Bom, hoje eu vou contar a minha história que eu contei nesse vídeo.
No vídeo anterior eu falei como fiquei dois dias numa empresa antes de pedir demissão. Pois é. Pedi demissão e fui pra essa startup. Eu não tinha muita oportunidade com React aqui em Uberlândia, e eu queria aprender React e trabalhar com React. Só que em 2019, o que tinha era Angular. Todo dia eu entrava num grupo de WhatsApp pra ver vaga, e era só Angular, Java, .NET... essas paradas aí. React ainda era raro, tava começando a crescer.
Essa startup que entrei usava React. Era daquelas startups "pra frentex", com um aplicativo de nutricionista — tinha a plataforma pro nutricionista e o paciente usava o app feito em React Native. Lindo. Stack do futuro: React, React Native, Node.js... ainda tinha Angular pra me encher o saco (era a plataforma web deles). E acabei até trampando com Java, porque usavam AWS Lambda.
Trabalhar lá foi como viver um ano em quatro meses
Trabalhei lá por 4 meses, mas parecia que tinha passado 1 ano. Nunca trabalhei tanto na minha vida. Fazia uns 3 a 4 deploys por dia, fácil. Sempre tinha incêndio, porque os bugs vinham direto do cliente — ele era o tester. O suporte recebia tudo via WhatsApp, numa sala onde ficava todo mundo junto. Gritaria total. Parecia bolsa de valores em 1990, papel voando.
Tinha a bancada dos vendedores também. Toda vez que vendiam uma assinatura (era um SaaS, 30 conto por mês), tocava um sininho. A gente, dev, começou a querer bater o sininho também. Virou cultura.
Minha "entrevista" e salário de PJ
Me contrataram assim:
— "Você sabe React?"
— "Mais ou menos, tô aprendendo..."
— "Ah, beleza, tem experiência com programação, tá contratado."
— "Quanto você quer ganhar?"
Eu ganhava R$ 1.500 na CLT anterior. Falei que queria R$ 3.200.
— "A gente tem R$ 3.000."
— "Então tá bom. Bora."
Segundo dia: o começo do show de horrores
No segundo dia, vi um cara testando o app e falando pro QA:
"Mano, seus testes são uma merda. Enfia no CU..."
Eu fiquei tipo: "Onde é que eu vim parar?"
Era pressão absurda, assédio moral, passivo-agressividade todo dia. Fiz muita hora extra (sem receber). E ainda colocavam a gente num grupo de WhatsApp 24/7 pra ouvir bug e problema. Até no Natal e Ano Novo tinha plantão — mesmo sem ninguém usando o app.
Curiosamente, era divertido (às vezes)
Apesar de tudo, eu me divertia com a galera. Era tudo moleque, tudo novo. Tinha o Luiz, do back-end, que a gente chamava de 2000 (ano de nascimento). Depois entrou o amigo dele, o 2001. Eles tocavam Angular (web), eu ficava com o React Native (app), porque era onde mais dava problema.
Usavam Expo 36 com OTA (Over The Air update). Mandava um publish
, e já subia a atualização sem esperar App Store nem Play Store.
O dia da tela preta
Um dia os vendedores queriam expandir o app pra academias (antes era só pra nutricionistas). Foram mostrar o app novo pro cliente e... tela preta.
Bug causado por mim. Um caractere avulso ferrava a tela. Corrigi, fiz o commit, mandei push e pedi pra avisar o suporte antes de subir de fato. Milagrosamente funcionou. O cliente viu, funcionou, os caras me olharam com cara de bosta... 30 minutos depois:
"Vendemos!"
E esqueceram. Montanha russa emocional total.
Terceiro dia: já me jogaram no fogo
Na reunião de "guerra", CEO maluco dizendo que precisava entregar a impressão da dieta (feito por um microserviço no Lambda).
"Quem é responsável por isso?"
Eu, com 3 dias de casa:
— "Sou eu."
Os caras tudo riram. O dev que começou o projeto tinha saído com dois dias. Eu chegava e só cortava faixa — tipo prefeito em inauguração de obra dos outros.
Como eu saí?
Consegui um trampo home office, ganhando R$ 3.600 com Node.js. E vazei. Não aguentava mais:
- Prazo irreal
- Demanda domingo porque "o investidor quer ver"
- Hora extra sem pagar
- Todo mundo PJ (até vendedor, suporte, dev... até o CEO era MEI)
E a promessa de "aumento de R$ 100", que nunca chegou pra mim.
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