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Tiago Fernandes de Campos
Tiago Fernandes de Campos

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IA, fundamentos e o futuro da engenharia de software: reflexões de um engenheiro

Sou engenheiro de software há quase duas décadas e, nos últimos anos, tenho visto a inteligência artificial não apenas mudar a forma como programamos, mas também como pensamos sobre o próprio ato de construir software.

Na minha experiência, o impacto da IA tem sido profundo, não só no que entrego, mas em como eu penso e estruturo o trabalho.

Ela expandiu meu raciocínio, minha forma de analisar problemas e até minha abordagem de liderança técnica.

Percebo que, quanto mais aprendo a usá-la com propósito e método, mais avanço como engenheiro e líder.

E, toda vez que ouço alguém criticar a IA, penso: talvez o problema não esteja na ferramenta, mas em como estamos fazendo as perguntas.

Aprendi, dentro e fora do trabalho, que metade da resposta está na pergunta certa.

E para fazer boas perguntas, é preciso clareza sobre o que se quer alcançar.

Essa é uma lição que vale tanto para engenharia quanto para gestão.

Quando usar bem é pensar melhor

Tenho observado um padrão interessante: quem usa a IA de forma consciente, entendendo o problema, levantando requisitos, formalizando o escopo e estruturando o pedido com contexto, evolui num ritmo visivelmente maior.

Não é apenas uma questão de produtividade. É maturidade técnica e clareza de pensamento.

A IA não substitui o raciocínio humano; ela expande nossa capacidade de raciocinar.

Quando usada com sabedoria, provoca perguntas melhores, revela lacunas nos requisitos e amplia nossa visão sobre o código, o design e o negócio.

Quando cultivamos um ambiente que valoriza estrutura, documentação viva, experimentação responsável e aprendizado contínuo, a IA deixa de ser modismo e se torna um multiplicador de inteligência coletiva.

Da revolução dos GPTs ao surgimento do Vibe Coding

Desde que os modelos GPTs se popularizaram, o desenvolvimento de software passou por uma transformação profunda, não apenas nas ferramentas, mas na mentalidade.

De repente, a IA deixou de ser um distante tema acadêmico e passou a fazer parte da rotina do desenvolvedor, influenciando a forma como pensamos, codamos e entregamos.

Foi nesse cenário que, em fevereiro de 2025, Andrej Karpathy apresentou o termo “Vibe Coding”, descrevendo uma nova forma de criar software por meio do diálogo com modelos de linguagem: o desenvolvedor expressa a intenção e a IA traduz essa intenção em código.

A ideia é poderosa, e quando bem aplicada, acelera processos, desbloqueia criatividade e aumenta a clareza de propósito.

Mas como toda boa ideia, vem acompanhada de desinformação, muita gente passou a confundir "Vibe Coding" com “não precisar mais saber programar”.

O que nasceu como uma abordagem experimental e criativa virou marketing barato: gurus sem lastro técnico e vendedores de curso começaram a anunciar o “fim dos desenvolvedores”, prometendo “código sem código” e “projetos complexos feitos com um prompt”.

O problema não está no conceito. Está no uso superficial e sem fundamento que dele se fez.

Isso não é engenharia. É desinformação com design moderno.

Esses discursos ignoram o básico: IA não substitui conhecimento técnico, ela o potencializa.

Quando usada sem fundamentos, a IA apenas amplia o ruído.

Gera código rápido, mas inconsistente; entrega resultados, mas sem rastreabilidade; acelera o início, mas multiplica os problemas depois.

É como construir um prédio em terreno instável, pode até parecer eficiente, mas não há estrutura para sustentar o que vem depois.

Na prática, o que vejo é justamente o oposto do que esses gurus pregam.

Quem usa IA com discernimento, entendendo o problema, contextualizando inputs, validando resultados, evolui exponencialmente.

São profissionais que unem curiosidade a método, criatividade à engenharia.

Eles não são substituídos pela IA. São potencializados por ela.

O Vibe Coding, nesse sentido, não é um erro.

É o sintoma de um tempo em que a tecnologia vem evoluindo mais rápido do que a maturidade técnica média.

E cabe a nós, engenheiros, recolocar as coisas no lugar: mostrar que a IA é uma ferramenta poderosa, desde que usada com fundamento, contexto e ética técnica.

Da crítica à busca por fundamento

Depois de observar tanto o uso raso quanto o potencial real da IA no desenvolvimento, percebi que precisava compreender quais são os referenciais que transformam esse poder em método.

Não basta mais usar a IA como apoio pontual, eu quero entender como ela pode se tornar parte estruturante do ciclo de engenharia, sem abrir mão da qualidade, da rastreabilidade e dos princípios que sustentam um bom processo de software.

Nessa busca, comecei a me aprofundar em conceitos mais sólidos e estruturantes da engenharia de software moderna, abordagens que unem fundamentos clássicos e práticas emergentes em torno da IA.

Entre elas, duas têm se mostrado especialmente relevantes e que pretendo explorar nos próximos artigos para aprofundar o assunto:

  • Spec-Driven Development
  • AI-Driven Development Lifecycle (AI-DLC)

Esses pilares ajudam a traduzir o uso da IA de algo empírico e experimental para algo realmente sistêmico, previsível e sustentável — o tipo de engenharia que constrói não apenas código, mas confiança.

Continua...

Tiago Fernandes de Campos
Tech Lead e engenheiro de software que atua na interseção entre IA, fundamentos de engenharia e liderança sistêmica, construindo pontes entre pensamento técnico e visão humana.

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