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Vitor Braggion
Vitor Braggion

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Liderando e retendo desenvolvedores

É nítido o quanto as empresas se esforçam para reter engenheiros de softwares, desenvolvedores, cientistas de dados e outros profissionais de tecnologia. Tentam deixar o ambiente de trabalho o mais legal possível, colocando, dentro do escritório, máquina de pipoca, vários salgadinhos, frigobar com cerveja e refrigerante, mesa de pingue-pongue, videogame, puffs e ainda oferecem pagar cursos de tecnologia, inglês, acesso à Netflix, Spotify e vários outros benefícios atraentes.

E será que todo esse esforço é recompensado? Conseguem realmente reter seu time de tecnologia? Há dados que comprovam que, apesar desses incríveis benefícios e escritórios que parecem mais playgrounds, as empresas de tecnologia não conseguem reter seus profissionais de tecnologia. Sempre há desenvolveres saindo para começar uma nova jornada em outra empresa e assim entram novas pessoas.

Você pode não esperar, mas as empresas gigantes do setor, como as que figuram na lista Fortune 500 também tendem a sofrer com altas taxas de rotatividade. O Google, por exemplo, possui um tempo médio de permanência de profissional no grupo de 1,1 ano e olha que muitos desenvolvedores sonham em trabalhar no Google. Na Amazon esse “tempo de casa” é de apenas um ano. A Apple tem o melhor indicador de rotatividade entre as empresas de tecnologia, com apenas dois anos de permanência. Podemos ver detalhes dessa informação com o relatório de rotatividade de funcionários da Payscale e o relatório do linkedin que revela que o setor de tecnologia é o que mais possuI rotatividade de profissionais. Mas por que essa alta rotatividade?

Não sei a resposta, mas acredito que fatores como a alta demanda por trabalhos de tecnologia com a oferta de salários altos e o interesse de jovens profissionais por desafios técnicos diferentes e por novos ambientes de trabalho justificam parte desse “trânsito”. A busca por empresas que tenham alinhamento com seus valores pessoais e que gostam de mudanças pode justificar, também, esta movimentação de jovens profissionais no quadro de pessoal das empresas de tecnologia.

Todo empreendedor e gestor sabe como é ruim a alta rotatividade de profissionais para a empresa. Gastam tempo e recursos para encontrar/contratar, depois para treinamentos, além de demorar para que o novo funcionário consiga realmente entregar o valor esperado pela empresa. É difícil controlar essa rotatividade, mas uma boa liderança é crucial para ajudar na retenção de talentos. Seguem algumas dicas que aprendi na prática, trabalhando em vários lugares, construindo a minha própria empresa, lendo muitos livros e aprendendo com grandes líderes:

"Acredito que uma boa liderança pode ajudar pessoas criativas a permanecerem no caminho para a excelência, não importando o negócio em que elas estão." - Ed Catmull, co-founder of Pixar and president of Walt Disney Animation Studios

  1. Deem autonomia para os membros do seu time

Muitos gestores tendem a centralizar tudo neles, quererem que façam do seu jeito. Não cometa esse erro. Acredite no potencial do seu time, dê a eles autonomia para escolher a melhor solução para algo e resolver problemas.

"Acredito que os gerentes devam afrouxar os controles, e não apertá-los. Eles devem aceitar riscos; devem confiar nas pessoas com quem trabalham e lutar para abrir o caminho para elas; e devem sempre prestar atenção e enfrentar qualquer coisa que gere medo. Além disso, os líderes bem-sucedidos aceitam a realidade de que seus modelos podem estar errados ou incompletos. Só quando admitimos não saber algo é que podemos aprender." - Ed Catmull, co-founder of Pixar and president of Walt Disney Animation Studios

  1. Não imponha, faça-os questionar

Quando você dá liberdade para os membros do seu time pensarem na melhor solução para um problema ou dar sugestões sobre algo. Se uma solução ou sugestão não fizer sentido na sua visão e acha melhor não fazer do jeito sugerido, então simplesmente não imponha algo, faça-o refletir sobre a decisão, levante argumentos do motivo pelo qual você acha que não é a melhor escolha e faça-o interagir e pensar sobre essa solução. Se o argumento que você der realmente fizer sentido, é provável que ele comece a concordar com você.

Muitos dizem que Steve Jobs gostava e dava mais ouvido para aqueles que defendiam sua ideia, pois ele acreditava que se alguém defendesse algo com tanta força é porque realmente tinha um embasamento forte sobre isso. Então não ache ruim se alguém defender sua ideia. Ouça e tente entender também, talvez seja uma solução muito melhor.

  1. Líderes criam líderes

Ajude os colaboradores a crescerem profissionalmente e como pessoa. Crie uma cultura em que o objetivo é que todos cresçam e ajudem uns aos outros. Essa atitude formará uma rede de líderes em sua empresa, em que cada um formará novos líderes. Acontecendo isso, com certeza seu ambiente de trabalho irá melhorar.

  1. Crie Squads autogerenciáveis, sem definir um líder

Siga princípios do desenvolvimento ágil. Crie pequenas equipes com perfis complementares (ao invés de definir um líder) e dê metas para esse squad. Com o tempo, esse squad formará um líder de forma orgânica e o mesmo guiará todos em busca do mesmo objetivo. Um líder é criado por exemplos e não por títulos. O que tiver o melhor exemplo e for melhor em servir, a equipe o seguirá. Podemos observar que, quando temos que fazer um trabalho em grupo, sempre surge um líder, mesmo quando se trata de crianças. Em grupo de animais também surgem um líder de forma orgânica. Isso é da natureza.

"É fácil dizer que você quer pessoas talentosas, mas a maneira pela qual elas interagem umas com as outras é o segredo. Até mesmo as pessoas mais inteligentes podem formar uma equipe ineficaz se forem incompatíveis. Isso significa que é melhor se concentrar em como uma equipe está se desempenhando, e não nos talentos dos seus membros. Uma boa equipe é feita de pessoas que se complementam umas às outras." - Ed Catmull, co-founder of Pixar and president of Walt Disney Animation Studios

  1. Pessoas gostam de reconhecimento

Mostre para cada membro do seu time que ele é importante, e que pertence à equipe porque acredita em seu potencial. Ás vezes não há necessidade de falar, apenas, com pequenos gestos, esse pertencimento ficará subentendido. Gestos simples, como ouví-las e incluí-las em decisões importantes ajudam nesse desafio.

Quando você reconhece uma habilidade em uma pessoa, faz com que ela se sinta bem consigo mesma. Em consequência, isso fará com que ela goste de você e irá melhorar o ambiente de trabalho, pois as pessoas irão trabalhar felizes e motivadas, transmitindo esse energia para outros integrantes da empresa.

  1. Desenvolvedores gostam de desafios técnicos

Até hoje não conheci nenhum profissional da área de tecnologia que não goste de desafios técnicos. Se encontrar algum que não goste, provavelmente essa pessoa não gosta da área (risos). Todos gostam de se superar e aprender mais. Gosto de falar que um desafio técnico é como montar um quebra cabeça: se você for montar um quebra cabeça fácil, ficará entediado. Mas se for difícil, em que terá que pensar muito, então, esse desafio te prenderá e, provavelmente, virará noites tentando resolvê-lo ou dormirá pensando nele.

Estar num clima de desafio técnico é muito parecido com o estado de flow, que é aquele estado em que estamos com extremo foco e motivação, passamos horas fazendo algo e não percebemos o tempo passar.

  1. Dê liberdade a sua equipe e lembre-se que cada um tem uma vida pessoal

Dê liberdade para a sua equipe, como:

  • Trabalhar no horário que ela achar melhor, sempre há horários que cada um consegue performar melhor. Obviamente sem desalinhar com o resto da equipe.
  • Trabalhar de onde quiser, onde ela se sinta melhor, seja em algum lugar específico ou com alguém que ela tenha mais afinidade.
  • Liberdade para escolher a data de suas férias. Obviamente, sem atrapalhar o andamento de algum projeto.

Elaborei essas dicas a partir do que li muito e sobre o que vivenciei na prática. Trabalhei em algumas empresas como desenvolvedor, que me deram total liberdade de trabalho, desafios técnicos maiores e reconhecimento. E outras que não deram praticamente nada desses pontos que mencionei. Particularmente, nas que me deram essa liberdade, trabalhei com muito mais prazer, sempre produzindo além do que pediam e me sentia completamente feliz. Essa felicidade era como um combustível para trabalhar mais e com maior eficiência e eficácia. Cheguei até a recusar convites de empresas que me ofereceram um salário muito maior.

Quando montei a minha empresa de tecnologia, mantive na cabeça que iria tentar montar um ambiente agradável. Com isso, à medida em que entravam novos desenvolvedores, apliquei esses aprendizados e, em consequência dessa postura, estava vendo os desenvolvedores parecidos comigo na época e tão motivados quanto eu estava nessa empresa de ambiente agradável. Todos envolvidos por uma causa maior, entregavam sempre a mais do que pedíamos, davam várias sugestões incríveis que passamos a utilizar e acabou criando um ambiente de total compartilhamento de conhecimento, um passando conteúdos para os outros. Foi incrível ver isso acontecendo na prática.

Espero que tenham gostado!

Abraços,
Vitor Braggion

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