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Anderson Contreira
Anderson Contreira

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Trabalhar não é ruim. Ruim é ter que trabalhar — Será mesmo?

Volta e meia vejo profissionais de tecnologia reclamando da rotina, do projeto, da empresa, do gestor ou do “inferno” que é lidar com sistemas legados.

E sim, claro: a área tem seus problemas reais.
Pressão, deadlines, nights-out, bugs na sexta-feira, gente tóxica, processos ruins… isso existe e não deve ser ignorado.

Mas deixa eu fazer uma provocação antes de seguir:

👉 Você está reclamando do quê exatamente?
Do ar-condicionado? Do notebook moderno? Da sprint cansativa?

Enquanto você escreve código sentado numa cadeira confortável, existe um país inteiro trabalhando em condições que não chegam nem perto das nossas.

E entender isso não invalida o que sentimos — apenas coloca tudo em perspectiva.


O que realmente é “ruim” no mercado de trabalho brasileiro

Ruim não é revisar código em uma PR.
Ruim não é ter que ajustar uma pipeline.
Ruim não é lidar com um sistema bugado e mal escrito.

Ruim é:

  • trabalhar em supermercado de domingo a domingo sem reconhecimento
  • carregar caixa de sabão de 20 kg escada acima
  • estar no caixa e não poder ir ao banheiro porque a fila está grande
  • ouvir reclamação de cliente por erro que você não cometeu
  • ter prejuízo descontado do próprio bolso
  • correr risco de levar golpe de cliente safado
  • cavar valeta debaixo de sol de 40 graus
  • depender de metas absurdas para vender e pagar suas contas

Isso é ruim.
Isso é pesado.
Isso é o que a maioria da população enfrenta.

E quando você compara isso com o mundo da TI… bem, é difícil dizer que a nossa área é “ruim”.


A bolha da tecnologia: conforto, oportunidade e mobilidade

Nossa área oferece coisas que poucos setores entregam:

  • ar-condicionado
  • ergonomia
  • home office
  • flexibilidade de horário
  • salários acima da média
  • possibilidade real de trabalhar para fora
  • oportunidade de trocar de empresa com facilidade
  • acesso massivo a conteúdo gratuito
  • crescimento baseado em competência, não em indicação

É um dos poucos setores onde você pode:

  • aumentar salário em poucos meses
  • mudar de stack com estudo consistente
  • trocar de empresa com dois cliques
  • fugir de ambientes tóxicos sem ficar preso
  • construir carreira global sem sair do país
  • imigração facilitada para países de primeiro mundo

Isso é privilégio profissional — mesmo que muita gente não reconheça.


Mas aqui entra a parte séria: TI também tem seu próprio “nível de dificuldade”

E essa parte precisa ser dita com maturidade.

Hoje, entrar na área não é fácil como muita gente vende:

  • excesso de conteúdo
  • falta de direção
  • pressão por especialização
  • dezenas de tecnologias para aprender
  • mercado exigente até para júnior
  • competitividade alta
  • curva de aprendizado íngreme
  • padronização de boas práticas cada vez mais complexa

Antes, bastava saber:

  • HTML
  • CSS
  • JavaScript
  • e uma linguagem como PHP

Hoje, o iniciante se torna refém de uma sopa de letrinhas que se renova todo ano.

Ou seja:

Entrar ficou mais acessível.
Mas aprender ficou mais difícil e complicado.

Aqui mora a diferença.


E ainda assim… TI continua sendo uma das áreas mais transformadoras do país

Porque apesar de tudo:

  • oferece salários que mudam vidas
  • abre portas internacionais
  • permite ascensão social em poucos anos
  • recompensa quem estuda
  • valoriza quem se posiciona
  • e, diferente da maioria das profissões, dá alternativas

Não é perfeito.
Mas é, sem dúvida, uma das áreas menos cruéis do mercado de trabalho.


Provocação final — e convite à reflexão

Da próxima vez que você pensar em “como a área de TI é ruim”, tente imaginar isso:

Enquanto você reclama do Jira lento, alguém está:

  • tomando bronca por erro que não cometeu
  • carregando caixa pesada
  • cavando buraco no sol
  • perdendo salário por causa de prejuízo
  • trabalhando sem ar-condicionado, sem ergonomia e sem mobilidade

Reclamar faz parte.
Ignorar a realidade, não.

A tecnologia tem seus desafios — mas tem também oportunidades que poucas áreas oferecem.
E ter consciência disso não é arrogância.
É maturidade profissional.

Top comments (1)

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canro91 profile image
Cesar Aguirre

Obrigado pela reflexao. It's easy to lose track of how privileged we are of working in the tech sector. It comes with its own challenges, but I wouldn't like to change it for any other job anytime soon.