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Milena Emmert
Milena Emmert

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Até os ventos te sopram experiências 🍃

Logo pela manhã você já está navegando pela tela do seu whatsapp procurando a mensagem de bom dia da sua mãe (a única que você quer responder logo em meio a tantas outras), ao tempo que está mexendo no layout do seu micro-ondas para aquecer por 15 segundos aquele café que sobrou de ontem, e pedindo para a Alexa falar quais são os seus compromissos do dia. Veja bem, você realizou diversas interações com produtos, dispositivos e serviços e nem se deu conta disso.

— Com quantos produtos ou coisas você interagiu?
— Três! O zap, o micro, e a Alexa!

Pois é...

  • E o sistema operacional do seu celular?
  • E a notificação do aplicativo de clima que você limpou da tela em meio a esse caos todo e nem percebeu?
  • E o botão de ligar do micro-ondas que você tem que apertar com mais força que os outros porque ele já está mais gasto?
  • Ah, e a porta do micro-ondas que você abriu, foi fácil de abrir ou respingou um café por aí?

Aliás, por que será que a porta do micro-ondas abre para o lado e não como a de um forno de fogão?

Gif de um cérebro. Representação de uma explosão de pensamentos. Fonte: Unifesp.

Todas as coisas que você usou, a tela, o aplicativo, os botões, são interfaces projetadas para gerar a interação entre você e o produto, ou seja, estão no contexto de interface do usuário (user interface, UI). Cada toque na tela, cada botão pressionado, cada comando de voz, cada momento de raiva que você passou, contribuem para a sua experiência num geral, e é isso que chamamos de experiência do usuário (user experience, UX).

A UX vai além da funcionalidade básica do produto. É necessário que os conceitos de facilidade de uso (usabilidade), intuitividade e eficiência sejam explorados nesse universo. Necessitamos de uma tela bonita? Na maioria das vezes sim! A estética sempre nos atraiu e não é diferente agora, mas uma tela bonita que não consegue fazer com que o usuário atinja o objetivo final de uso não serve para nada. Uma UI bonita não é garantia de nada e agora me pego procurando um porquê para estar lembrando da Amazon...


Quantas vezes você, usuário de Android, já abriu a Play Store quando na verdade queria abrir o Google Maps? É a nossa intuitividade nos pregando uma peça. Mas o fato de deixarmos esses apps distantes um dos outros ou categorizá-los de forma diferente já ajuda, e isso está incluso na arquitetura da informação, algo que também é muito importante para uma boa UX.

Ícones representando a Play Store e o Google Maps, respectivamente.


Apesar de eu trabalhar com tecnologia e estar imersa nesse contexto praticamente o tempo inteiro, o que me motivou a escrever esse texto foi a disposição de objetos num laboratório de exames e vacinação.

→ A maioria dos exames de sangue exigem um tempo em jejum (e se você for esfomeado igual a mim, já sai quase desmaiando de fome). Muitos laboratórios têm colocado uma máquina de café com bolachinhas e frutas na saída, onde você pode desfrutar um cafezinho e um lanchinho.

É claro que um cafezinho "de graça" não se nega, e eu fui lá na salinha. Apesar do dia frio, a sala estava um forno, e quando vi a situação das pessoas tomando um café atrás do outro e fazendo um rancho de bolacha eu logo entendi o motivo de tornar a sala uma experiência de sauna.

Mas outra coisa me chamou mais atenção: a máquina tinha letras miúdas dizendo "Não é necessário colocar copos. A máquina já contém.". E ao lado da máquina estava um porta-copos gigante (que era pra ser utilizado no bebedouro de água) e todos que chegavam lá automaticamente tiravam um copo do porta-copos e enfiavam na máquina no lugar de onde saía o café, a máquina lançava outro copo entortando o copo que estava embaixo, derrubava o café, atrasava a fila... 🙃

Dwight Schrute ensinando como ter uma boa experiência de usuário de café.

Experiências mundanas um tanto divertidas e nada sustentáveis.

Como sou uma pessoa empática e um tanto metida, avisei uma pessoa responsável sobre a questão dos copos. Ah, sei lá, vai que eles nunca perceberam a situação.

Se vão tomar alguma providência, eu não sei.

Se de fato acontece aquilo todos os dias, também não sei. E aí entra a importância da coleta e análise de dados para direcionar nossas ações e soluções com o foco em problemas reais, e não desperdiçar nosso tempo porque uma garota com fome viu coisas que talvez foram só coincidências que acontecerem num sábado aleatório de uma manhã fria e cinzenta na capital do Paraná.


Agora eu deixo um questionamento: será que deixar a sala numa temperatura de sauna é um dark pattern que o laboratório utiliza para as pessoas tomarem menos café?

Afinal é um laboratório bem conceituado que pertence a uma rede de diagnósticos gigante, e que com certeza entende muito bem de UX. 😊

Será que deixar um aviso para as pessoas tomarem apenas um café e pegar apenas uma bolachinha não resolveria o problema? Ok, sempre tem aqueles que adoram bancar os espertinhos, mas eu ainda quero acreditar que a maioria das pessoas são boas e honestas e respeitariam o pedido.

E deixar o porta-copos onde estava, poderia ser relacionado com um site enfrentando problemas de arquitetura da informação?

Ou talvez seja só eu matutando coisas sem sentido, mas que quando vou observando a vida em diversos lugares, aparecem coisas tão sem sentido que eu só quero acreditar que devem ser propositais. 😬

Falando em dark patterns, estou com um alerta de uma configuração desnecessária no onedrive, porque por algum motivo a Microsoft quer que eu configure do jeito deles.

Ícone de alerta para configuração do onedrive


Bom, quis deixar esse registro por aqui apenas para lembrar que UX e UI não estão apenas em dispositivos virtuais. É legal observar a vida como ela é para podermos levar essas vivências para dentro do mundo virtual e aprimorar a experiência do usuário.

Inclusive, nessa situação entra em jogo várias heurísticas de Nielsen, como a Compatibilidade entre o sistema e o mundo real, quando nos tornamos mais empáticos ao realizar observações e conseguimos trazer boas perspectivas para dentro do virtual, e uma análise criteriosa para a Prevenção de erros, afinal enfiar um copo em uma máquina que não precisa copo parte do erro de alguém, pois a primeira informação que notei na máquina foi o contato para conserto, ou seja, observo o princípio da hierarquia do design visual sendo mal utilizado.


Experiência, experiência. Não sei se tu que leu essa viagem até aqui é mais rico em paciência ou se te falta consciência. (inspirado roubado do Eduardo Bueno)

Até um dia, quem sabe, talvez! ⋆.˚🦋༘⋆

Top comments (3)

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dougduarte profile image
Douglas • Edited

Top demais. Além das ideias apresentadas serem ótimas, a leitura foi super fluida. Parabéns!

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Bruno Vieira

Parabéns! Aprecio profundamente a sua habilidade em apresentar conteúdo informativo de forma reflexiva e poética.

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eduardo_teixeira profile image
Eduardo Teixeira

Excelente post! Uma reflexão que fiz foi a quantidade de interações que temos hoje em dia com várias interfaces que interligam diversos serviços, imagine estas interações daqui a alguns anos que loucura.