1 Introdução
Uma das coisas mais difíceis em programação é não deixar o código virar uma bagunça, principalmente quando o programa começa a crescer e ficar mais interativo. O código vai virando uma bola de neve e fica difícil de mexer. Pois é, foi pra tentar resolver esse problema, lá no começo das interfaces gráficas, que inventaram o padrão Model-View-Controller, o hoje conhecido, MVC.
A ideia por trás dele, que hoje a gente acha super normal mas que na época foi algo grande, é a tal da Separação de Preocupações(Separation of Concerns (SoC)) (FOWLER, 2006). A lógica é bem simples na verdade: por que o código que define o que é um produto, ou seja a lógica de negócio, deveria ficar junto com o código que desenha o botão de 'comprar', que é a apresentação? Nesse artigo, a gente vai tentar ir um pouco além da definição técnica do MVC e explorar a ideia original do cara que criou ele, que era quase criar uma ponte entre a cabeça do usuário e o computador (REENSKAUG, 2003).
2 Fundamentação Teórica
2.1 Gênese Histórica e a Visão Original
Tudo começou lá em 1979, num lugar chamado Xerox PARC, que era tipo o centro de inovações da época. O cara que inventou o padrão, Trygve Reenskaug, tava trabalhando com uma linguagem chamada Smalltalk e sentiu na pele o problema que era ter o código todo misturado.
E aqui entra um detalhe que muita gente esquece sobre a intenção original. A meta não era só organizar o código para os programadores, mas fazer o usuário sentir que ele estava, de fato, manipulando os dados diretamente. Uma ideia de intuição e fluidez. Só que, na prática, a versão do MVC que "pegou" e se popularizou com o Smalltalk-80, acabou focando muito mais no benefício técnico da separação, deixando essa ambição mais filosófica um pouco para trás (REENSKAUG, 2003).
2.2 A Desconstrução da Tríade MVC
Beleza, separar as coisas parece uma boa ideia. Mas na prática, como que o MVC funciona? Ele faz isso usando 3 componentes, cada um faz uma coisa bem específica.
O Modelo (Model): é basicamente onde a "inteligência" do programa fica. Ele cuida dos dados e de toda a lógica de negócio, como cálculos, validações e regras. É responsabilidade dele interagir com o banco de dados e garantir a integridade das informações. O ponto-chave é que o Modelo é completamente agnóstico em relação à interface; ele não sabe nem se importa como os dados serão exibidos.
A Visão (View): É a face da aplicação, aquilo que o usuário vê. A Visão pega o que o usuário faz, tipo um clique, e avisa o sistema, mas ela mesma não tem lógica de negócio nenhuma, é só pra mostrar as coisas.
O Controlador (Controller): Atuando como o cérebro da operação, ele pega o que a Visão mandou, entende o que é pra fazer e chama o Modelo pra resolver. Depois de um tempo, ele geralmente decide qual vai ser a próxima tela que o usuário vai ver, meio que controlando o fluxo todo.
2.3 A Dinâmica da Interação
Não adianta nada ter as peças separadas se a conversa entre elas for ruim. O segredo do MVC é como esse fluxo funciona. O ciclo básico é até que simples: o usuário faz algo na Visão, a Visão chama o Controlador, o Controlador manda o Modelo trabalhar nos dados, e o Modelo avisa as Visões que mudou, pra elas se atualizarem na tela.
E é aqui que muitos desenvolvedores se confundem, porque existem basicamente duas "versões" dessa conversa. No modelo original, das aplicações de desktop, a Visão era mais "ativa" e "curiosa", ela mesma observava o Modelo para saber quando mudar, utilizando o padrão Observer (GAMMA et al., 1995). Já no mundo da web, que é o que a maioria de nós usa hoje, a Visão se tornou "passiva". O Controlador faz todo o trabalho de buscar os dados no Modelo e entregá-los de bandeja para a Visão, o que, no fim, deixa as camadas ainda mais independentes (FOWLER, 2006).
2.4 Análise Crítica: Forças e Fraquezas
Claro, como toda solução de engenharia, o MVC não é uma bala de prata. Suas vantagens são inegáveis: a separação de conceitos permite que equipes trabalhem em paralelo, facilita a manutenção e o reuso de código, e torna os testes unitários muito mais simples, especialmente na lógica de negócio contida no Modelo.
Porém, ele também tem suas fraquezas. Para projetos muito pequenos, sua estrutura pode parecer um exagero de complexidade. O maior problema, na minha opinião, é o que o pessoal chama de 'Controller Gordo' (Fat Controller). Isso acontece quando o programa é grande e os desenvolvedores começam a jogar responsabilidade demais no Controller, aí ele vira um monstro de código, super difícil de dar manutenção.
3 Conclusão
No fim das contas, o que a gente pode tirar disso tudo? O maior legado do MVC, talvez, nem seja a estrutura em si, mas o costume que ele criou nos desenvolvedores de pensar em camadas, em responsabilidades. E deu certo, tanto que ele saiu dos laboratórios e hoje é a base de frameworks gigantes que todo mundo usa, tipo Laravel, Django e Spring MVC.
Essa ideia foi tão forte, que depois dele vieram outros padrões, como o MVP e o MVVM, que são basicamente evoluções tentando consertar algumas das suas limitações, principalmente na parte de testes. No final, aprender MVC é menos sobre decorar as regras, e mais sobre pegar essa filosofia de construir as coisas de forma organizada. E isso aí, é um conhecimento que serve pra sempre.
4 Referências Bibliográficas
FOWLER, Martin. GUI Architectures. 2006. Disponível em: https://martinfowler.com/eaaDev/uiArchs.html. Acesso em: 21 set. 2025.
GAMMA, E. et al. Design Patterns: Elements of Reusable Object-Oriented Software. Boston: Addison-Wesley, 1995.
REENSKAUG, Trygve. The Model-View-Controller (MVC) Its Past and Present. 2003. Disponível em: https://folk.universitetetioslo.no/trygver/themes/mvc/mvc-index.html. Acesso em: 23 set. 2025.
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