A história da cibersegurança é marcada por episódios em que indivíduos com habilidades extraordinárias desafiaram sistemas considerados invioláveis. Alguns desses hackers, movidos por curiosidade, ética ou desejo de melhorar a segurança digital, acabaram protagonizando casos que mudaram a forma como governos e empresas lidam com a proteção de dados.
Jonathan James: o adolescente que invadiu a NASA
Em 1999, Jonathan James, conhecido online como “c0mrade”, tornou-se o primeiro menor de idade condenado por crimes cibernéticos nos Estados Unidos. Com apenas 15 anos, ele conseguiu acessar servidores da NASA e do Departamento de Defesa dos EUA. Usando um backdoor, interceptou mais de 3.000 e-mails e obteve credenciais de acesso de funcionários. Ele também baixou software avaliado em US$ 1,7 milhão, usado para controlar elementos físicos da Estação Espacial Internacional. A NASA precisou desligar seus sistemas por três semanas, gerando um prejuízo de mais de US$ 40 mil.
O vírus Melissa: um ataque que paralisou redes globais
Criado por David L. Smith em 1999, o vírus Melissa foi um dos primeiros malwares a se espalhar em larga escala por e-mail. Disfarçado como um documento do Word, o vírus se autoenviava para os primeiros 50 contatos do Outlook da vítima. A propagação foi tão rápida que afetou redes corporativas, incluindo a Microsoft e o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Embora Smith tenha sido preso, o impacto do Melissa levou empresas a repensarem suas políticas de segurança e a investirem em sistemas de detecção de ameaças.
Gary McKinnon: o hacker que buscava OVNIs
Entre 2001 e 2002, o britânico Gary McKinnon invadiu 97 computadores pertencentes ao governo dos EUA, incluindo sistemas da NASA e do Pentágono. Seu objetivo declarado era encontrar provas de vida extraterrestre e tecnologias ocultas. Ele apagou arquivos críticos, desativou redes e deixou mensagens como “Seu sistema de segurança é uma piada”. O governo americano tentou extraditá-lo por anos, alegando que ele causou prejuízos de US$ 700 mil. McKinnon alegou que não causou danos intencionais e que agiu por curiosidade. O caso gerou debates sobre ética hacker, saúde mental e soberania digital.
Michael Calce (Mafiaboy): o jovem que derrubou gigantes da internet
Em 2000, Michael Calce, um adolescente canadense conhecido como “Mafiaboy”, lançou uma série de ataques DDoS (negação de serviço) contra sites como Yahoo!, eBay, CNN e Amazon. Usando redes de computadores zumbis, ele sobrecarregou os servidores dessas empresas, tornando seus serviços inacessíveis por horas. O ataque expôs a fragilidade da infraestrutura digital da época e levou o governo dos EUA a criar novas políticas de cibersegurança. Calce foi condenado, mas mais tarde tornou-se defensor da segurança digital, atuando como consultor e palestrante.
Chris Roberts: o hacker que invadiu aviões em voo
Chris Roberts é um pesquisador de segurança que ficou famoso por afirmar que conseguiu acessar sistemas de controle de voo de aeronaves comerciais através do sistema de entretenimento a bordo. Em 2015, ele foi interrogado pelo FBI após declarar que havia manipulado comandos de voo em pleno ar. Embora nunca tenha sido formalmente acusado, o caso levantou preocupações sobre a segurança dos sistemas embarcados em aviões modernos. Roberts defende testes rigorosos e transparência na indústria aeronáutica para evitar vulnerabilidades críticas.
Barnaby Jack: o hacker que fez caixas eletrônicos cuspirem dinheiro
Durante a conferência Black Hat em 2010, Barnaby Jack demonstrou como explorar vulnerabilidades em caixas eletrônicos para fazê-los liberar dinheiro sem cartão ou senha. O ataque, apelidado de “Jackpotting”, chocou o setor bancário e levou fabricantes a reforçarem a segurança de seus dispositivos. Jack também revelou falhas em dispositivos médicos, como marcapassos e bombas de insulina, mostrando que ataques cibernéticos poderiam ter consequências fatais. Sua atuação foi um marco na conscientização sobre segurança em dispositivos físicos conectados.
Marcus Hutchins: o herói do WannaCry
Em 2017, o ransomware WannaCry se espalhou pelo mundo, afetando hospitais, empresas e governos. Marcus Hutchins, um jovem pesquisador britânico, descobriu acidentalmente um “kill switch” no código do malware — um domínio não registrado que, ao ser ativado, interrompia a propagação do vírus. Sua ação rápida impediu que milhões de computadores fossem infectados. Mais tarde, Hutchins foi preso por envolvimento anterior com malwares, mas sua contribuição no caso WannaCry foi reconhecida como um ato de heroísmo digital.
.
.
.
.
.
.
Fábio Lúcio da Silva Souza
Top comments (0)