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Camilo Micheletto
Camilo Micheletto

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É possível a organização de trabalhadores da bolha de TI brasileira?

"Precisamos nos organizar!" - Alguém, sempre que acontece alguma coisa muito absurda pra nossa categoria

Eu concordo, me enche de expectativa e animação quando eu vejo alguém com esse discurso - na bolha dev ainda!! Nos comentários várias pessoas apoiando, as vezes reuniões são marcadas, grupos são criados. Mas ainda assim essa organização não é tangente, concreta, e após esses momentos de crise parece que voltamos à estaca zero. Parece que estamos todos adormecidos, aguardando uma figura, um mártir, uma luz que irá nos dizer o que devemos fazer, como devemos agir.

Esse texto pretende discutir o que é e o que pode vir ser uma organização, como ela tem acontecido ao redor do mundo e o que cada um pode fazer agora. A união não nasce apenas dos nossos ativismos, da nossa moralidade ou empatia, tampouco de apenas uma reação à mais uma investida contra nós, nossos direitos - ela nasce do comprometimento coletivo pra com nossas contradições, dores e tristezas e do sonhar coletivo da nossa categoria.


Introdução - o que é se organizar?

Uma organização é quando pessoas identificam que tem um mesmo propósito e criam estruturas e ações que deem suporte à resolução coletiva desse propósito. Essa organização mesmo dissociada de uma instituição sempre é política.

A definição de política não acaba em sindicatos, partidos, estados e governos, estes são aparatos, instrumentalizações ou institucionalizações da política. Sendo um fenômeno da sociedade, indivíduos ou organizações jamais representam por completo aquilo que é política.

Eu entendo como é fácil rejeitar esse conceito pensando no cenário político, figuras e partidos, mas talvez você esteja pensando nessas instituições com elas existindo pra nos servir, e não como efetivamente nossas. Organização também é, em conjunto, retomar essas instituições políticas para nós e guiar seus objetivos ao redor de uma demanda popular e organizada.

Quando eu falo sobre sindicatos nas minhas redes, muitas pessoas vem na minha DM contar como elas não foram recebidas pelos representantes sindicais, ou como não se sentem protegidas e até lesadas pelos mesmos. Eu tenho esse sentimento e particularmente acolho ele, mas eu particularmente entendo o sindicato como algo que me pertence também como trabalhador e que cabe a nós nos organizarmos pra que essa demanda coletiva seja encaminhada da forma como precisamos por essas instituições.

Texto na imagem: A BANCADA DO LIKE: GOOGLE E IFOOD SE INSPIRAM EM RURALISTAS E MONTAM TROPA DE CHOQUE NO CONGRESSO<br>
Instituto ligado à empresas de tecnologia está por trás da Frente Digital, que faz lobby por projetos de lei que afrouxam as regras para o setor

Entendo também a resistência na participação e filiação à partidos políticos, mas eu ressalto que nós precisamos de representantes defendendo a nossa categoria das insurreições do mercado, de políticas trabalhistas que vão contra nossa categoria, de lobby da bancada do like sucateando ainda mais pequenas empresas e trabalhadores que usufruem das tecnologias que nós criamos.

Isso não é um chamado para sindicalização, nem filiação à algum partido ou organização, mas entender qual a responsabilidade dessas instituições e que como trabalhadores elas não apenas nos servem, elas nos pertencem.

 

Como a organização acontece?

Organização de pessoas trabalhadoras da tecnologia não é um fenômeno ultrapassado, mas um fenômeno atual e que vem acontecendo mundialmente. A organização Tech Workers Coalition mapeou 506 ações sindicais ao redor do globo dentro do escopo de tecnologia, atualmente temos 36 novos sindicatos voltados à tecnologia mapeados em diferentes estágios de reconhecimento, nascido dos abusos praticados por empresas como Alphabet, Amazon, Apple e outras, mas podem existir muito mais que ainda não foram mapeados.
Essas organizações aconteceram em resposta à abusos cometidos por essas grandes empresas que afetam não só as famílias desses trabalhadores, como toda a sociedade.


📕 No artigo “Trabalhadores de tecnologia podem se organizar para se empoderar“ Aaron Petcoff, um ativista socialista que vive no Brooklyn e Ben Tarnoff fundador e editor da revista Logic discutem o movimento internacional de trabalhadores de tecnologia e como isso vem sendo construído.


Os funcionários do Twitter após demissão em massa de 50% do quadro com planos pra mais demissões futuras, mas também com acusações de abusos, sobretrabalho, perseguição e outros ações praticadas por Elon Musk criaram um guia não oficial de como se preparar para esse tipo de situação.

Na imagem um banner com um emoji de passarinho azul e o título A Layoff Guide Tips for Tweeps by Tweeps to be shared in secure DMs between colleagues

 

O Layoff Guide for Tweeps informa sobre quais direitos os funcionários tem, como a comunicação e a organização pode acontecer fora da vigilância da empresa, como lidar com os pedidos irracionais da diretoria (como imprimir todo seu código) e como se preparar para o pior - a demissão.

No ambiente remoto fica ainda mais difícil promover diálogo organizado com a liderança e a empresa - as demandas coletivas ficam pulverizadas pelos canais e acabam se passando por demandas individuais, más práticas de cultura e até opressão fazem com que os funcionários engulam suas demandas com medo de retaliações da empresa e do mercado em si. O movimento de aprovação de políticas que sabotam esse diálogo e minam o poder de intermediação dos sindicatos amparada pela promoção de uma individualização nos ambientes remotos tem sido muito eficientes em impedir qualquer tipo de organização.

Para que essas demandas sejam condensadas de forma que os trabalhadores demonstrem que ela é coletiva, importante pra continuidade do trabalho e ao mesmo tempo se protejam de retaliações como demissões, ameaças e afins, a parte essencial da organização é a forma como os diálogos são conduzidos, mas também sobre quando, com quem e pra quem essas conversas são direcionadas.

Capa da zine DMs open, com o título de mesmo nome e um punho fechado demonstrando apoio e uma rede de computadores conectados com expressões sorridentes feito em ASCII

Oh, olha! Um manifesto tech que funciona!

A zine DMs Open conta um pouco das estratégias de organização sindical remota que protegem os trabalhadores e promovem boas práticas de organização e diálogo. Um depoimento da Kathy do New York Times Tech Guild sobre esse diálogo:


“Com vários de nossos apoiadores mais adeptos, eu pergunto 'Em que você gostaria de trabalhar?', eu digo a eles 'Sério, escreva as suas ideias de coisas que você acredita que fariam do seu local de trabalho um lugar melhor? Pelo que você quer lutar? Um dia de trabalho de 3 ou 4 dias?' Anote essas coisas pois em certo ponto precisaremos que todo mundo pense nessas ideias juntos. Não sei, talvez a gente organize um brainstorming no Miro ou algo assim. Sabe? Há formas de realmente planejar sobre o que nós estaremos lutando por.“
-Kathy (New York Times Tech Guild)

 

Um adendo sobre ativismo e militância

Percebe-se em algumas falas que é frequente que se refiram à ativismo como se fosse a a definição de organização ou militância, o que pode ser uma descrição incompleta e, na maioria das vezes, incorreta.

Ativismo precisa de organização e união, mas o propósito dele é fortalecer, ajudar ou contribuir pra um indivíduo, grupo ou causa. Quando nos reunimos em Discords pra dar mentoria ou compartilhar materiais, quando criamos conteúdo gratuito e contribuímos com Open Source ou quando ajudamos alguém a conseguir um computador pra poder começar a programar. Ativismo é muito importante e essencial pra que as pessoas possam resistir e superar as barreiras socioeconômicas que impedem muita gente de ingressas na área de tecnologia.

Porém o ativismo não desafia as estruturas capitalistas hegemônicas que produzem não só as barreiras de acesso à tecnologia, mas que também produzem a pobreza e precarização das condições materiais dos trabalhadores.

Se em 2016 um grupo ensinava HTML, CSS e JS e isso era o bastante pra que uma pessoa estivesse pronta para o mercado de front-end, hoje sem algum Framework e uma série de tecnologias populares a mesma pessoa já não consegue. Se antes com R$ 2.800 você comprava um computador bacanudo pra conseguir trabalhar (Meu Acer i7 com placa de vídeo bacana foi R$ 3.200 há uns anos atrás), hoje mesmo com financiamentos coletivos online, equipamento com capacidades de hardware bem inferiores custam muito mais.

Não estamos só dividindo o mesmo pão com cada vez mais pessoas. Estamos dividindo progressivamente menos pão pra muita gente. Mesmo com demanda de sobra e muita gente com oferta boa no mercado, houve um processo de desqualificação dessa mão de obra - pessoas com muito potencial e que as vezes já desenvolvem por conta própria se leiloando num mercado inchado que mesmo com o discurso de déficit que já está fazendo aniversário de uma década, se dá ao luxo de aumentar progressivamente os requisitos, contratar pessoas que outrora seriam consideradas em um nível profissional pleno como júniores e ainda subsalariá-las pela pejotização.


🔎 A Virgínia Fontes, professora da UFF, Historiadora e mestre em Filosofia fez esse vídeo ótimo discutindo o termo "Pobretologia".
Outro material dela que é indispensável pra pessoas de tecnologia é seu vídeo sobre tecnologia e guerra de classes.


Precisamos sim do ativismo pra melhorar nossas condições individuais pois com essas conseguimos contribuir cada vez mais com ações que vão impactar as nossas condições como trabalhadores, mas apenas resistência sem luta não salva o sapo de uma panela cada vez mais quente.

 

Como posso começar a me organizar?

No meu ponto de vista, a organização para nossa categoria de trabalho possuí 3 pilares:

Conhecer
Pra se entender como pessoa trabalhadora você precisa conhecer sua história, seus direitos, seus deveres. Não há luta sem saber pelo que lutar.

Dialogar
Não podemos ser idealistas. A luta coletiva nasce do pensamento coletivo - converse com outras pessoas, exponha seus ideais, suas contradições e dores. Ninguém incorpora uma luta em que não se reconhece na dor e no sonho do outro.

Disputar
Nos nossos espaços os discursos desmobilizantes, individualistas, apolíticos e até contrários aos nossos direitos são onipresentes - precisamos urgentemente disputar essa narrativa, e isso só é possível se apoiando nos pilares anteriores.

Esses passos devem estar sempre guiados pela seguinte premissa:

“O que nós como classe trabalhadora sonhamos para nós?“

Eu sei que parece pouco perto do posicionamento inflamado e extasiado que a frase “vamos nos organizar“ evoca, mas a nossa categoria precisa ter muita clareza sobre quais sonhos coletivos nos organizaremos ao redor. Infelizmente esperar que uma categoria privilegiada se enxergue nas mesmas contradições e dores que, por exemplo, os metalúrgicos na década de 80. Mesmo algumas pessoas de TI que reproduzem um discurso de organização e consciência de classe, no fundo, não se enxergam no mesmo patamar das outras categorias de trabalho - há sempre um discurso sobre a nossa luta individual, como somos capazes e estudiosos e há sempre uma tokenização do pobre, como uma figura fraca e com pouco conhecimento e que deve ser protegida das promessas da área de TI e que não deve ser bombardeada com discursos muito profundos de política e sociedade.

Os trabalhadores de TI que vemos se organizando ao redor do mundo tiveram suas condições materiais provenientes de grandes salários e grandes empresas, seus direitos, conforto e perspectiva de futuro subjulgados de tal forma, que só naquele momento eles se reconheceram como trabalhadores iguais aos que os servem café. Dessa forma a classe enxergou não só como uma canetada, lobby ou ação de mercado pode mudar completamente as condições de uma categoria e de toda classe, como também entendeu que se a gente não lutar constantemente pelos nossos direitos, mesmo com uma série de privilégios, viajando pro exterior e com muita grana investida, as nossas condições podem ser rescindidas quase que num piscar de olhos.

Nós não precisamos esperar que algo de ainda mais terrível aconteça pra que passemos a agir, mas também não podemos desperdiçar nosso discurso e esforços tentando movimentar um grupo majoritariamente cis, branco e abastado apenas com discurso moral e de empatia.

Conheçam e compartilhem da nossa história, da tecnologia da informação na visão política e social, como ferramenta de poder político, como ferramenta de ascensão social, mas também como ferramenta de guerra. Dialoguem com seus pares, especialmente com as pessoas que vocês sentem que estão abertas a entrar nesse tipo de contradição, compartilhar suas dores e sua força - a trepadeira não cresce nem multiplica se plantada no cimento. Disputem as narrativas liberais e individualistas e com coragem e união percebam nossos lugares comuns e sinalizem esse espaço.

Enquanto não fizermos isso, continuaremos sendo vítimas de exploração, precarização e ações coordenadas de mercado que afetam em massa a vida de milhares de trabalhadores se passarão como mero reflexo de mercado - conforme essa carta aberta de um fundo de investimentos para à Google, não só pra reduzir o quadro operacional, mas também como um movimento pra recontratar com salários menores.

Carta do TCI fund para a Alphabet apoiando a redução de quadro e sugerindo o corte salarial




 

Muito cedo nas discussões efervescentes de internet eu senti falta de uma definição clara do que é luta pra nossa categoria - e não sei vocês, mas eu acredito que se eu subisse num palanque e dissesse tudo aquilo que eu acredito que deva mudar, poucas pessoas me aplaudiriam e menos ainda me seguiriam. Isso porque esse quefazer é construído junto.

Discussão (de qualidade, não de Twitter) é construída com muito trabalho, e a organização nasce da consciência que emerge dessas discussões, das nossas contradições coletivas. Nós não temos luta, não temos figuras, representantes, não temos sonhos que não sejam familiares ou individuais, estamos alienados do nosso trabalho e alheios do futuro da nossa soberania nacional de tecnologia - mas temos história, acesso, comunidades, ativismo, direitos, vontades e dores - e eu tenho a esperança de que serão esses os pilares que nos apoiaremos quando o vento mudar, e neles que construiremos quando a tempestade passar.

Como bem disse o Don L em "primavera", voltemos a falar dos nossos sonhos pelas manhãs para que ninguém silencie nossa voz.

Referências e sugestões de leitura

 

  • PETCOFF, A. Trabalhadores de tecnologia podem se organizar para se empoderar. Disponível em Jacobin
  • TARNOFF, B. The Making of the Tech Worker Movement. Disponível em Logic Magazine
  • TAN, J. S. Collective Action in Tech. Disponível em collectiveaction.tech. Acesso em: 27 jan. 2023
  • DANTAS, AGUIAR (2001). Memórias do Computador: 25 anos de informática no Brasil
  • ANTUNES, BRAGA (2009). Infoproletários - Degradação Real do Trabalho Virtual
  • Convenção Coletiva de Trabalho - SINDPD (Sindicato dos Empregados em Empresas de Processamento de Dados). Disponível em sindpd.org.br

Top comments (6)

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Amanda Alexandre

Concordo com você que precisamos nos organizar e ter mais representação política, mas você nunca vai conseguir isso se continuar atrelando isso à agenda política de esquerda. Muita gente do ramo é direitista e neoliberal, e eles também merecem ser protegidos de abusos assim como todos. Mas quando se emprega termos como "guerra de classes", "cis", usa-se um ativista socialista como fonte, ou antagoniza a pejotização, deixa-se muito claro que esse "ativismo" só existe para quem acredita na mesma legenda política. Ou que, pelo menos, você queira "convertê-los", o que leva a desconfiança das pessoas que mais rejeitam a ideia de se organizarem.

Minha sugestão: se querem mesmo convencer os individualistas a se organizarem, comecem ouvindo os seus temores, preocupações. O que acham que pode acontecer? Será que tem medo de perder os salários acima do teto? Será que não querem pagar tantos impostos? Será que confiam no governo pra defender seus interesses? Se não, porquê? O que passa na cabeça deles?

Já a minha preocupação é a seguinte: que a polarização partidária envenene tanto o debate (como faz em praticamente todos os assuntos de hoje), que "ativistas" defendam (ou rejeitem) uma proposta de organização ruim só porque foi iniciado por candidato X ou Y. Vide este próprio post. Poderia ser um texto objetivo, mas que é bem mais doutrinário do que diz ser.

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Camilo Micheletto

Primeiro, o mundo do trabalho não se resume à bolha dev, e fora dela já estamos conseguindo. Você e outras pessoas não vêem pq isso nunca vai sair na mídia hegemônica - a burguesia é dona dos canais de TV, dos jornais e grandes redes de informação. Outro ponto é que nem tudo é partidário, mas tudo é político e o partidarismo se faz sim necessário, pois todo algoz de layoffs, pejotização, destruição dos diretos trabalhistas e outros fenômenos só foram possíveis pela ausência de representação política de forma objetiva, não tinha ninguém que representa os nossos direitos de classe pra votar contra, simplesmente. A gente higieniza pauta de esquerda há muito tempo pra caber no conforto de pessoas que nunc sequer tiveram interesse em levantar se se sentar com pessoas iguais por seus direitos, isso nunca funcionou, é apenas covarde. Uma luta sem identidade nem ideologia é uma luta que não é nem por metade, mas por nada.

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Amanda Alexandre

Apesar de você ver que "nunca vou ver isso", vou te contar algo sobre minha experiência profissional: Eu já trabalhei em uma grande mineradora na minha cidade, onde haviam reuniões sindicais com mais de 2 mil pessoas, e mais de 6 mil associados. Já participei de reuniões deles, porque na época fazia parte do RH.

Você acha mesmo que de todos os 6 mil funcionários, todos votavam no mesmo presidente? Todos eram de esquerda? Que não tinham um conservador homofóbico ali? É claro que não. Mas lá, ninguém discutia isso. Todo mundo superava as diferenças ideológicas para pedir melhores condições de trabalho, mais segurança, mais salário, etc. Apesar da sua opinião, era um sindicato atuante e que às 6 mil pessoas que trabalhavam no trecho em questão vitórias como aumento anual de 8%, por exemplo.

Então, não, não é verdade que "eu nunca vou ver" que sindicatos funcionam porque eu já vi isso acontecer na prática e é muito diferente do discurso que vejo em redes sociais.

Enfim, há uma grande diferença entre superar as diferenças pra exigir mais direitos (foi o que vi na prática), e exigir que a pessoa se converta a sua ideologia pra ser digno do seu ativismo. É por causa deste último que esta "categoria" dificilmente vai conseguir se organizar.

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Camilo Micheletto

Eu participo do trabalho de base do MTST que é uma organização de esquerda. Nas nossas ocupações tem pessoas bolsonaristas, homofóbicas, de esquerda, pessoas trans, pessoas idosas. Quando tem a necessidade de comparecermos em uma passeata em defesa, por exemplo, do direito das pessoas trans - que é uma pauta que a direita abomina - todos comparecem. Um dos maiores movimentos de esquerda do mundo não cede das suas pautas pra avançar e avança. A esquerda cede desde antes de 64 - nossa ultima conquista de direitos trabalhistas já vai fazer aniversário de 20 anos.

Sobre o trabalho do sindicato - realmente, tem MUITO sindicato ruim e pelego. Recomendo acompanhar o trampo do SINDPD que tá fazendo um serviço ótimo de conscientização e defendendo trabalhadores da Stefanini.

Hoje se o Lula mesmo estando mais aparelhado do centro do que um cachorro de rua de pulgas, ainda tem resistido em pautas que felizmente vão além de mero assistencialismo por pressão e representatividade da esquerda.

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Amanda Alexandre

É aí que eu e você discordamos fundamentalmente: eu não creio que uma das profissões que mais se beneficiaram dos ciclos de capitais nos últimos 20/30 anos vai responder a discursos assim. Parabéns ao seu trabalho com o MTST, mas a bolha dev não é como os sem teto. Quem tá na área tech normalmente é bem consciente de seus privilégios.

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Camilo Micheletto

Eu concordo com você, se é consciente, a gente não precisa higienizar o discurso. Quem é consciente, vai receber de forma crítica Ee consequentemente produzir uma crítica se tiver, quem não for vai falar que é ideológico demais, seja lá o que isso signifique pra pessoa. Entendo vc achar que isso não leva a lugar nenhum, mas não é como se esse "frente-amplismo" por assim dizer tenha nos levado tbm