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Vinicius Cardoso Garcia
Vinicius Cardoso Garcia

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Fundamentos de Modelagem e Treinamento de LLMs

Este é um artigo com fins didáticos para a disciplina [IF1006] Tópicos Avançados em SI 3 e que tem o nome fantasia de Transformação Digital com IA, utilizando Modelos de Linguagem no Ambiente de Negócios do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Centro de Informática UFPE.

Leia o artigo anterior da série: Fundamentos de Engenharia de Software para IA


O processo de modelagem e treinamento de modelos de linguagem de grande escala (LLMs) é um dos pilares fundamentais para a construção de soluções baseadas em inteligência artificial. Este artigo foca em três aspectos centrais: o ciclo de vida do modelo, a coleta e o pré-processamento de dados, e o treinamento propriamente dito. Além disso, serão explorados os desafios que permeiam a preparação de dados, considerando sua relevância para o desempenho e a confiabilidade dos modelos.

O Ciclo de Vida do Modelo de IA

O ciclo de vida de um modelo de inteligência artificial (IA) descreve o conjunto de etapas e processos necessários para o desenvolvimento, implementação e manutenção de um modelo funcional e confiável. Este ciclo é composto por atividades que vão desde a identificação do problema até a retirada do modelo de produção, englobando a coleta e preparação de dados, o treinamento e validação do modelo, a implantação em ambientes operacionais e a iteração contínua baseada em feedback. Nesta seção, discutiremos as principais fases desse ciclo e os desafios associados, com foco nas práticas que garantem a eficácia e a sustentabilidade de soluções baseadas em IA.

Fase 1: Definição do Problema e Coleta de Dados

O ciclo de vida de IA começa com a definição clara do problema que o modelo pretende resolver. Essa etapa requer a identificação de objetivos específicos, stakeholders e métricas de sucesso. Uma vez definido o problema, inicia-se a coleta de dados, que são a base para o treinamento do modelo. A qualidade e a representatividade dos dados são fatores determinantes para o desempenho do modelo, tornando a curadoria de dados uma tarefa crítica.

Por exemplo, ao desenvolver um LLM para análise de sentimentos, é necessário coletar textos de diversas fontes, como redes sociais, avaliações de produtos e artigos. Essa coleta precisa considerar a diversidade linguística e cultural para evitar viéses. Um desafio frequente é assegurar que os dados reflitam condições reais de uso e não contenham ruídos que possam comprometer a qualidade do modelo.

Fase 2: Preparação e Treinamento do Modelo

Após a coleta, os dados passam por um processo de pré-processamento, que envolve a limpeza de inconsistências, a normalização e, em alguns casos, a anotação manual para criar conjuntos de dados rotulados. Essa preparação é seguida pelo treinamento do modelo, em que algoritmos ajustam os parâmetros internos do modelo com base em padrões identificados nos dados. Durante o treinamento, é fundamental monitorar métricas como precisão, recall e perda, para avaliar a convergência do modelo.

Um exemplo prático nessa etapa é o ajuste fino (fine-tuning) de um LLM pré-treinado, adaptando-o para tarefas específicas, como tradução automática. O treinamento de LLMs, no entanto, demanda recursos computacionais significativos, tornando necessário o uso de infraestrutura avançada, como clusters de GPUs ou TPUs, para reduzir o tempo de processamento.

Fase 3: Validação e Implantação do Modelo

A validação do modelo ocorre antes de sua implantação, utilizando dados não vistos previamente para garantir que o modelo generalize bem para novas situações. Essa etapa é essencial para evitar problemas como overfitting. Uma vez validado, o modelo é implantado em ambientes de produção, onde interage com usuários ou sistemas externos.

Durante a implantação, práticas como MLOps são adotadas para automatizar o processo e monitorar o desempenho do modelo em tempo real. Por exemplo, em um chatbot baseado em LLMs, a implantação requer integração com APIs e sistemas de backend para fornecer respostas contextuais em tempo hábil. Monitorar métricas de produção, como latência e precisão das respostas, é crucial para garantir que o modelo continue atendendo às expectativas.

Fase 4: Monitoramento Contínuo e Atualizações

Após a implantação, o ciclo de vida do modelo de IA entra em uma fase contínua de monitoramento e atualização. Modelos de IA estão sujeitos a fenômenos como "data drift" e "concept drift", em que mudanças nos dados de entrada ou nos padrões subjacentes afetam a precisão do modelo. Para mitigar esses impactos, é necessário requalificar periodicamente o modelo com dados atualizados.

Além disso, o feedback dos usuários desempenha um papel importante para identificar falhas ou áreas de melhoria. Em sistemas de recomendação, por exemplo, as preferências dos usuários podem mudar ao longo do tempo, exigindo ajustes no modelo para refletir essas mudanças. Essa abordagem iterativa garante que o modelo permaneça relevante e eficaz, mesmo em condições dinâmicas.

Coleta e Pré-Processamento de Dados

A coleta e o pré-processamento de dados são os processos do ciclo de vida de modelos de linguagem de grande escala (LLMs) que garantem que os dados utilizados sejam representativos, consistentes e adequados para o treinamento, impactando diretamente a qualidade das previsões do modelo. Nesta seção, discutiremos como os dados são coletados, os desafios envolvidos nessa etapa e as principais práticas de pré-processamento para preparar os dados de forma eficaz.

Coleta de Dados: Fontes e Desafios

A coleta de dados para LLMs envolve a extração de grandes volumes de textos de fontes diversas, como livros, artigos científicos, websites e interações humanas em plataformas digitais. A diversidade das fontes é essencial para garantir que o modelo seja capaz de generalizar bem para diferentes contextos e usos. Entretanto, essa etapa apresenta desafios significativos relacionados à qualidade, diversidade e viés dos dados.

Por exemplo, dados extraídos de redes sociais frequentemente contêm ruído, como erros ortográficos, linguagem informal e ambiguidades. Além disso, a predominância de certas línguas ou culturas nos dados disponíveis pode introduzir viés, comprometendo a capacidade do modelo de atender a usuários de diferentes origens linguísticas ou culturais. Estratégias como a curadoria de dados e a inclusão deliberada de fontes sub-representadas podem mitigar esses desafios, promovendo uma abordagem mais inclusiva.

Pré-Processamento de Dados: Limpeza e Normalização

O pré-processamento de dados transforma os dados brutos coletados em um formato utilizável para o treinamento do modelo. Essa etapa envolve atividades como limpeza de ruídos, remoção de duplicatas, normalização e, em alguns casos, rotulagem de dados. Por exemplo, em textos extraídos de múltiplas fontes, é comum encontrar caracteres especiais ou inconsistências de codificação que precisam ser padronizadas.

Uma prática comum no pré-processamento de LLMs é o tokenização, que divide o texto em unidades menores, como palavras ou subpalavras. Modelos como BERT e GPT utilizam técnicas específicas de tokenização, como WordPiece ou Byte Pair Encoding, para representar o texto de forma eficiente. Além disso, etapas como stemming (redução de palavras à sua raiz) e stop-word removal (remoção de palavras comuns irrelevantes) podem ser aplicadas, dependendo da tarefa.

Garantindo a Representatividade e Mitigando Viés

A representatividade dos dados é um aspecto crítico no pré-processamento, pois influencia a capacidade do modelo de generalizar para diferentes cenários. Dados desbalanceados ou enviesados podem levar a modelos que performam mal para certos grupos ou situações. Por exemplo, um modelo treinado predominantemente com textos técnicos pode ter dificuldades em interpretar linguagem coloquial.

Práticas como o balanceamento de classes e a análise exploratória de dados ajudam a identificar possíveis lacunas e corrigir desvios antes do treinamento. Adicionalmente, frameworks éticos, como o uso de "datasheets for datasets" (Gebru et al., 2018), promovem maior transparência na documentação dos dados, facilitando a identificação de limitações e riscos.

Podemos seguir para o Treinamento?

A coleta e o pré-processamento de dados formam a base para o treinamento de modelos de linguagem. O sucesso dessa etapa depende de práticas rigorosas que garantam a qualidade, a diversidade e a representatividade dos dados. Na próxima seção, abordaremos como esses dados processados são utilizados para treinar LLMs, explorando os desafios e as melhores práticas associadas a essa etapa.

Treinamento de LLMs e Desafios Associados

O treinamento de modelos de linguagem de grande escala (LLMs) é uma etapa que vai possibilitar que possamos desenvolver soluções de IA capazes de realizar tarefas complexas, como tradução, geração de texto e análise semântica. No entanto, esse processo apresenta desafios técnicos, computacionais e éticos que demandam práticas bem estruturadas para garantir a eficácia e a sustentabilidade do modelo. Nesta seção, exploraremos como ocorre o treinamento de LLMs e os principais obstáculos enfrentados ao longo desse processo.

Estrutura do Processo de Treinamento

O treinamento de LLMs é baseado na aprendizagem de padrões em grandes volumes de texto. Para isso, utiliza-se aprendizado supervisionado ou auto-supervisionado, onde o modelo aprende a prever a próxima palavra em uma sequência, com base no contexto fornecido. Essa abordagem permite que os LLMs desenvolvam uma compreensão avançada da linguagem, sem a necessidade de dados manualmente rotulados para todas as tarefas.

A configuração do treinamento envolve a definição de hiperparâmetros, como taxa de aprendizado, tamanho do batch e número de épocas. Esses fatores influenciam diretamente a convergência do modelo e seu desempenho final. Por exemplo, uma taxa de aprendizado muito alta pode causar instabilidade no treinamento, enquanto uma taxa muito baixa pode tornar o processo lento ou ineficaz.

Infraestruturas especializadas, como clusters de GPUs e TPUs, são frequentemente utilizadas para lidar com a intensidade computacional do treinamento de LLMs. Ferramentas de software, como PyTorch e TensorFlow, também desempenham um papel crítico, fornecendo bibliotecas otimizadas para operações matemáticas complexas, como multiplicações de matrizes.

Desafios Computacionais e de Recursos

O treinamento de LLMs é extremamente intensivo em termos de recursos. Modelos como GPT-4 exigem semanas de processamento em supercomputadores, consumindo grandes quantidades de energia. Esse requisito técnico não só limita o acesso ao treinamento de LLMs a organizações com recursos significativos, mas também levanta questões de sustentabilidade ambiental. Um estudo conduzido por Strubell et al. (2019) destacou que o treinamento de modelos de IA pode ter uma pegada de carbono maior do que a de um carro ao longo de sua vida útil.

Além disso, há desafios relacionados ao gerenciamento de memória e eficiência de processamento. Durante o treinamento, os dados são divididos em lotes que passam pelo modelo em múltiplas iterações. Se o tamanho do modelo ou do batch for muito grande, pode ocorrer esgotamento da memória da GPU, exigindo estratégias como quantização e compressão de modelos para otimizar o uso de recursos.

Desafios Éticos e de Viés

Um dos maiores desafios no treinamento de LLMs é lidar com o viés presente nos dados. Como os modelos aprendem diretamente dos textos fornecidos, eles podem reproduzir e amplificar vieses sociais, culturais e linguísticos encontrados nesses dados. Por exemplo, se os dados de treinamento contiverem estereótipos ou linguagem discriminatória, o modelo pode perpetuar essas práticas em suas respostas.

Para mitigar esses problemas, práticas como o monitoramento contínuo de saídas do modelo e o ajuste de dados são essenciais. Além disso, frameworks como "Model Cards" (Mitchell et al., 2019) promovem maior transparência ao documentar as limitações e os possíveis impactos do modelo.

Caminhos para Superar os Desafios

O treinamento de LLMs envolve uma combinação de desafios técnicos e éticos que exigem estratégias robustas para serem superados. Práticas como a escolha adequada de hiperparâmetros, o uso eficiente de recursos computacionais e a mitigação de viés nos dados são fundamentais para o sucesso do modelo. À medida que a demanda por LLMs cresce, é crucial que as práticas de treinamento sejam continuamente refinadas para balancear inovação e responsabilidade.

Conclusão: Desafios e Reflexões

Este artigo explorou os fundamentos de modelagem e treinamento de modelos de linguagem de grande escala (LLMs), destacando as etapas essenciais, os desafios associados e as melhores práticas para cada fase. Desde a coleta e pré-processamento de dados até o treinamento e validação, ficou evidente que a qualidade do modelo depende de decisões criteriosas em todas as etapas do ciclo de vida.

Entre os desafios mais destacados, estão a necessidade de dados representativos, a gestão de recursos computacionais e a mitigação de viéses nos modelos. A coleta de dados de qualidade, o pré-processamento eficiente e o treinamento sustentável requerem práticas tecnicamente sólidas e eticamente responsáveis. Além disso, questões relacionadas ao impacto ambiental e à acessibilidade dos recursos de treinamento apontam para a necessidade de maior inovação em infraestrutura e algoritmos.

Como próximos passos, recomenda-se a adoção de frameworks que promovam maior transparência e responsabilidade no desenvolvimento de LLMs, como datasheets para conjuntos de dados e model cards. Também é essencial investir em pesquisa para aprimorar a eficiência computacional e a governança de IA. O futuro dos LLMs dependerá de como a comunidade técnica e acadêmica enfrentará esses desafios, equilibrando inovação tecnológica com impactos sociais e éticos.

Referências para Leitura Futuras

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Este texto contou com apoio de IA na sua revisão e produção da imagem.

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