Introdução
Com o avanço das tecnologias, o desenvolvimento de sistemas vem se tornando cada vez mais acessível e ágil. Ao mesmo tempo, cresceu a complexidade das estruturas necessárias para acompanhar as demandas e expectativas cada vez maiores do mercado. No entanto, surge a reflexão sobre como essa complexidade se comporta em sistemas de menor porte, especialmente no contexto de startups.
Diante disso, surge o questionamento: deve-se adotar uma arquitetura mais sofisticada apenas para acompanhar padrões tecnológicos impostos pela indústria, ou manter uma estrutura monolítica simples pode ser o caminho mais eficiente no estágio inicial de um negócio? Segundo Fowler (2015), a arquitetura monolítica ainda se mostra uma alternativa viável em projetos emergentes, pois oferece simplicidade, rapidez de implementação e menor custo de manutenção inicial.
Arquitetura Monolítica
A palavra monólito tem origem grega, que possui as palavras soltas monos (único) e lithos (pedra), e está associada a algo sólido e concreto, indivisível e formado por um único bloco. Esse significado foi utilizado no campo do desenvolvimento de software para se referir à arquitetura monolítica, um modelo tradicional em que todas as funções do sistema são centralizadas em uma única estrutura (WIKIPÉDIA, 2025a). Na prática, isso quer dizer que os diferentes módulos da aplicação são interligados e compilados em um só executável, funcionando de maneira compartilhada e única.
Esse tipo de arquitetura não foi desenhada e desenvolvida por uma única pessoa, pois surgiu de forma gradual, consolidando-se como o padrão inicial de construção de sistemas. Com isso, por muito tempo, o discurso predominante foi sobre a migração de sistemas monolíticos para microsserviços, ressaltando a implementação de modelos arquiteturais mais atuais e eficientes. Contudo, essa narrativa mudou quando se percebeu que a escolha da arquitetura deve estar alinhada ao modelo de negócio e ao contexto da empresa, e não apenas às "modas" das arquiteturas em alta (WIKIPÉDIA, 2025b).
Vantagens da Arquitetura Monolítica
O desenvolvimento de um sistema com arquitetura monolítica é considerado mais rápido devido à não necessidade de trabalhar em uma comunicação complexa entre os componentes, tendo em vista que todos estão alocados na mesma base. Outra característica marcante é o nível de facilidade de monitoramento e manutenção no que diz respeito à infraestrutura, pois, com apenas uma única aplicação para gerenciar, os times de operação não precisam lidar com a complexidade de múltiplos serviços. De forma geral, também há uma redução de custos com servidores, comunicação entre sistemas e controle de monitoramento.
Considerando as vantagens apresentadas, pode-se concluir que esse modelo de arquitetura é mais indicado para o desenvolvimento de sistemas menores e menos complexos, sendo uma ótima escolha em cenários de empresas em fase inicial, como startups. Nesses casos, a simplicidade do monolítico garante agilidade, reduz custos e permite que o time concentre seus esforços na evolução do produto sem precisar se preocupar, desde o início, com estruturas mais sofisticadas e complexas.
Desafios do Sistema Monolítico
Apesar de sua facilidade de implementação, a longo prazo o modelo monolítico apresenta desvantagens quando comparado a outras arquiteturas de software. Como exemplo, a arquitetura de micro-serviços, de acordo com pesquisa realizada pela Amazon AWS (2025a), “fornece uma base de programação robusta para sua equipe e suporta sua capacidade de adicionar mais recursos de forma flexível”. Isso demonstra que, para startups de rápido crescimento — os chamados “unicórnios” — a segmentação do código torna-se inevitável para que a empresa consiga escalar com eficiência.
Ainda assim, “desmembrar o monolito” não é uma tarefa simples. Estudos de caso, como o da Netflix, evidenciam que a migração para micro serviços exige planejamento estratégico, altos investimentos e mudanças culturais profundas dentro da organização (AMAZON AWS, 2025b). Inicialmente, a empresa enfrentou graves problemas de indisponibilidade e limitações de escalabilidade em sua arquitetura monolítica, o que impulsionou a decisão pela reestruturação. Contudo, a transição não ocorreu de forma imediata: foi um processo gradual, que envolve a decomposição de serviços, reconfiguração de pipelines de entrega contínua e adoção massiva de práticas de automação. Esse movimento, além de resolver gargalos técnicos, permitiu à Netflix atender milhões de usuários simultâneos ao redor do mundo com maior estabilidade e agilidade.
De forma semelhante, outras grandes empresas como** Amazon, Uber e **Spotify também documentaram desafios durante a jornada de modernização de suas arquiteturas, revelando que a adoção de micro serviços não é apenas uma decisão tecnológica, mas também organizacional (LIMMA, 2019; DREAMFACTORY, 2025). Isso reforça a ideia de que, embora complexa, a mudança tende a ser inevitável para negócios que buscam escalabilidade em ambientes digitais altamente competitivos.
Conclusão
A arquitetura monolítica se mostra uma escolha estratégica para startups em fase inicial, pois proporciona simplicidade, rapidez no desenvolvimento e menor custo de manutenção. Essa abordagem permite validar o produto e ajustar-se ao mercado sem a necessidade de estruturas complexas, possibilitando que os recursos da equipe sejam direcionados ao crescimento do negócio.
Entretanto, com a expansão da base de usuários e a diversificação de funcionalidades, o monólito tende a se tornar um entrave à escalabilidade, dificultando a manutenção e a adoção de novas tecnologias. Casos como os da Netflix, Amazon e Uber demonstram que a transição para micro-serviços, embora desafiadora, é frequentemente inevitável em cenários de alto crescimento. Assim, o modelo monolítico deve ser entendido não como ultrapassado, mas como um ponto de partida pragmático, que precisa ser acompanhado de um planejamento para futuras evoluções arquiteturais.
Referências
- AMAZON AWS. The difference between monolithic and microservices architecture. Disponível em: https://aws.amazon.com/pt/compare/the-difference-between-monolithic-and-microservices-architecture. Acesso em: 28 set. 2025a.
- AMAZON AWS. Netflix case study. Disponível em: https://aws.amazon.com/pt/solutions/case-studies/netflix-case-study. Acesso em: 28 set. 2025b.
- DREAMFACTORY. Microservices examples. Disponível em: https://blog.dreamfactory.com/microservices-examples. Acesso em: 28 set. 2025.
- FOWLER, Martin. Patterns of enterprise application architecture. Boston: Addison-Wesley, 2015.
- LIMMA, Math. Microsserviços: um estudo de caso Amazon e Netflix. Medium, 2019. Disponível em: https://mathlimma.medium.com/microsserviços-um-estudo-de-caso-amazon-e-netflix-3582648540a0. Acesso em: 28 set. 2025.
- WIKIPÉDIA. Arquitetura monolítica. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_monol%C3%ADtica. Acesso em: 28 set. 2025a.
- WIKIPÉDIA. Sistema operacional monolítico. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_operacional_monol%C3%ADtico. Acesso em: 28 set. 2025b.
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