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Angelo Silva
Angelo Silva

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4 Técnicas de Elicitação que Grandes Times de Software Usam e Você Também Pode

Todo projeto de software começa com uma conversa.

Uma ideia jogada na mesa, um “e se a gente criasse um app que…”.

Mas entre o entusiasmo e a entrega existe um terreno cheio de armadilhas: entender o que realmente precisa ser construído.

🧭 De Suposições a Entendimento Compartilhado

Se você já começou um projeto achando que estava com tudo sob controle, e semanas depois percebeu que entendeu tudo errado

Bem-vindo ao clube.

Acontece com todo mundo.

No início, tudo parece claro.

Mas conforme as conversas avançam, as certezas evaporam e o que sobra são dúvidas, retrabalhos e aquela sensação de estar construindo um castelo em terreno instável.

É exatamente nesse momento que a engenharia de requisitos mostra seu verdadeiro valor.

Ela é o mapa que transforma o caos em direção.

E dentro dela existe uma etapa onde a confusão ganha forma: a elicitação.

É ali que a mágica (e às vezes o caos) acontece:

Quando ideias vagas se transformam em necessidades reais,
e o que antes era “acho que” vira “agora entendi”.

A seguir, você vai conhecer 4 técnicas essenciais de elicitação de requisitos — as mesmas usadas por grandes equipes de software, mas simples o bastante para aplicar até no seu projeto pessoal.


1. 📍 Faça as Perguntas Certas

Toda boa elicitação começa com escuta.

Mas escutar não é o mesmo que entender.

Quantas vezes você já participou de uma reunião em que o cliente falava…

E, no fundo, parecia que todo mundo só esperava a vez de responder?

É assim que os ruídos nascem, e que projetos promissores começam a desalinhar.

A maioria dos desenvolvedores anota o que o cliente diz.

Os bons tentam entender o que ele quis dizer.

Mas os melhores vão além: investigam o que ele nem percebeu que precisava dizer.

Imagine uma cena.

Um cliente pede: “Quero um botão para exportar relatórios em PDF.”

Simples, certo?

Mas um dev curioso pergunta:

“Por que o PDF é tão importante?”

E descobre que o problema não é o formato, mas o fato de o gerente precisar imprimir os relatórios para assinar à mão.

Uma rotina que poderia ser resolvida com assinatura digital, economizando tempo e papel.

É isso que a entrevista faz quando usada do jeito certo:
transforma pedidos superficiais em insights profundos.

Perguntas como:

👉🏻 “Qual é o problema que você está tentando resolver?”
👉🏻 “O que aconteceria se essa funcionalidade não existisse?”
👉🏻 “Como você faz isso hoje?”

Essas perguntas abrem espaço para histórias reais.

E é nelas que moram os verdadeiros requisitos, aqueles que o cliente sente, mas não sabe explicar.

💡 Dica prática:

Grave (com permissão) e transcreva suas entrevistas.

As palavras exatas das pessoas escondem mais do que informações, elas revelam emoções, dores e prioridades.

E é aí que nasce um software que realmente faz sentido.


2. 👀 Veja o Que as Palavras Não Dizem

Nem sempre as pessoas conseguem explicar o que realmente fazem.

Às vezes, não é má vontade é costume. Elas já se adaptaram às falhas do sistema há tanto tempo que o problema parece parte do trabalho.

É por isso que observar pode revelar o que nenhuma entrevista mostraria.

Essa é a essência do Shadowing, ou Etnografia de Usuário: acompanhar o dia a dia real de quem vai usar o sistema.

Imagine que você está desenvolvendo um software para uma clínica.

Durante uma visita, nota que a secretária mantém um bloquinho de anotações ao lado do computador.

Ela anota nomes de pacientes, ligações perdidas, horários remarcados… tudo à mão.

Quando você pergunta o motivo, ela responde com naturalidade:

“Ah, é que o sistema demora demais pra abrir a agenda. Assim é mais rápido.”

E ali está a verdade que o briefing nunca traria.

O problema não é o sistema antigo, é o processo.

A “nova funcionalidade” que pediram talvez seja só uma tentativa de contornar essa lentidão.

🔍 Observar muda tudo.

Você começa a enxergar o que as pessoas realmente fazem, e não apenas o que dizem que fazem.

É nesse contraste que surgem os requisitos mais valiosos.

No fim das contas, os melhores insights não nascem da mesa do escritório.


3. 💬 Quando Mentes Diferentes se Encontram

Alguns problemas não se resolvem em uma conversa a dois.

Eles se desdobram quando diferentes vozes se cruzam, cada uma enxergando o mesmo desafio sob uma luz diferente.

É aí que entram os workshops de requisitos e as sessões de brainstorming.

São como laboratórios de entendimento coletivo, onde desenvolvedores e stakeholders colocam suas perspectivas na mesa (às vezes em harmonia, às vezes em atrito).

Imagine a cena:

Uma sala (ou uma call) cheia de post-its, cafés e opiniões.

Alguém fala sobre usabilidade, outro rebate com limitações técnicas, e um terceiro lembra que o cliente final nem sabe usar o recurso anterior.

O clima é de debate, mas também de descoberta.

Porque é justamente nesse atrito construtivo que as boas ideias se pulem e os requisitos ganham corpo.

Uma técnica poderosa para guiar esse tipo de encontro é o Brainwriting.

Em vez de uma discussão caótica, cada pessoa escreve suas ideias em silêncio por alguns minutos.

Depois, o grupo lê, combina, aprimora.
Sem interrupções, sem vozes dominantes.

A criatividade flui e as perspectivas se multiplicam.

📌 O resultado?

Um conjunto mais rico de soluções, construído de forma colaborativa.

Menos ego, mais empatia.
Menos “minha ideia”, mais “nossa visão”.

No fim, elicitar requisitos é isso:

não sobre impor respostas, mas construir entendimento (juntos).


4. ✏️ Dê Forma ao Que Ainda É Nebuloso

Nem sempre as palavras bastam.

Algumas ideias só se revelam quando ganham forma, quando deixam o plano do discurso e passam a existir, ainda que de modo imperfeito.

É aí que entra a prototipagem: a ponte entre imaginação e entendimento.

Imagine que, depois de uma longa reunião, o cliente diz:

“Acho que entendi o que você quis dizer.”

Mas você sabe, esse “acho” é perigoso.

Então, em vez de mais explicações, você abre o Figma, rabisca algumas telas e mostra um fluxo simples.

De repente, ele aponta para a tela e diz:

“Ah, é isso! Era exatamente isso que eu queria.”

E pronto! O que antes era uma abstração vira um consenso.

Um protótipo pode ser um esboço rápido no papel ou um wireframe mais elaborado.

O formato não importa tanto quanto o efeito: tornar visível o que antes era apenas imaginado.

Cada feedback nessa fase é ouro.

Porque quanto mais cedo o cliente discorda, melhor.

Cada ajuste feito agora é um bug que você não precisará corrigir depois.

Prototipar não é perder tempo.

É evitar o desperdício,

De código, de energia e de expectativa.

💡 No fim das contas, é muito mais fácil alinhar quando todos estão olhando para o mesmo desenho, e não para interpretações diferentes de uma mesma ideia.


💬 O Código Nasce da Conversa

Todo projeto começa com um punhado de suposições.

O cliente “acha” que sabe o que quer.
O time “acha” que entendeu o que precisa ser feito.

E, no meio desse achismo mútuo, o projeto segue (até que a realidade cobra a conta).

A elicitação é o momento de quebrar esse ciclo.

É quando paramos de assumir e começamos a entender de verdade.

Não é apenas uma etapa do processo, é o instante em que o futuro do sistema começa a se definir.

Grandes sistemas não nascem de ideias geniais.

Eles nascem de grandes conversas, daquelas em que alguém faz a pergunta certa e muda o rumo de todo o projeto.

Por isso, antes de abrir o editor de código, abra o diálogo.

Converse, observe, prototipe, investigue.

Descubra o que está sendo dito e, principalmente, o que ainda não foi dito.

💡 Cada pergunta bem feita é uma linha de código a menos desperdiçada.

E cada boa conversa é um passo a mais rumo a um produto que realmente faz sentido.

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