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Carlos  Ferreira
Carlos Ferreira

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Não recomende cursos para o seu amigo

Eu sei, esse título parece ir contra tudo o que um bom amigo faria, mas acredite em mim: vou te dar bons motivos para entender por que você não deve recomendar cursos para seu amigo.

Há algum tempo, quando comecei minha jornada para me tornar um desenvolvedor (imagine Carry On Wayward Son tocando ao fundo), trilhei um caminho diferente de muita gente que hoje trabalha com tecnologia.

Em vez de começar como um jovem adolescente empolgado com tecnologia, seja por criar um hack para seu jogo favorito ou por trollar um amigo com um script num pendrive que fazia o PC reiniciar e parecer hackeado, eu já era um adulto e, na época, provedor de uma pequena família. Algo que acabou se tornando a realidade de muita gente, graças ao boom da TI durante a pandemia.

O que me diferenciou de muitos casos é que comecei ingressando em uma faculdade (talvez eu devesse ter optado por um curso técnico, mas isso é assunto para outro artigo). Lá, encontrei essa galera mais jovem, empolgada em fazer scripts, codar algo em JS ou Python e participar de inúmeros hackathons. Não que isso seja um problema, pelo contrário, acho muito válido. Mas a minha realidade era outra.

Trabalhava das 9h às 18h, tinha que levar o garoto pra escola e ainda cuidar das tarefas de casa. Nesse meio tempo, precisava estudar pra faculdade e aprender a programar (sim, a faculdade não ensina a programar. Pasmem!). Longe de ser uma realidade cruel ou de eu me considerar um sofredor, essa é a realidade de milhares de pessoas ao redor do mundo. Mas o ponto aqui é que, no meio dessa rotina comum para muitos brasileiros, a TI se destaca por ser uma área extensa, complexa e, muitas vezes, confusa.

O que antes era só entrar na sala de aula e aprender algoritmos virou uma sopa de letrinhas: JS, PHP, C#, C++, AWS, DB, etc. Isso é complexo até para quem já está acostumado, imagine para quem está começando?

Agora, vamos ao ponto que quero chegar. Durante esse período em que estudava para passar no semestre e tentava migrar da minha antiga profissão de vendedor para desenvolvedor, me envolvi em grupos e comunidades de tecnologia. Tentava fazer algum networking para conseguir meu primeiro emprego em TI, mas, em vez de ser indicado para vagas, a galera sempre me indicava cursos e videoaulas que ensinavam de tudo: desde como criar um Sistema Operacional do zero até uma famosa lista de cursos gratuitos na Udemy (acho que até hoje essa lista ainda circula por aí). Claro, esses conteúdos não tinham nada a ver com o que eu precisava, nem eram para o meu nível de aprendizado. Mas quem avisa isso ao novato? Ninguém.

Então, é claro, saí experimentando um monte de conteúdos, perdendo 30 minutos, 1 hora de estudo, assistindo a materiais que, além de estarem fora do meu alcance naquele momento, muitas vezes desviavam minha atenção do assunto principal e me colocavam em rota para explorar outros temas, como API, Containers, etc. E isso não é ruim de um ponto de vista geral, já que amplia a visão do novato sobre o que um desenvolvedor realmente precisa saber. Mas, quando se está começando sem um rumo definido, esses desvios acabam se tornando distrações que atrasam o desenvolvimento dos estudos.

Então, é claro, recomendar cursos para quem está estudando é bom? Sim. Porém, você sabe o que essa pessoa está estudando? Qual é a trilha que ela está seguindo? Indicar um curso de Data Science para quem está estudando Front-End é como sugerir a uma pessoa que quer caminhar para perder peso que use salto alto. Funciona, mas é incrivelmente mais difícil desse jeito.

Obviamente, isso não é algo que a galera faça por mal. Especialmente em grupos, não dá para saber o que cada um está estudando. Mas pense nisso: quando for ajudar seu amigo ou amiga indicando um curso ou compartilhando aquela lista que está circulando em todos os canais de fãs de One Piece 🏴‍☠️, vale a pena perguntar primeiro: “Fulano, você está estudando essa área, não é mesmo?”

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Icaro Mota

Ótimo texto!

Eu já fui o cara que recomendou cursos para o amigo sem saber o caminho que ele pretendia seguir dentro da área de T.I.

Esse texto me fez pensar e abrir meus olhos sobre isso.

Muito bom!