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Marcio Frayze
Marcio Frayze

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Como foi minha experiência na Lambda Days 2025

O que é a Lambda Days?

A Lambda Days é uma conferência internacional dedicada a linguagens funcionais realizada todos os anos na Cracóvia (Polônia). O evento reúne pesquisadores, pessoas desenvolvedoras e entusiastas de comunidades como Erlang, Elixir, Scala, F#, Clojure, Haskell, Elm e muitas outras, criando um espaço de troca entre a academia e a indústria e tem duração de 2 dias.

Além das palestras técnicas, a Lambda Days também aborda temas como ciência de dados, sistemas distribuídos, inteligência artificial e boas práticas de desenvolvimento. O ambiente é bastante vibrante, reunindo participantes de diferentes países em uma das cidades mais bonitas e históricas da Europa.

O que me motivou a ir este ano?

Eu tinha 10 dias de férias para tirar e nenhum destino certo para ir. Todos os lugares que pensava em visitar pareciam ter muito potencial para uma viagem bacana, mas a indecisão tomava conta. Até que lembrei da sensação que tive quando vi que o Evan Czaplicki iria fazer uma apresentação nesta conferência! 

Para quem não o conhece, Evan é criador da linguagem Elm e provavelmente o meu palestrante favorito! Sou grande admirador das suas capacidades técnicas, mas também fico igualmente impressionado e atento às ideias mais filosóficas que ele costuma incluir em seus discursos.

Sempre quis assistir uma palestra do Evan pessoalmente e nos últimos anos ele não tem feito muitas aparições públicas, estando mais focado no desenvolvimento da sua mais nova criação: Acadia. Por isso, quando vi que ele estaria lá, fiquei bem empolgado.

Outro ponto importante na decisão foi que, embora a Polônia não estivesse exatamente entre meus lugares prioritários para conhecer no mundo, me parecia ser um país bem interessante, bonito e com opções culturais, gastronômicas e turísticas muito distintas. Além de não ser um dos países europeus dos mais caros de se visitar.

Como é a cidade?

A Lambda Days ocorre todo ano na mesma cidade, Cracóvia. Eu gostei da escolha por várias razões. A primeira, como já mencionei, é econômica. Embora a Polônia seja membro da União Europeia desde 2004, ela nunca adotou o Euro e sua moeda oficial é a złoty (PLN). Isso pode dificultar algumas coisas, mas considerei o preço de tudo bastante convidativo, especialmente quando comparado com outros países mais ricos da Europa. O preço do hotel, comida, transporte público e dos gastos gerais do dia a dia não são muito acima dos preços que eu encontraria em uma viagem dentro do próprio Brasil.

A passagem, saindo do Brasil, também não é um preço exorbitante, especialmente se considerarmos que trata-se de uma viagem de 11 horas até Frankfurt e depois mais uma hora até Cracóvia (prefiro não colocar os valores de quanto paguei pois iria se desatualizar muito rapidamente).

Cracóvia é uma cidade linda! E como o evento ocorre no verão, o sol nasce super cedo e se põe bem à noite (foto tirada às 21:45h).

Foto da cidade à noite, com céu ainda claro.

Me senti bastante seguro o tempo todo. Como a cidade é super plana, é perfeita para andar à pé ou de bicicleta. Além, claro, dos inúmeros trens de superfície (vulgo bondinhos) que percorrem a cidade toda! Através de um App no celular (ou de uma maquininha nos próprios pontos de parada) você pode comprar sua passagem. Eu acabei optando por usar um App e comprar passagem por tempo de uso. Assim, conseguia andar a cidade toda sem precisar me preocupar. Basta validar uma vez (digitando o número do vagão, que está impresso na parte de dentro, próximo das portas) e pronto! Dizem que existe bastante fiscalização (neste caso, basta mostrar que você validou sua passagem no App, caso contrário você será multado!), mas na prática não vi nenhum controle sobre isso. O preço também achei bastante aceitável (principalmente se comparado com que eu tinha que pagar quando visitei a Noruega… quase caí pra trás ao ver os preços do transporte público quando estive em Oslo!).

Trem de superfície (bondinho)

Aparentemente é bastante tranquilo chegar do aeroporto para a cidade usando trens (não os bondinhos - trens mesmo). Mas eu optei para usar Uber. Estava super cansado da viagem e me senti mais seguro optando por este meio de transporte.

Outro ponto de destaque é que Cracóvia possui algumas opções turísticas bastante únicas. Quando viajo, costumo optar mais por andar pela cidade e evitar um pouco passeios muito turísticos. Mas desta vez decidi conhecer Auschwitz 1 e Auschwitz 2 (Birkenau). É difícil descrever a sensação de estar em um lugar onde literalmente milhares de pessoas (em sua maioria judeus) morreram. Até agora não consigo acreditar. Não é o tipo de lugar que todas as pessoas vão querer visitar, mas se você tiver interesse e disposição, eu recomendaria conhecer.

Foto de dentro de Auschwitz.

Também fui na famosa Mina de Sal de Wieliczka. É um lugar bem bonito, mas provavelmente teria sido mais interessante ter ido para outras partes da cidade, como algum parque florestal mais afastado.

Foto de dentro da mina de sal.

Outro ponto bastante famoso (e que me arrependo de não ter visitado) é a Fábrica de Schindler, que mostra o esforço feito por Schindler para salvar 1.200 judeus do Holocausto (quem assistiu o filme A Lista de Schindler deve conhecer um pouco desta história).

Optei por ficar apenas na Cracóvia, mas parece ser bastante fácil ir para outras cidades da Polônia de trem. Se pudesse voltar no tempo, organizaria um pouco melhor minha viagem e passaria alguns dias em Varsóvia, capital do país.

A única coisa que eu realmente não gostei na cidade foi a invasão dos “vapes” (cigarro eletrônico). Embora seja relativamente comum ver pessoal no Brasil com estes dispositivos (mesmo sendo proibido), na Cracóvia parecia que todo jovem adulto que estava na rua carregava um “vape” na mão. Uma verdadeira epidemia! E o mesmo era vendido em vários lugares da cidade. É uma cena um pouco triste, já que os problemas associados ao consumo deste tipo de produto já são bastante conhecidos.

Nível das palestras

Haviam 3 trilhas, com palestras acontecendo paralelamente. Algumas eram bem tranquilas de acompanhar, como o painel de discussão Learning How to Learn, onde quatro mulheres (incluindo uma brasileira!) contavam um pouco sobre a sua jornada para aprender, ensinar e crescer em suas carreiras em Programação Funcional.

Foto de 4 mulheres conversando.

Outras palestras eram mais filosóficas, como a keynote realizada pelo Evan Czaplicki, intitulada Rethinking our Adoption Strategy. Nesta, ele falou sobre o que ele chama de Platform Language e o que a diferencia de uma Productivity Language e o que nós, pessoas não relacionadas ao mundo dos negócios, poderíamos fazer para tornar as Platform Languages mais atrativas que as Productivity Languages.

Foto do Evan palestrando.

Haviam ainda palestras em níveis mais abstratos, como o keynote de Moa Johansson: AI for Mathematical Discovery: Symbolic, Neural and Neuro-Symbolic Methods. Confesso que o nível desta (e de algumas outras palestras) estavam muito acima do que eu conseguia acompanhar. Sempre era possível tirar algum conhecimento novo, mas muita coisa eu não tinha capacidade de compreender totalmente. Outro exemplo foi a keynote do Martin Odersky, criador da linguagem de programação Scala, com o título Making Capabilities Safe and Convenient. Consegui entender os fundamentos, mas a partir de um determinado momento da palestra, me perdi e não conseguia mais acompanhar as propostas.



Como eram 3 salas/trilhas com palestras acontecendo de forma concorrente, você tem a opção de escolher aquelas que julgar mais interessantes e que vai tirar mais proveito (menos às keynotes - essas ocorrem na sala maior e sem outras palestras no mesmo momento). Um erro que cometi foi não ter estudado melhor sobre as pessoas que iriam palestrar. Poderia ter feito escolhas mais interessantes e ter aproveitado mais conteúdos.

Comida boa!



Estava incluso no evento o café da manhã, dois coffe-breaks (pela manhã e tarde) e um almoço. Isso é bem legal pois não precisava me preocupar com alimentação e também era um momento a mais que o pessoal utilizava para socializar, conversar e fazer (ou fortalecer) amizades. Achei tudo bastante organizado e gostoso.



Festa / Happy hour

No final do primeiro dia ocorreu uma confraternização após o evento, em outro local. Para entrar bastava mostrar a credencial do evento.

Não tenho muitos detalhes de como foi, pois infelizmente eu não participei. Estava bastante cansado depois de um longo dia de palestras e acabei voltando para meu hotel. Mas me arrependo de não ter aproveitado esta oportunidade! Fiquei especialmente arrependido quando soube, através de algumas pessoas brasileiras que conheci no evento, que o José Valim (criador da linguagem Elixir) estava presente na festa! E que conseguiram conversar com ele! Ele não palestrou no evento e não o vi em nenhum momento, então fiquei surpreso ao saber que ele estava lá (e eu perdi a oportunidade de conhecê-lo…).

Primeira viagem com tanta tecnologia à minha disposição

Tive o privilégio de fazer várias viagens internacionais nas últimas décadas, desde Argentina, Chile, Uruguai, até Noruega, Suécia, Holanda, passando por Costa Rica, Estados Unidos, Cuba, … mas esta viagem para Polônia foi diferente.

Quando visitei Cuba, em 2009, fazer uma ligação telefônica para o Brasil era muito caro e restrito (fiz algumas vezes, de um telefone fixo do Hotel). Zero acesso à internet ou telefone celular. Em minha viagem para Holanda, em 2012, internet apenas quando conseguia uma wi-fi (usando meu iPhone 3GS!). A maior parte do tempo me locomovia olhando um mapa físico da cidade, nada de GPS.

Nesta viagem para Polônia, pela primeira vez tinha a minha disposição diversas tecnologias que facilitaram MUITO a estadia por lá!

Internet ilimitada

Antes de viajar eu já havia comprado um eSIM (um chip virtual de celular - coisa que ainda não é muito popular no Brasil) através do App da Holafly. O processo foi super simples e em pouco tempo tinha um segundo chip instalado em um iPhone 14. Assim que o avião parou na escala que eu precisava fazer na Alemanha, no aeroporto Internacional de Frankfurt, meu chip já passou a funcionar e eu já tinha acesso ilimitado à internet! WhatsApp funcionando normalmente e tudo mais que eu já estava acostumado a usar no Brasil. Pela primeira vez cheguei em outro país já com internet disponível em meu celular!

Uber

A Uber opera também na Polônia e me senti mais confortável e seguro utilizando o serviço deles para conseguir chegar em meu hotel. A rede de trens da Polônia é muito boa e com certeza eu conseguiria chegar usando apenas trens, já que o Hotel ficava perto de uma estação - coisa que eu deveria ter visto antes de chegar lá, mas não fiz! Meu planejamento deixou a desejar também neste ponto. De qualquer forma, o Uber me deixou na porta do hotel. Foi a primeira vez que não precisei me preocupar com nada para conseguir chegar tranquilo em meu primeiro destino em uma viagem internacional.

Acabei optando por utilizar o Uber também para voltar para o aeroporto. De resto, usei apenas o transporte público. Mas saber que eu tinha esta opção a qualquer momento, me deixava mais tranquilo para explorar a cidade à vontade.

Google Maps / GPS

O Google Maps funciona muito bem na Cracóvia e me ajudou demais a me locomover pela cidade usando os trens de superfície. Ele me avisava exatamente quando o trem iria chegar na estação, me mostrava quantas estações faltavam para descer e me alertava na hora exata de descer. Nunca foi tão fácil andar de transporte público em uma cidade desconhecida!



Claro que mesmo assim eu me perdi alguma vezes haha. Na pressa entrava no trem no sentido errado e coisas do tipo. Mas era fácil perceber o erro ao olhar o mapa e, como as passagens que eu comprava eram por tempo, bastava descer e pegar o trem correto.

Chat GPT

Outra novidade foi viajar pela primeira vez com a possibilidade de usar tecnologias mais recentes de Inteligência Artificial Generativa, como o Chat GPT. Fazia algumas perguntas ao longo da viagem para tirar dúvidas sobre o funcionamento das coisas nesta cidade, ele me ajudou a encontrar lojas e também a encontrar alguns pontos bonitos para visitar.

Uma coisa que experimentei fazer algumas vezes foi tirar um print da tela do Google Maps de onde eu estava naquele momento e a enviava para o Chat GPT, pedindo dicas de lugares para visitar naquela região, ou dicas de lojas onde eu poderia comprar determinadas coisas que eu estava buscando. O resultado foi bem legal!

 Se não fosse ele, eu não teria conhecido, por exemplo, o Kościuszko Mound. Estava ao lado dele mas não estava na minha lista de lugares para conhecer. Fiz o processo que citei acima e ele me recomendou ir para lá, e achei bem legal!

Oportunidades de conversas incríveis

Como disse lá no começo, minha maior motivação para ir neste evento era assistir a palestra do Evan Czaplicki e, claro, tinha expectativas dele falar um pouco sobre seu novo projeto, que poucas pessoas tiveram acesso. Quando vi o título da palestra, já imaginei que este não seria o foco - e realmente não foi. Mas e nos bastidores?



Durante os dois dias de evento, ele estava conversando com as pessoas do evento, no hall onde ficava o coffee-break. No primeiro dia eu ensaiei abordá-lo para fazer algumas perguntas, mas minha timidez venceu mais uma vez e fui para o hotel me sentindo derrotado! Lá, disse para mim mesmo: você veio até aqui por conta disso! Se ele estiver lá amanhã, você vai sim falar com ele!!

E para minha alegria, no dia seguinte ele estava lá novamente, conversando com pessoal. Mais uma vez fiquei com muita vergonha, mas tomei coragem e me aproximei. Não sabia como abordá-lo, apenas cumprimentei ele e a pessoa com quem ele estava conversando com um aceno de cabeça e aguardei a minha vez de falar enquanto, por algum motivo, eles conversavam sobre a cultura japonesa.

Em um determinado momento ele se virou pra mim e fez um gesto indicando um início de conversa. Me apresentei, agradeci pela palestra, elogiei seu trabalho como programador mas também como palestrante e filosofo, e disse que me inspirava muito em suas palestras. Trocamos algumas palavras e logo depois perguntei sobre seu novo projeto de backend “secreto”. Fiz alguma pergunta meio genérica sobre do que se tratava e ele ficou pensativo por uns segundos. Fiquei preocupado, confesso. Será que iria receber uma resposta meio atravessada? Será que eu estava sendo muito invasivo? Quem era eu para perguntar sobre um projeto dele que eu sei que ele não está querendo ainda compartilhar com muitas pessoas??



Mas após alguns segundos, ele responde: você quer ver? Estou com meu notebook de desenvolvimento aqui, se você tiver uns minutos livre eu posso fazer uma demo pra você.

Aceitei na hora! Ele pediu para esperar um pouco, que ele iria chamar mais 2 pessoas que estavam interessadas em ver a demo. Logo nos juntamos em uma mesa alta, ali no hall mesmo, onde ele abriu o note e começou a apresentar o projeto. Depois de algum tempo as outras duas pessoas tiveram que sair, e eu estava saindo junto com elas quando ele disse: tenho mais uma demo, não quer ver? E mais uma vez, aceitei entusiasticamente!

Neste momento ele passou a apresentar a demo apenas para mim. Tirei algumas dúvidas e depois de 40 minutos de conversa, agradeci e me despedi. Nisso ele pergunta a minha opinião sobre o produto, se eu usaria. E em seguida também pergunta minha opinião sobre a demo, se estava boa, se dava para entender a proposta do projeto.



Estava eu lá na Polônia, dando minha opinião pessoal para um dos meus ídolos! Que experiência indescritível!! Esses 40 minutos de conversa já fizeram a ida para Polônia valer a pena!

Valeu a pena?

Como você já deve imaginar, sim, valeu muito a pena!

Somando tudo, não foi uma viagem barata. Longe disso! Teve preço da passagem, estadia, ingresso do evento... Tudo pago com dinheiro próprio, sem auxilio da empresa onde trabalho. Por isso, é difícil indicar uma viagem dessas.

Eu adorei. Me diverti, aprendi, conheci um país diferente, fiz novas amizades... E talvez você conheça pessoas incríveis e consiga o emprego dos seus sonhos? Talvez. Mas é mais provável que não. Se este é seu único objetivo, recomendo que busque na internet mesmo. Nas comunidades, nas redes sociais, escrevendo artigos ou softwares, ...

Então se você está pensando em fazer algo parecido, faça por prazer. Por diversão. Aí sim, vale muito a pena!

E você?? Qual foi a última conferência que você foi? Como foi? O que te motivou a ir? Me conta nos comentários!

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