Durante a recente mega operação no Rio, fiquei pensando em como isso se parece com o que acontece na nossa área.
Você pode ser um policial que passou horas de treino com equipamentos, armamentos, fez diversas simulações de operações em locais confinados e até treinou para ajudar um colega baleado.
Nos exercícios, tudo parece dar certo. Mas nada se compara com a experiência de lidar com o mundo real.
Em uma operação de verdade, as reações podem ser bem diferentes do esperado.
Uma rendição pode dar errado, alguém pode aparecer de surpresa por uma janela, ou um plano pode falhar completamente.
Um profissional que já passou por várias operações carrega bagagem, já sabe onde pode estar o perigo, define estratégias de contenção e consegue reagir mais rápido a surpresas.
A diferença é grande. As experiências reais do dia a dia são o que realmente nos forjam como melhores profissionais.
O “especialista” sem estrada ou bagagem
Eu mesmo já vivi isso na minha carreira.
Lembro que no começo eu estudava PHP com afinco, tinha livros e manuais, lia tudo e testava tudo.
Implementei praticamente todos os exemplos possíveis só para entender como as coisas funcionavam.
Em menos de um ano, eu já era muito bom na linguagem, e com o tempo até resolvi criar meu próprio framework — afinal, quem nunca quis saber como o caixa eletrônico funciona, e não só usar ele?
Posso dizer que fiquei muito bom mesmo, comparado a muitos colegas.
Com dois anos de experiência, eu fazia coisas incríveis: sistemas dinâmicos, telas automáticas de gestão de banco de dados, e tudo mais.
Mas o tempo foi me mostrando outra coisa: meu código estava longe de seguir os melhores padrões.
Eu tinha habilidade, mas não tinha experiência.
Não sabia lidar com certos tipos de problema.
Com o tempo, aprendi que nem sempre o “perfeito” é o que o time ou o negócio precisa.
Às vezes, o dinâmico demais quebra suas pernas.
Às vezes, o “genérico” demais gera inconsistências.
Aprendi também que ser sênior é saber quando parar, quando pedir ajuda e quando abrir mão do orgulho.
Dá para aprender muito com os colegas, até com os juniores — às vezes eles têm umas sacadas geniais que você já nem enxerga mais porque está preso em um padrão ou hábito.
E também é importante saber ouvir os mais experientes.
Tem muita gente que já se lascou antes por tentar fazer do jeito X ao invés do Y, e se você ouvir, economiza tempo e dor de cabeça.
A experiência real
Ser sênior não é dominar uma linguagem ou framework.
É saber lidar com o inesperado, com o que dá errado, com o que não estava no manual.
É ter vivido o suficiente para reconhecer padrões de problema e evitar repeti-los.
No fim, experiência real não vem só do código que você escreve, mas das situações que você enfrenta.
E é isso que transforma um bom desenvolvedor em um profissional de verdade.
E é por isso que, quando alguém diz “sou sênior, porém com 2 anos de experiência”, soa estranho para quem já trilhou um caminho mais longo.
Não porque exista um número mágico de anos que define a senioridade, mas porque experiência não se mede em tempo de teclado, e sim em cicatrizes adquiridas ao resolver problemas reais, lidar com falhas, imprevistos, crises e entregas difíceis.
Ser sênior é ter vivido o suficiente para saber o que fazer, e principalmente, o que não fazer, quando o plano perfeito dá errado.
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