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Anderson Contreira
Anderson Contreira

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Cuidado para não virar apenas "mais um sênior"

Vou ser direto: depois de 17 anos trabalhando com tecnologia, passando por empresas pequenas, grandes, nacionais e internacionais eu já vi muita coisa. Já mergulhei em sistemas modernos, já enfrentei legados tenebrosos e já trabalhei com todos os perfis possíveis de profissionais, desde aqueles extremamente colaborativos e parceiros, até indivíduos comportamentalmente destrutivos e com egos inflados.

Ao longo do tempo, uma coisa ficou evidente para mim:

Tem muita gente com título de sênior, mas pouca gente realmente sênior.
E a diferença não está no crachá, está na mentalidade.

E não é o tempo de carreira que define isso.
É a visão, a postura, a maturidade e a capacidade de evoluir.

O que mais trava a carreira das pessoas é:
acomodação, zona de conforto, repetição, rotina fácil.
Muita gente vira “sênior” e estaciona ali por anos, às vezes décadas.

Só que senioridade não é um destino final.
Na verdade, é o começo da parte mais interessante da jornada.

Se você não quer cair nessa, aqui vai o que realmente importa, sem enrolação.

O que realmente diferencia um sênior de verdade

A lista abaixo é simples, mas por trás de cada item existe uma profundidade, experiência real e muita reflexão acumulada ao longo dos anos.


1. Aprenda mais de uma linguagem

Isso muda completamente a forma como você pensa como engenheiro.

Quando você domina outra linguagem, algumas coisas acontecem:

  • Padrões começam a aparecer naturalmente
  • Você entende problemas por outra perspectiva
  • você foge do pensamento limitado da sua "stack favorita"

Nenhuma stack é uma bala de prata.

Ter fluência em mais de uma linguagem, especialmente aquelas com paradigmas e modelos de execução contrastantes, é o que expande o seu arsenal de soluções. Por exemplo, ao trabalhar com um ambiente stateless (sem estado compartilhado entre requisições) como o PHP, você é forçado a resolver a persistência e o contexto usando soluções externas, como sessões ou banco de dados.

Em contraste, um ambiente stateful (com estado persistente em memória) como Java ou Node.js permite que você explore o compartilhamento de dados e caches em memória de forma mais eficiente dentro do processo. Essa dualidade de conhecimento oferece a capacidade de atacar um problema de diversas formas, utilizando o melhor de cada modelo.

Você não apenas aprende a sintaxe, mas entende como o runtime lida com o estado, concorrência e memória, o que é fundamental para projetar sistemas resilientes e de alta performance.

Isso te dá repertório e flexibilidade.
E repertório separa profissionais medianos dos excepcionais.


2. Estude Arquitetura e Padrões de Projetos

Isso não é sobre decorar Design Patterns, UML, C4 ou seguir o livro cegamente.

É sobre a capacidade de tomar decisão técnica baseada no entendimento de:

  • O que, quando e por que certos padrões funcionam.
  • Como os sistemas conversam e se comportam em escala.
  • O impacto real de uma solução em custo, confiabilidade e sustentabilidade.

A verdade é que: Um sênior que não entende arquitetura vira só um executor caro.

Para aprofundar um pouco mais vamos ao detalhamento desses items:

2.1. Padrões de Design (Design Patterns)

Soluções para problemas comuns de codificação, essenciais para criar código flexível e testável (GoF):

  • Criação:
    • Singleton: Garante uma única instância de uma classe.
    • Factory Method: Define uma interface para criar objetos, deixando as subclasses decidirem a implementação.
    • Builder: Separa a construção complexa de um objeto de sua representação.
  • Estruturais:
    • Adapter: Converte a interface de uma classe para outra.
    • Facade: Simplifica o acesso a um subsistema complexo.
    • Decorator: Adiciona responsabilidades a um objeto dinamicamente.
  • Comportamentais:
    • Observer: Define uma relação de dependência um-para-muitos (publicar/assinar).
    • Strategy: Permite trocar algoritmos em tempo de execução.
    • Command: Encapsula uma solicitação como um objeto.

2.2. Padrões de Arquitetura de Projetos (Layout Interno)

Como estruturar o código dentro de uma única aplicação para gerenciar a complexidade e o domínio do negócio:

  • Domain-Driven Design (DDD): Foco no Modelo de Domínio e na Linguagem Ubíqua.
  • Arquitetura Hexagonal (Ports and Adapters): Isola a lógica de negócio do banco de dados e da interface (externos).
  • Arquitetura em Camadas (Layered): Divisão clássica em Apresentação, Lógica de Negócios e Acesso a Dados.
  • Model-View-Controller (MVC): Separação de responsabilidades de dados, interface e controle.

2.3. Arquiteturas de Serviço (Layout Externo)

Como os diferentes sistemas se comunicam e operam em produção:

  • Monolito: Aplicação única e unificada (simples, mas difícil de escalar).
  • Microsserviços: Conjunto de serviços pequenos e independentes (escalável, mas complexo).
  • Arquitetura Orientada a Eventos (EDA): Comunicação assíncrona baseada na publicação e consumo de eventos (ótimo para reatividade e desvinculação).
  • Service-Oriented Architecture (SOA): Reutilização de serviços maiores, frequentemente mediada por um Enterprise Service Bus (ESB).

2.4. Domine a Documentação Visual (UML e C4 Model)

Documentação visual não é apenas para arquivamento; é a linguagem universal que garante que todos do time de desenvolvimento à liderança técnica, estejam alinhados com o design do sistema.

É sobre a habilidade de comunicar complexidade com clareza, utilizando:

  • UML (Unified Modeling Language): Para detalhar a estrutura interna do código (ex: Diagramas de Classes, Componentes) e o fluxo de processos (ex: Diagramas de Sequência e Atividade).

  • C4 Model: Para descrever a arquitetura em diferentes níveis de zoom (Contexto, Containers, Componentes e Código), facilitando o entendimento em escala.

  • Diagramas de Fluxo e Estados: Para mapear o comportamento do sistema e as transições de dados.


3. Aprenda Inglês — Isso Muda Tudo

Inglês não é um "plus"; é um multiplicador de carreira que tira você da bolha.

Eu estou na minha segunda empresa internacional, e isso só foi possível porque estudei inglês e saí da minha zona de conforto.

Ele te permite:

  • Acessar conteúdos avançados ou materiais originais (direto da fonte).
  • Se comunicar com times globais e entrar em empresas mais maduras.
  • Ser visto como referência global, não apenas local.

Se você não fala inglês, seu teto salarial é mais baixo. Fica limitado ao mercado nacional.

Simples assim.


4. Não Aceite Viver Apenas de CRUD

CRUD é a porta de entrada. Mas parar ali é estacionar na zona de conforto. A maioria das empresas tem tarefas assim, isso não é novidade, isso faz parte da rotina, mas em muitas empresas há um plano de atualização, modernização e migração de legados, você precisa estar pronto para pôr a mão na massa quando necessário.

O sênior de verdade não é o que faz CRUD rápido — é o que entende sistemas e se expõe ativamente a cenários que aprimoram a performance e a resiliência da aplicação.

Otimização e Complexidade

  • Design de Processos: Dominar a execução paralela e o processamento assíncrono de tarefas.
  • Gerenciamento de Fluxo: Utilização correta de filas e processamento em batch/background para lidar com picos de carga sem travar a interface do usuário.
  • Performance de Dados: Implementação estratégica de cacheamento de dados em diferentes níveis e otimização de *queries* complexas.
  • Modelagem de Dados: Saber a diferença e o uso correto de bases de dados SQL vs. NoSQL (entendendo quando e por que usar cada uma).
  • Estrutura e Organização: Organizar o projeto por contextos (DDD) e definir a correta segmentação por tipos de camadas (Serviço, Dados, Apresentação) para garantir manutenção e escalabilidade.

Infraestrutura e Resiliência

  • Comunicação e Escala: Mensageria, eventos e sistemas distribuídos.
  • Containers e Cloud: Performance, custo e observabilidade do sistema em ambientes Kubernetes e Cloud.
  • Resiliência: Concorrência, paralelismo e tolerância a falhas para garantir que o sistema sobreviva a incidentes.
  • Diagnóstico: Troubleshooting em situações reais de produção.

É aqui, na capacidade de desenhar e implementar essas melhorias, que sua senioridade aparece de forma inquestionável.


5. Assuma Liderança e Responsabilidade

Sênior que não assume responsabilidade vira "operador".

O que te diferencia:

  • Lidera discussões e toma decisões técnicas.
  • Puxa iniciativas de melhoria.
  • Resolve problemas antes de virarem incêndios.
  • Comunica-se com clareza e age sem esperar ordem.

Essa postura cria respeito, confiança e é o único caminho para o próximo nível.


6. Colecione Experiências Difíceis

A experiência real não se forma em sprint perfeita.

A maturidade técnica e emocional vem dos momentos que doem:

  • Incidentes sérios e quedas em produção.
  • Trade-offs dolorosos e decisões complicadas.
  • Prazos apertados e retrabalhos.
  • Conversas difíceis com liderança sobre o que precisa ser feito.

Senioridade é, acima de tudo: capacidade de julgamento em situações complexas.


Relato pessoal

Eu também já caí na armadilha da estagnação. Já fiquei confortável demais e deixei meu crescimento depender da empresa ou do projeto.

Hoje, não mais. Meu objetivo é claro: chegar ao cargo de Principal Software Engineer ou Senior Staff Software Engineer.

Meu perfil atende ambos os cenários.

Mas isso exige comprometimento e um foco constante na aprimoração das minhas habilidades: técnicas, comportamentais e de comunicação.

Atualmente sou um Arquiteto, mas já tive oportunidades para ser Staff e até Senior Staff, mas o caminho vai sendo construído conforme as oportunidades.

Mas volto a dizer:

Não dá para "virar o sênior acomodado". vale a reflexão:
Eu estou evoluindo aqui? O que eu tenho feito para melhorar?

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