Volta e meia vejo profissionais de tecnologia reclamando da rotina, do projeto, da empresa, do gestor ou do “inferno” que é lidar com sistemas legados.
E sim, claro: a área tem seus problemas reais.
Pressão, deadlines, nights-out, bugs na sexta-feira, gente tóxica, processos ruins… isso existe e não deve ser ignorado.
Mas deixa eu fazer uma provocação antes de seguir:
👉 Você está reclamando do quê exatamente?
Do ar-condicionado? Do notebook moderno? Da sprint cansativa?
Enquanto você escreve código sentado numa cadeira confortável, existe um país inteiro trabalhando em condições que não chegam nem perto das nossas.
E entender isso não invalida o que sentimos — apenas coloca tudo em perspectiva.
O que realmente é “ruim” no mercado de trabalho brasileiro
Ruim não é revisar código em uma PR.
Ruim não é ter que ajustar uma pipeline.
Ruim não é lidar com um sistema bugado e mal escrito.
Ruim é:
- trabalhar em supermercado de domingo a domingo sem reconhecimento
- carregar caixa de sabão de 20 kg escada acima
- estar no caixa e não poder ir ao banheiro porque a fila está grande
- ouvir reclamação de cliente por erro que você não cometeu
- ter prejuízo descontado do próprio bolso
- correr risco de levar golpe de cliente safado
- cavar valeta debaixo de sol de 40 graus
- depender de metas absurdas para vender e pagar suas contas
Isso é ruim.
Isso é pesado.
Isso é o que a maioria da população enfrenta.
E quando você compara isso com o mundo da TI… bem, é difícil dizer que a nossa área é “ruim”.
A bolha da tecnologia: conforto, oportunidade e mobilidade
Nossa área oferece coisas que poucos setores entregam:
- ar-condicionado
- ergonomia
- home office
- flexibilidade de horário
- salários acima da média
- possibilidade real de trabalhar para fora
- oportunidade de trocar de empresa com facilidade
- acesso massivo a conteúdo gratuito
- crescimento baseado em competência, não em indicação
É um dos poucos setores onde você pode:
- aumentar salário em poucos meses
- mudar de stack com estudo consistente
- trocar de empresa com dois cliques
- fugir de ambientes tóxicos sem ficar preso
- construir carreira global sem sair do país
- imigração facilitada para países de primeiro mundo
Isso é privilégio profissional — mesmo que muita gente não reconheça.
Mas aqui entra a parte séria: TI também tem seu próprio “nível de dificuldade”
E essa parte precisa ser dita com maturidade.
Hoje, entrar na área não é fácil como muita gente vende:
- excesso de conteúdo
- falta de direção
- pressão por especialização
- dezenas de tecnologias para aprender
- mercado exigente até para júnior
- competitividade alta
- curva de aprendizado íngreme
- padronização de boas práticas cada vez mais complexa
Antes, bastava saber:
- HTML
- CSS
- JavaScript
- e uma linguagem como PHP
Hoje, o iniciante se torna refém de uma sopa de letrinhas que se renova todo ano.
Ou seja:
✔ Entrar ficou mais acessível.
✘ Mas aprender ficou mais difícil e complicado.
Aqui mora a diferença.
E ainda assim… TI continua sendo uma das áreas mais transformadoras do país
Porque apesar de tudo:
- oferece salários que mudam vidas
- abre portas internacionais
- permite ascensão social em poucos anos
- recompensa quem estuda
- valoriza quem se posiciona
- e, diferente da maioria das profissões, dá alternativas
Não é perfeito.
Mas é, sem dúvida, uma das áreas menos cruéis do mercado de trabalho.
Provocação final — e convite à reflexão
Da próxima vez que você pensar em “como a área de TI é ruim”, tente imaginar isso:
Enquanto você reclama do Jira lento, alguém está:
- tomando bronca por erro que não cometeu
- carregando caixa pesada
- cavando buraco no sol
- perdendo salário por causa de prejuízo
- trabalhando sem ar-condicionado, sem ergonomia e sem mobilidade
Reclamar faz parte.
Ignorar a realidade, não.
A tecnologia tem seus desafios — mas tem também oportunidades que poucas áreas oferecem.
E ter consciência disso não é arrogância.
É maturidade profissional.
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