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Angela Caldas
Angela Caldas

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Redefinindo horizontes: Minha transição para a tecnologia e dicas para novos navegantes

Em 2017, por motivos pessoais e profissionais, percebi que precisava ter um plano B de carreira. Sou formada em Arquitetura e Urbanismo com pós-graduação em Projetos Luminotécnicos e percebi que, por mais que eu focasse em me aperfeiçoar na minha área de formação, algo não me fazia feliz.

Resolvi então, relembrar caminhos outrora cogitados, mas não seguidos. Decidi que meu plano B de carreira seria a área de tecnologia, pois meu primeiro vestibular havia sido feito para o curso de Ciências da Computação (na época o único na Federal relacionado à área), mas acabei não levando adiante.

Com a chegada da pandemia de Covid-19 em 2020 e as oportunidades de estudo remoto e gratuito proporcionadas por várias empresas e instituições, foquei em dedicar todos os meus esforços para a transição de carreira para Tecnologia, que acabou se tornando meu Plano A. E hoje, quase um ano depois de conseguir minha primeira oportunidade oficial como desenvolvedora front-end, resolvi compartilhar um pouco das dificuldades e soluções que encontrei para ter sucesso na transição.

Sumário
Você não está começando do zero
Tecnologia é um universo inteiro
Como sabe que não gosta se nunca experimentou?
Aprenda bem a base, evolua naturalmente
Você precisa dar alguns passos para trás para pegar o impulso necessário para seguir em frente
Quem não é visto, não é lembrado
Pratique, crie, divulgue

Sailor Moon transformation


Você não está começando do zero

Apesar de parecer um pouco assustador se deparar com tantas áreas diferentes de atuação e tantas terminologias, siglas, além do código em si, saiba que muito desses detalhes você acaba aprendendo naturalmente ao longo dos seus estudos.

Costumamos separar o contexto do conhecimento de tecnologia em hard skills e soft skills, ou conhecimento técnico e capacidades sociais e comportamentais, respectivamente — e é nessa última que a sua carreira anterior pode fazer toda a diferença!

Por mais que você ache que sua carreira anterior não tenha nada a ver com a área de tecnologia, é importante ressaltar que as suas habilidades interpessoais pesam bastante nas avaliações de tech recruiters.

Por exemplo, se você trabalhava na área do comércio ou vendas, isso pode significar que você tem bastante experiência ao lidar com clientes e sabe detalhar bem o produto no qual está trabalhando. Trabalhar na área bancária pode te dar a munição necessária para entender a regra de negócio de bancos e instituições financeiras e ajudar na criação de novos produtos digitais para o setor. O importante é perceber que você não está saindo do completo zero: você tem uma bagagem de conhecimento, experiência prévia e maturidade profissional que podem ter grande destaque pra sua decolagem!

Como disse lá em cima, atuei como Arquiteta e Urbanista e escrevi um artigo sobre as similaridades que eu notei de imediato entre essa área e o Desenvolvimento Front-End. Te convido a tentar colocar no papel o que você teve de aprendizado na sua carreira atual que podem ser pontos fortes em sua carreira na área tech.


Tecnologia é um universo inteiro

Algo muito interessante para quem deseja ir para a área da tecnologia é buscar mentorias de carreira, algo que me ajudou bastante no meu primeiro momento da transição. Depois de trabalhar quinze anos em uma área diferente (sendo mais de dez anos numa mesma empresa), acabei me sentindo completamente desinformada sobre a área tech e "enferrujada" em certas habilidades pessoais, especificamente em como fazer meu marketing pessoal, seja nas redes sociais, seja em entrevistas de emprego para a área.

Quando você vem de uma carreira diferente, você se assusta um pouco com as várias subáreas da tecnologia nas quais você pode atuar: Front-End, Back-End, Ciência de Dados, DevOps... A mentoria de carreira pode (e deve) ajudar em todos esses pormenores, te orientando para algo que possa encaixar melhor com o seu perfil, além de te trazer um pouco mais de familiaridade e conforto ao conversar com outras pessoas sobre essas áreas e suas nuances.

Existem plataformas online onde você pode agendar mentorias de diferentes aspectos, como a Mentora, que oferece mentorias gratuitas. Além disso, você sempre pode praticar o seu networking com pessoas da área através do LinkedIn, ou de comunidades de tecnologia, além de ler artigos ou livros sobre o assunto em questão.

Nesse âmbito, uma leitura que também me ajudou bastante a compreender um pouco melhor sobre Tecnologia em geral foi o livro O Universo da programação: Um guia de carreira em desenvolvimento de software, que tem uma linguagem amigável pra quem é de fora da área e dá um ótimo embasamento pra você dar o pontapé inicial nos seus estudos.


Como sabe que não gosta se nunca experimentou?

É comum a gente já entrar com o pé na área da tecnologia querendo estudar algo que um amigo ou alguém da área recomendou. Quando pensei em iniciar os estudos para a transição de carreira, foram inúmeras as pessoas que me recomendaram focar na área de Back-End com Java, por exemplo.

Porém, talvez essa não seja a sua praia. Talvez você goste de algo mais visual, como Front-End ou UX/UI Design... ou talvez você goste mais de analisar dados e tecer métricas. Focar no que você realmente gosta de fazer pode ser crucial para que você determine a área mais afim com sua personalidade, o que vai te garantir mais prazer no aprendizado, mais sede de conhecimento e, logicamente, aumentar suas chances de sucesso.

Avalie com carinho as diferentes áreas de atuação que a Tecnologia pode oferecer e veja o que mais te agrada. E se você já começou a estudar algo e depois percebeu que gostaria de estudar outra coisa, não tenha medo de experimentar. Em Tecnologia, nenhum conhecimento se perde. Já ouviu falar do Profissional em T?

“Escolha um trabalho que você ama e você nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida.” — Confúcio, filósofo.


Aprenda bem a base, evolua naturalmente

Esse prazer no aprendizado é algo que vai te ajudar muito na fase inicial dos seus estudos, onde você vai precisar focar em aprender e praticar bem o conhecimento básico necessário, como Lógica de Programação, Algoritmos, Versionamento de Código, entre outros.

Em qualquer profissão é importante que estejamos sempre atualizados, e no mundo da tecnologia não é diferente: tudo acontece muito rápido em comparação com outras carreiras (e a necessidade de se manter atualizado é até mais intensa). Então, saiba que você vai estar num ritmo constante de aprendizado e atualização, onde o prazer em estudar vai ser peça fundamental para que esse ritmo não seja afetado.

Como diria minha mãe: "não coloque a carroça na frente dos bois". Ao nos depararmos com os requisitos das vagas que vemos por aí, é bem tentador querer partir para estudos mais avançados dentro da área que desejamos seguir, mas de nada adianta você estudar um framework Front-End como Angular, por exemplo, sem ter uma boa base em desenvolvimento com JavaScript puro e algum conhecimento em TypeScript, linguagens que são o núcleo de desenvolvimento com esse framework.

Evoluir meu conhecimento em Front End partindo dos conceitos básicos foi primordial para que meu aprendizado de frameworks e bibliotecas fosse mais natural e mais fácil ao longo do tempo. Por exemplo: foquei meu avanço no aprendizado de React, porém toda a base de conhecimento de Single Page Applications (SPA) que adquiri nesse processo foi determinante para que eu conseguisse meu primeiro emprego atuando com outro framework (Vue), com o qual eu tinha pouca experiência, mas cujo aprendizado foi acelerado por toda a bagagem técnica que eu já havia conseguido.

Tire proveito de conteúdos gratuitos que existem aos montes pela internet! É possível aprender bastante vendo vídeos e tutoriais no YouTube ou estudando trilhas gratuitas, como os oferecidos por empresas e comunidades da área, como:

Conhecer bem a base vai fazer com que qualquer aprendizado futuro dentro da área que você escolheu se torne ainda mais rápido e fácil.


Você precisa dar alguns passos para trás para pegar o impulso necessário para seguir em frente

Um dos maiores desafios que eu tive, deixando de lado todo o conteúdo técnico que precisei enfrentar, foi a questão financeira. É imprescindível que você compreenda que, caso você esteja empregado, muito provavelmente não vai entrar na área da programação ganhando o mesmo que você ganha no seu emprego atual.

O fato é que, seja você autodidata ou não, você muito provavelmente vai iniciar sua carreira em tecnologia com nível Estagiário (se estiver cursando graduação), Trainee ou, se tiver um bom portfólio e um pouco mais de conhecimento, nível Junior. Esses níveis são considerados iniciais, então não espere salários excepcionais, você vai precisar descer alguns degraus nesse quesito.

Organize bem suas finanças, faça um bom planejamento e determine o valor mínimo viável que você precisa receber para efetivar sua transição.


Quem não é visto, não é lembrado

E precisamos ser francos: conseguir sua primeira oportunidade em tecnologia não vai ser fácil como muitos acreditam ser. O alto índice de contratações que tivemos na era da pandemia do Covid-19 criou um cenário um tanto quanto irreal de fácil empregabilidade que não retrata a realidade: houve uma alta demanda de profissionais, mas os contratados eram pessoas que já estavam aptas para tal, mesmo que em níveis iniciantes.

Atualmente, o cenário de contratações para a área da tecnologia continua com grandes demandas de profissionais, mas não tanto quanto em 2020 e há muito menos oportunidades para desenvolvedores em nível Junior. Não se engane, você vai receber muitos Não's até receber o seu tão esperado Sim e, uma forma de diminuir esse tempo de espera é investir em ser visto e ser lembrado.

Mantenha seu perfil no LinkedIn sempre atualizado e com o máximo de informações possíveis. Você pode ter dúvidas, mas posso garantir que o LinkedIn traz bastante resultados quando você o mantém sempre atualizado e quando você mantém uma boa rede de networking por lá. Fortalecer a sua rede de contatos pode trazer indicações preciosas para sua primeira oportunidade.


Pratique, crie, divulgue

Pratique sempre! Independente da área tech que você esteja almejando, aproveite os seus estudos e mantenha a prática constante: por experiência própria, estudar um pouco todos os dias é absurdamente mais efetivo do que estudar muito conteúdo apenas nos fim de semana. Manter constância na sua prática é o que vai te dar o know-how necessário pra se destacar dos demais.

Enquanto não consegue a tão sonhada vaga, participe de projetos de forma voluntária. Em minhas entrevistas, meu voluntariado sempre foi visto com bons olhos, além de caracterizar experiência profissional em seu currículo. Um outra boa opção é contribuir em projetos opensource, que também é um ótimo diferencial!

Crie projetos autorais e construa um portfólio com os seus projetos para que tech recruiters e avaliadores técnicos possam ver, de fato, como você organiza seu código, que boas práticas você aplica, como resolve problemas e afins. Se você estiver evoluindo na área de UX/UI Design, crie protótipos, artigos e documentações mostrando como você aplica seus conhecimentos de User Experience pra criar interfaces mais intuitivas e user-friendly, além de bonitas, claro!

Crie conteúdos sobre sua área de atuação. Ao escrever ou gravar conteúdos técnicos sobre o que você estuda ou usa para trabalhar, você consegue fixar melhor seu conhecimento, além de ter sempre material para ajudar outras pessoas que podem estar na mesma situação que a sua. Lógico que você não precisa se tornar um influencer na área, mas até postagens bem elaboradas nas redes sociais, publicadas com certa frequência, podem te fazer ser notado por alguém importante.

Participe de comunidades de tecnologia que, além de constituírem um ambiente de troca de experiências e networking, também podem te dar oportunidades de compartilhar conhecimento, ajudando pessoas com menos experiências que você e também observando outras pessoas agindo da mesma forma.

“Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender.” — Paulo Freire, Pedagogo.


Em minha própria jornada de transição para a área da tecnologia, percebi que as dicas compartilhadas neste artigo foram verdadeiros catalisadores de sucesso. Ao incorporar esses conselhos na prática, pude não apenas superar desafios, mas também colher frutos significativos em minha nova carreira. Portanto, encorajo a todos que estão trilhando esse caminho a adotarem essas estratégias com confiança. Lembre-se, a transição pode ser desafiadora, mas com determinação e a aplicação consistente desses insights, você está construindo as bases sólidas para um futuro promissor na tecnologia.

Siga em frente, ouse, e permita que sua jornada na tecnologia seja não apenas uma mudança de carreira, mas uma transformação positiva em sua vida profissional.

Top comments (4)

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morgannadev profile image
Morganna

Não é fácil, né? Mas eu adorei que você trouxe logo de primeira que quando alguém faz transição de carreira, ela não está começando do zero. É um sentimento bem comum entre muitas das mulheres que estão nesse caminho, elas acham que estão começando do zero e, na verdade, não estão. Obrigada por compartilhar sua experiência para nos inspirar!

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sucodelarangela profile image
Angela Caldas

Nossa, nem fala, é uma jornada árdua. Eu acredito piamente que toda e qualquer experiência prévia é válida, escrevi isso por aqui na esperança de que, pelo menos em meu círculo, essa mensagem chegue na maioria.
Obrigada pela visita, Morgs! <3

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priscillatrevizan profile image
PriscillaTrevizan

Me identifiquei, me inspirei e sai com uma pontinha a mais de esperança!
Obrigada por compartilhar tanto! :)

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sucodelarangela profile image
Angela Caldas

Xuxu Pri, obrigada pelo comentário. Fico muito feliz em contribuir pra que tuas esperanças sejam mantidas! Trabalhar na área dev é muito bacana e espero, de verdade, que você mergulhe em breve nessa experiência! <3