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Thiago Marques
Thiago Marques

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Blockchain e o Futuro do Sistema Financeiro Brasileiro: entre o Drex, Smart Contracts e a Nuvem da AWS

Imaginou poder ter a mesma liquidez da poupança em um imóvel, transferindo cotas digitais desse ativo com a mesma facilidade de enviar um pix?
Esse é o tipo de transformação de o blockchain promete trazer ao mercado financeiro - e que o Bacen ja esta pavimentando com iniciativas como o Pix, o Open Finance e o DREX.

Não se trata apenas de inovação tecnológica, mas de uma mudança de paradigma: ativos, transações e contratos deixam de depender de sistemas centralizados para serem garantidos por uma rede distribuída, auditável e resistente a fraudes.

Ai tu pode me perguntar: Mas o que é esse tal de BlockChain? O que isso muda na minha vida? E qual o papel ou como a AWS pode ajudar, seja com Amazon Managed Blockchain (AMB) ou via nodes no EC2 ou EKS?

O que é Blockchain? é de comer ou é de beber?

O famoso e invisível Nakamoto descreveu o blockchain como um sistema e registro baseado em consenso distribuído, eliminando a necessidae de uma "entidade de confiança" unica [Nakamoto, S. (2008). bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system

Na pratica, Blockchain é um nome bem bonitinho para um livro-caixa público e distribuído, em que cada página representa um bloco de transações (Block), e cada nova página só pode ser escrita se estiver matematicamente ligada a anterior (chain) e for aprovada por um consenso.
Essa estrutura torna as informações imutáveis e transparentes, ou seja, uma vez registrada, a transação não pode ser alterada sem invalidar toda a sequência.

Beleza, falei um monte de coisas 'técnicas', e talvez você não tenha entendido absolutamente nada. Então imagine o blockchain como um livro de atas de uma assembleia de condomínio.

  • Cada reunião é registrada na ordedm em que aconteceu (bloco).
  • Todos os condôminos recebem uma cópia idêntica da ata (nós da rede).
  • Para aprovar uma nova página, todos precisam concordar com o que esta escrito (consenso).
  • Se alguém tentar alterar uma página antiga, todos os outros percebem imediatamente, pois suas cópias não batem.

A diferença é que, no blockchain, esse livro de atas não é guardado em um arquivo ou gaveta, ele é distribuído digitalmente, protegido por criptografia e com assinaturas que garantem a autenticidaded de cada decisão.

O detalhe técnico por trás da analogia é:

  • A 'página' é o bloco;
  • O 'encadeamento' entre as páginas é feito por funções hash criptográficas.
  • A 'assinatura de todos os condôminos' é o processo de consenso (Proof of Work, Proof of Stake, Proof of Authority e etc);
  • O 'livro inquebrável' é a garantia de imutabilidade do ledger.

Perceba que na prática o processo de consenso é a alma do blockchain.

E o que eu tenho a ver com isso?

Despejei uma série de informações aqui, e talvez nesse momento você deve estar se perguntando: e o quiko?

Se notar as possibilidades de resoluções da tecnologia blockchain são bem interessantes, pois ela pode remodelar a forma como você interage com dinheiro, dados e até com o Estado. Seus efeitos podem ser vistos tanto em facilidades quando em novos desafios. Por exemplo:

  • Inclusão financeira: Em paises em desenvolvimento, ou em guerra, onde milhões de pessoas não possuem conta bancária. O Blockchain permite criar carteiras digitais acessíveis apenas com um celular, ou mesmo 'decorando' uma sequencia de 24 palavras. Reduzinhdo barreiras e entrada no sistema financeiro.
  • Rastreamento em cadeias de suplementos: Uma empresa conseguiria ter dados de uma matéria-prima desde os pequenos produtores até chegar a sua fabrica. De fato a Nestle fez isso em 2020: Case Nestle BlockChain

  • Tokenização de bens: Imóvis, veículos e até obras de arte podem ser fracionadas digitalmente, permitindo que pessoas invistam em ativos a nivel de frações, permitino que qualquer pessoa invista em ativos antes restritos a grandes investidores.
  • Maior confiança em serviços públicos: Subsídios como auxílio gás ou o bolsa família poderiam ser vinculados a smart contracts, e pagos em redes blockchain, onde todos sabem exatamente para onde o dinheiro foi - e sem espaço para desvios no meio do caminho.

Isso tudo ainda gera economia para o Mercado Financeiro. De acoro com Dan Tapscott, aproximadamente 30% o custo de back-office bancário é gasto apenas conciliano informações entre instituições. [Tapscott, D., & Tapscott, A. (2016). Blockchain Revolution]

Mas e o BACEN, onde entra nisso?

O Bacen não enxerga blockchain apenas como inovação experimental, mas como infraestrutura nacional estratégica, e isso pode ser visto em dois produtos:

  • Pix (2020): Que apesar de não utilizar blockchain, prova a capaciade e criar sistemas em escala nacional com liquiação instantânea.
  • Drex: Que mesmo não sendo a nossa CBDC, ou seja, é o projeto para criação da moeda digital indógina brasileira, que servirá:
    • Controle mais eficiente das reservas bancárias;
    • Compra/venda de frações de títulos públicos de forma atómica;

Recentemente no evento Blockchain.Rio, o atual presidente do Bacen (Galipolo) confirmou que o DREX não é uma CDBC ("como a literatura clássica define") nem uma stablecoin, e sim uma ferramenta para tokenização de ativos (confirmando também que atualmente o Bacen não vai utilizar blockchain nessa fase).

Beleza. Mas o que a AWS tem a ver com isso?

Quando pensamos então em como o Bacen ou mesmo um banco regional poderia operar o DREX para tokenizar ativos em escala nacional, a pergunta não é apenas qual blockchain usar, mas como sustentar essa infraestrutura sem se perder em custo e complexidade?

É aqui que entra o *Amazon Managed Blockchain (AMB), um serviço da AWS que reduz o operacional de colocar blockchains em produção, ou o poder do EKS com KMS para servir como nós de rede em outras blockchains, uma vez que o AMB suporta Hyperledger Fabric, e o Bacen estuda implementar a Hyperledger Besu.

Até aqui tentei ser menos técnico, contudo agora vou ligar o modo 'escovador de bit'.

Solução para o Bacen

Falando primeiro o AMB, ele não é simplesmente o blockchain da AWS, e sim um conjunto de serviços que permitem consumir ou criar redes permissionadas (hyperledger fabric), redes publicas (ethereum/polygon) e utilizar o AMB Query como a camada de analytics pronta para consultar de transações, saldos e histórico.

A vantagem em utilizar o AMB para o DREX, seria a governança distribuía, canais privados e uma ótima integração corporativa (dica para o Bacen). De fato Hyperledger Fabric é a blockchain utilizada por alguns projetos de CBDCs como o DCash no Caribe, o Aber na Arábia Saudita, o Agila nas Filipinas e até o Venus (projeto de títulos) na França.

Amazon Managed Blockchain

No AMB além de criar as redes permissionadas, cada participante (membro) dela tem seu papel definico e controlado.

Elementos principais:

  • Network: é a rede Fabric, criada no AMB, onde ficam os membros;
  • Members: é a representação de uma organização participante (por exemplo Banco A, Banco B, Bacen). É nele que rodam os Peers e a CA, além da governança ser baseada nele.
  • Peer Nodes: Executam smart contracts (chaincode), validam transações e mantêm o ledger.
  • Certificate Authority(CA): emite credednciais digitais que identificam cada participante/nó.
  • Channels: Subredes privadas onded apenas membros autorizados trocam transações.

Além disso a integração com serviços como IAM (para definir quem pode fazer o que), KMS (que armazena as chaves criptograficas) e Cloudtrail (logs de auditoria) são simples de serem integradas.

Um possivel fluxo seria:

  1. O Bacen criaria a Network Fabric no AMB e define o primeiro Member;
    • Esse membro é o responsável por definir políticas de governança (quem pode ser convidado, como aprovar chaincoeds, etc).
  2. Bancos e fintechs entrariam como convidadas para ingressar na rede como novos membros (isso via AMB);
    • Cada instituição ingressa como um Membro, com autonomia sobre seus nós e identidades.
  3. Cada membro cria Peers para validar transações e hospedar chaincode;
  4. Um CA do AMB gera certificados para admins, peers e clientes;
    • Cada membro tem seu próprio CA, emitindo certificados para:
    • Admins: que vão gerir a rede;
    • Peer: que são os nós validadores;
    • Clientes/aplicações: App que compra titulos do Tesouro, ou consultar o saldo da reserva bancária;
  5. São criados Channels, onde subsetores podem trocar informações privadas (ex.: liquidação de ativos tokenizados).
    • Aqui o Bacen poderia criar channels privados para liquidação interbancária;
    • Outra possibilidade, seria a criação de tokenização de ativos em um canal apenas com fintechs;
  6. O chaincode (smart contract) é implantado nos peers e passa a reger a lógica de negócios;
    • A cereja no bolo, onde seria feito a criação (mint) e a destruição/liquidação (burn) de tokens;
    • Aqui o céu é o limite, podendo programar liquidações, transferencias interbancárias e etc;
  7. Toda transação é assinada, validade pelos peers do canal e registrada no ledger imutável;

Resumindo, se o Bacen quisesse rodar um piloto de Drex com governança distribuída entre bancos, poderia montar a rede no Hyperleger Fabric via AMB, enquanto um banco privado poderia, ao mesmo tempo, usar o AMB Query para auditar movimentações tokenizadas sem manter servidores extras.

Mas porque fazer com AMB

A grande vantagem é ser um serviço gerenciado, contudo para Bacen, grandes bancos e consórcios, o AMB tende a equilibrar governança + segurança + operação. Para fintechs e PoC, rodar em EKS/EC2 (ou usar provedores publicos) da uma agilidade e controle, mas é claro com um custo operacional.
Abaixo comparo de uma forma melhor:

Critério AMB Nó próprio Rede pública (Gnosis)
Operação Totalmente gerenciado (patching, HA) Você opera tudo (alto controle) 100% terceirizado
Segurança IAM/KMS/VPC integrados Você define hardening/chaves Depende do provedor
Governança Forte (ideal p/ consórcios/BCB) Forte (se bem implementado) Variável
Desempenho/Latência Boa, mas dentro do modelo do serviço Máximo controle (afinamento p2p, disco, rede) Boa, mas sem garantias finas
Custo Por nó/armazenamento/requests EC2/EBS/EKS/operacional Assinatura/uso (egress/limites)
Interoperabilidade Fabric + públicos suportados (Eth/Polygon) Total (você escolhe stack) Boa em públicos; lock-in do provedor
Dados on-chain (analytics) AMB Query (serverless multi-cadeia) Você indexa (TheGraph/ETL) Alguns provedores oferecem APIs

Conclusão

No contexto atual, o Amazon Managed Blockchain (AMB) aparece como uma opção estratégica para bancos e fintechs que precisam integrar-se rapiamente ao ecossitema, sem carregar o peso e manter toda a pilha de infra (considerando é claro o exemplo hipotético utilizando).
O AMB entrega:

  • Governança e compliance prontos para uso;
  • Escalabilidae sob demanda, sem a complexidade de clusters Kubernetes;
  • Integração direta com serviços AWS;

Contudo há limitações: adotar o AMB significa abrir mão de parte da flexibilidaded e a independência que redes públicas ou nós próprios em EKS permitem. É um trade-off inevitável entre o controle total ou velocidade com governaça pronta.

Por fim, a crítica é clara: o futuro o Drex, do mercado financeiro e da tokenização não será definido pela tecnologia, mas pela forma com que o Bacen, bancos e fintechs vão equilibrar centralização e abertura.
Talvez o verdadeiro desafio não seja escolher entre Fabric, Besu, AMB ou EKS, mas sim entender quando usar cada abordagem.

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