o quanto é "aceitável" para aquela empresa, para aquele cargo.

Isto também vale para quando você precisa dar uma resposta se vai ou não aceitar uma proposta. Sempre peça para a proposta ser enviada por e-mail, e sempre tire um ou dois dias para avaliar com cuidado, conversar com as pessoas que você mais confia e mais ter intimidade para saber a opinião delas também, por exemplo, desde que comecei a trabalhar com desenvolvimento há mais ou menos 10 anos, e até mesmo eventualmente hoje, eu sempre perguntava e debatia as propostas com meus pais, pois eu acredito que a experiência vale mais do que qualquer livro ou texto que você possa ler. Então a opinião de pessoas mais experientes (tanto em idade quanto em tempo de carreira) do que você pode ser enriquecedora.

Não tenha medo de dizer "NÃO"!

Naturalmente estamos inclinados a pensar que existem milhares de outras pessoas concorrendo a mesma vaga, as vezes isso é verdade, mas muitas vezes não. Você está sim procurando um emprego, mas você também tem que se valorizar. Pense que a empresa é tão sortuda em ter você como colaborador como você é de tê-la como empregadora, esteja preparado para dizer não a uma proposta que não bate com suas metas.

Sempre que for a uma entrevista onde você poderá receber uma proposta, vá com um valor mínimo em mente, um valor pelo qual você não vai aceitar absolutamente nada. Mas seja sensato em colocar um valor mínimo razoável, por exemplo, o seu salário atual, ou então o seu salário atual acrescido de 10%.

Seja você

Você provavelmente já pensou em se vestir com uma roupa social, colocar aquele salto ou sapato bonito para ir a uma entrevista para causar aquela impressão não é mesmo? Se você gosta mesmo de usar essas roupas e causar esse impacto, sem problemas, mas se você não é você fazendo isso então, por favor, não faça.

Quando você se mostra uma pessoa diferente na entrevista do que é quando contratada, isso cria um senso de cuidado em gestores, pois mostra sua capacidade de mudar seus discursos e seus ideais para conseguir seus objetivos. Seja sempre você mesmo, em entrevistas, vá com uma roupa que você usaria para sair com amigos (mas seja sensato... Sempre), fale como se você estivesse falando com um amigo, afinal a pessoa que te entrevista é amiga de outras pessoas, causar um impacto interpessoal positivo de forma amigável é muito melhor do que causar um impacto visual.

Algumas pessoas ficam muito nervosas ao irem para entrevistas, pare um pouco, pense bem: Por que você está nervoso(a)? É só uma outra pessoa, que tem família, que tem problemas como os seus e que está só fazendo o trabalho dela de procurar uma pessoa adequada para uma vaga. Pessoas de gestão ou RH não estão lá para julgar suas ações e te fazer ficar nervoso, na verdade, quanto mais nervoso, pior é para você, porque mostra pouco controle emocional. Então, algumas horas antes da entrevista, sente, se acalme, respire, repasse a entrevista com as principais perguntas que você poderá responder na cabeça, pratique suas respostas, estar calmo passa muito mais confiança do que estar nervoso.

Conte histórias

Como eu falei antes, a experiência sempre tem um peso maior. Em entrevistas, conte suas histórias sem medo, as engraçadas, as complicadas, as desafiadoras, conte os momentos em que tudo deu certo, mas conte também suas falhas e o que você aprendeu com elas. A capacidade de aprender com os erros é muito mais bem vista do que a facilidade em acertar de primeira.

Histórias aumentam a credibilidade que você tem sobre um determinado assunto, fora que justificam o pedido de um valor de salário mais alto, de forma que faz com que você tenha mais poder de barganha quando precisar negociar. Se você ainda não tem nenhuma história para contar, não se preocupe, seja sincero e diga que quer construir novas histórias e quer criar experiências, demonstre vontade!

Seja sincero

Eu quero acreditar que este parágrafo vai ser meio "obvio", mas se não for óbvio, então leia com bastante atenção. Em nenhuma hipótese, omita ou minta sobre um assunto em uma entrevista, pode parecer fácil levar a conversa no momento, porém, como estamos já vendo desde o início, pense a longo prazo. Você vai precisar sustentar sua mentira por um longo tempo, se você disse que sabe uma linguagem de programação e, na verdade, não sabe, eventualmente este manto vai cair e você vai ser obrigado a demonstrar sua expertise uma hora ou outra.

Já aconteceu mais de uma vez em diferentes empresas que trabalhei, de termos funcionários contratados que diziam ser especialistas em algo e, na hora de entregar um trabalho, acabarem demonstrando um total amadorismo e falta de qualidade. Isto só serviu para que eles fossem demitidos e o nome dos mesmos manchado no mercado. Pode parecer que não, mas o mercado de TI é muito pequeno, todas as pessoas se conhecem, principalmente gestores e desenvolvedores com mais tempo de casa, se o seu nome está manchado nesse mercado, pode ter certeza que outros vão acabar sabendo e isso vai prejudicar a sua carreira como um todo.

Conclusão

Este guia não é uma série de regras, muito menos obrigações. O que eu espero é que você leia e tome suas próprias decisões de forma que você alcance seus objetivos de forma rápida e limpa!

Se você tem mais alguma ideia ou dica para negociações salariais deixe aqui nos comentários ou me mande através do meu Twitter ou então no meu site que vou compilar as melhores e, quando houver volume suficiente, vou escrever uma segunda parte deste guia citando todas elas e comentando uma a uma 😊

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